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REVISTA DA ARMADA | 547








              ACADEMIA DE MARINHA



              XVI SIMPÓSIO DE HISTÓRIA MARÍTIMA


              “FERNÃO DE MAGALHÃES E O CONHECIMENTO


              DOS OCEANOS”



                ubordinado ao tema “Fernão de Magalhães e o conheci-  Após as palavras de Abertura do Presidente da Academia de
              Smento dos oceanos”, decorreu na Academia de Marinha,   Marinha, Almirante Francisco Vidal Abreu, e do Presidente da
              de 19 a 21 de novembro, o XVI Simpósio de História Marí  ma,   Estrutura de Missão para as Comemorações do V Centenário
              tendo sido apresentadas 27 comunicações, de acordo com o   da circum-navegação comandada pelo navegador português
              programa.                                           Fernão de Magalhães (2019-2022), Dr. José Marques, seguiu-se
               Foi no ano de 1519 que Fernão de Magalhães deu início à sua   a conferência de Abertura, in  tulada “A viagem de Fernão de
              viagem em direção às Molucas, ao serviço da Coroa de Espa-  Magalhães e a redondeza da Terra”, pelo Prof. Doutor Francisco
              nha, seguindo a rota para Ocidente em busca de um outro   Contente Domingues.
              caminho para as tão desejadas “ilhas do cravo”. Fernão de   Assim, no primeiro dia de conferências foram abordados
              Magalhães não estava autorizado a navegar nos espaços do   alguns aspetos náu  cos da passagem do Estreito de Maga-
              Índico, os quais, pelo Tratado de Tordesilhas, eram da esfera de   lhães, tomando como base alguns relatos de cronistas contem-
              infl uência portuguesa. A nova rota visava prosseguir a expan-  porâneos do acontecimento. Os problemas relacionados com
              são anteriormente iniciada pelos Reis Católicos em 1492. Ao   a difi culdade na determinação da longitude e as propostas
              navegar pela zona mais meridional do con  nente americano,   apresentadas para a resolução da questão das Molucas foram
              evitando a barreira terrestre que o mesmo representava no   outro tema em análise. Foram explicados e analisados alguns
              caminho a Oeste, atravessando em extensão o oceano Pacífi co   dos percursos de pilotos portugueses envolvidos na viagem e a
              a nova rota fi cava inaugurada. Nesta longa e atribulada viagem   forma como o conhecimento foi explorado pelas potências que
              exercitou-se a “arte de navegar”, superando as difi culdades   queriam defender o seu poder e prosperidade do mar.
              náu  cas que o novo espaço oceânico desvendaria. Nele encon-  O segundo dia iniciou com uma refl exão crí  ca sobre a fi gura de
              traram-se outros povos, narraram-se percursos, transmi  u-se a   Magalhães e os seus feitos, a que se seguiu a análise das diferen-
              novidade...  Abriu-se o que alguns historiadores que se debru-  tes conceções geopolí  cas da conquista por parte de Portugue-
              çam sobre a História dos oceanos, nomeadamente do Pacífi co,   ses e Espanhóis. Analisou-se de seguida a evolução das a  vida-
   A          consideram ser uma “civilização sem centro”, um espaço oceâ-  des humanas nas costas atlân  cas da Patagónia e procedeu-se ao
              nico onde se desenvolveram múl  plos movimentos, desde os   estudo das observações sobre a fl ora exó  ca desconhecidas no
              económicos aos sociais e culturais, cujos inters  cios  importa   Ocidente registada por Pigaff eta no seu relato. Avançou-se ainda
              desvendar. Em 1522 o regresso a Sevilha da única nau sobre-  noutros domínios, como o da náu  ca, da cartografi a e da arte de
              vivente desta expedição, fi nalmente comandada por Sebas  ão   navegar, tendo estudado os roteiros de Gonzalo Gómez de Espi-
              de Elcano, reavivou a disputa que vinha sendo travada entre as   nosa e J. S. Elcano. Foram também abordados os condicionalis-
              coroas ibéricas rela  vamente à soberania sobre o arquipélago   mos   sicos do Pacífi co e a sua infl uência na viagem e na rota que
              das Molucas.  Permaneciam as questões em torno da delimita-  fi caria conhecida como a do Galeão de Manila.
              ção do meridiano completo da linha divisória estabelecida no   A passagem pelo Rio da Prata,  local onde se redirecionou o
              tratado de Tordesilhas, cuja demarcação inicial visava o espaço   rumo da viagem, também não foi esquecida.
              atlân  co.  Para além dos problemas técnicos que então se colo-  No úl  mo dia de Simpósio foram estudadas as relações entre
              cavam, como os em torno da medição das longitudes, as dis-  Portugal e Castela à data da realização da viagem. Abordou-
              putas diplomá  cas no seio do concerto das nações europeias   -se ainda a viagem no contexto da rivalidade luso-espanhola e
              prosseguiriam. A questão em torno desta viagem não se con-  retratou-se a arte em Lisboa do primeiro quartel do século XVI,
              fi na, porém, a contextos epocais, distendendo-se num tempo   a época que viu par  r Magalhães rumo à corte vizinha.
              longo, onde os olhares mul  disciplinares permitem compreen-  Na Sessão Solene de Encerramento do XVI Simpósio, presi-
              der o processo de homogeneização do espaço, cuja pedra de   dida pelo Vice-chefe do Estado-Maior da Armada, VALM  Novo
              fecho foi a viagem.                                 Palma, em representação do Almirante Chefe do Estado-Maior
               Assim, nestes três dias de Simpósio de História Marí  ma,   da Armada, foi apresentada a conferência “Depois da Grande
              onde se evocou a fi gura de Fernão de Magalhães, como navega-  Jornada. De Fernão de Magalhães a Sarmiento de Gamboa. As
              dor, e o conhecimento dos oceanos, foram deba  dos os temas   navegações castelhanas pelo Pacífi co e a defesa do Estreito Sul.
              da História dos Oceanos, da náu  ca, da cartografi a e da arte de   1522-1586”, pelo Professor Juan Marchena, a que se seguiram
              navegar, da viagem: antecedentes e prepara  vos e dos deciso-  os discursos do Vice-Presidente da Comissão Cien  fi ca,  Prof.
              res e agentes históricos, que, a par  r de 1519-1522, passaram a   Doutor Vítor Gaspar Rodrigues, e do Presidente da Academia
              ser parte integrante da História Global da Humanidade.   de Marinha, ALM   Vidal Abreu.


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