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REVISTA DA ARMADA | 549



























               Assinatura da noƟ fi cação para estabelecimento de uma Cooperação Estruturada Permanente (13 de dezembro de 2017)

              Defesa, em junho de 2017, que trouxe importantes incenƟ vos   •  Aumento dos projetos conjuntos e colaboraƟ vos em matéria
              fi nanceiros, traduzindo também a crescente perceção europeia   de capacidades estratégicas de defesa;
              de que a Cooperação Estruturada Permanente consƟ tuía  uma   •  Aumento das despesas consagradas à invesƟ gação e à tecno-
              oportunidade de ouro para o desenvolvimento da indústria euro-  logia em matéria de defesa; e
              peia de defesa, miƟ gando a forte pressão exercida pela indústria   •  Apoio substancial às operações e às missões da PCSD, com
              norte-americana. Neste quadro, o Fundo Europeu de Defesa pos-  pessoal, material, formação e infraestruturas, inter alia.
              sui duas vertentes disƟ ntas, mas complementares, abrangendo
              todo o ciclo do desenvolvimento industrial de defesa, desde a   O plano de implementação desses compromissos é fl exível, sig-
              invesƟ gação até à colocação dos produtos no mercado: a ver-  nifi cando isto que os EM são os únicos responsáveis pela defi ni-
              tente de InvesƟ gação e a vertente de Capacitação. A vertente de   ção do plano para alcançarem estes objeƟ vos ambiciosos, meto-
              InvesƟ gação seria inteiramente  fi nanciada pelo orçamento da   dologia que contribuiu sobremaneira para que este processo
              UE e promoveria projetos inovadores em regime colaboraƟ vo,   assumisse uma natureza inclusiva, tal como é comprovado pela
              sendo fi nanciada com 90 M€ em 2019 e 500 M€ anuais a parƟ r   adesão de 25 EM. A inclusividade acaba por ser, pois, a principal
              de 2020. Já a vertente de Capacitação, compreendendo o desen-  caracterísƟ ca do espírito da edifi cação de capacidades na UE, pri-
              volvimento e a aquisição de capacidades, dependeria maiorita-  vilegiando uma aproximação boƩ om-up (ao contrário da NATO,
              riamente das contribuições dos EM, sendo fi nanciada com um   em que o respeƟ vo processo de planeamento de capacidades é
              total de 500 M€ em 2019 e 2020. Aquando do anúncio da criação   top-down).
              do Fundo Europeu de Defesa, a Comissão Europeia esƟ mou que   Esta aproximação acabou por afastar a ideia, que estava de
              a ausência de cooperação entre os EM no domínio da segurança   alguma forma subjacente ao Tratado de Lisboa, de consƟ tuir
              e da defesa teria um custo esƟ mado anual entre 25 000 milhões   um núcleo-duro de EM mais empenhados no aprofundamento
              e 100 000 milhões de Euros, adiantando que seria possível pou-  da “Europa da Defesa”. O BREXIT acabou por ter uma infl uência
              par até 30% da despesa anual com a defesa através de programas   mista neste processo. Por um lado, em matérias de segurança e
              de aquisição conjuntos.                             defesa, o Reino Unido sempre privilegiou a NATO e a sua rela-
               Estavam assim criadas as condições para que, em 13 de novem-  ção especial com os Estados Unidos da América, em detrimento
              bro de 2017, 23 EM anunciassem a sua intenção de avançar com   de um maior aprofundamento de uma idenƟ dade  europeia
              uma Cooperação Estruturada Permanente, tendo-se-lhes jun-  autónoma. Dessa forma, o BREXIT libertou a UE de um poten-
              tado, em 7 de dezembro, a Irlanda e Portugal. Assim, por ocasião   cial travão ao aprofundamento da Cooperação Estruturada Per-
              da adoção da Decisão (PESC) 2017/2315, do Conselho da UE, de   manente. Por outro lado, o Reino Unido é uma das duas nações
              11 de dezembro, que estabeleceu uma Cooperação Estruturada   da Europa Ocidental com verdadeira capacidade de intervenção
              Permanente e determinou a lista de parƟ cipantes, constatou-se   militar global, pelo que a sua saída da UE esvaziou a eventual
              que apenas 3 EM fi cavam de fora: Malta, o Reino Unido, como   consƟ tuição de uma vanguarda na PCSD. Não espanta, por isso,
              consequência do BREXIT, e a Dinamarca, por não fazer parte da   que a insƟ tuição da Cooperação Estruturada Permanente tenha
              PCSD. A referida decisão veio, assim, revelar o empenhamento   seguido a preferência alemã por maior inclusividade, levando,
              políƟ co colocado em todo este processo, estabelecendo 20   inevitavelmente, a um ritmo mais lento no desenvolvimento da
              compromissos vinculaƟ vos, que detalham os 5 objeƟ vos conƟ -  cooperação. Tal como não espanta que a outra potência militar
              dos no Protocolo adicional ao Tratado da União Europeia rela-  europeia, além do Reino Unido (a França), tenha lançado recen-
              Ɵ vo à Cooperação Estruturada Permanente e que foram referi-  temente a IniciaƟ va de Intervenção Europeia, à margem da UE,
              dos no arƟ go do mês passado. De entre esses 20 compromissos   numa tentaƟ va de acelerar a integração nestas matérias, num
              destacam-se os seguintes, por terem maiores implicações nos   quadro mais ágil e fl exível.
              ciclos de planeamento de defesa militar e nos correspondentes
              sistemas de forças:                                                                       Sardinha Monteiro
               •  Aumento regular dos orçamentos de defesa em termos reais;                                      CMG
               •  Incremento sucessivo e a médio prazo das despesas de inves-                            Rodrigues Pedra
                 Ɵ mento na defesa para 20% do total das despesas;                                                CFR


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