Page 6 - Revista da Armada
P. 6

REVISTA DA ARMADA | 549





              O REENCONTRO DE PORTUGAL COM


              O MAR











































                 parƟ r do século XII Portugal iniciou o seu encontro com o   interesses nacionais ou, simplesmente, no cumprimento das
              A  mar, onde teve função importante a incorporação de três   obrigações que decorreram da submissão estratégica que o país
              acƟ vos estratégicos fundamentais (Lisboa-1147, Silves-1189 e   se viu forçado a manter com a Inglaterra, para preservar as coló-
              Alcácer do Sal-1217), que contribuíram para despertar e fomen-  nias e manter a sua independência.
              tar a mentalidade e a vontade maríƟ ma nacional, criando novas   O fi m do século XX trouxe a paz, oportunidade fundamental
              oportunidades para o país realizar acƟ vi dades determinantes do   para Portugal explorar os determinantes e as circunstâncias posi-
              seu desenvolvimento e da sua segurança.             Ɵ vas que permiƟ rão materializar um novo encontro com o mar!
               O surgimento de lideranças inovadoras e carismáƟ cas nos sécu-  Contudo, para que isso seja possível, importa idenƟ fi car aquilo
              los XIV e XV, permiƟ u estabelecer uma visão maríƟ ma para o   que precisamos fazer no tempo em que vivemos, para que os
              país, o que, aliado à celebração da paz com Castela em 1411,   nossos descendentes possam usufruir os beneİ cios do mar no
              contribuiu para moƟ var e mobilizar os Portugueses para um pro-  tempo que nos sobreviverá!
              jecto expansionista, que consubstanciou os feitos mais épicos da   Neste contexto, realça-se que o mar, no século XXI, coloca
              nossa história colecƟ va.                           ao País desafi os ambientais, culturais, políƟ cos,  económicos
               Em contraponto, entre os séculos XVI e XX, o país, por força das   e securitários, cuja superação requer, por um lado, uma abor-
              suas políƟ cas interna e internacional, foi assolado pelos efeitos   dagem holísƟ ca na elaboração da políƟ ca  maríƟ ma  nacional,
              perturbadores de várias circunstâncias deste período, nomeada-  de forma a permiƟ r, não só, idenƟ fi car e adoptar os objecƟ vos
              mente: a crise dinásƟ ca provocada pelo desastre de Alcácer-Qui-  nacionais, mas, também, edifi car, organizar e empregar os recur-
              bir; a perda da independência para Espanha; a restauração da   sos, as capacidades materiais e humanas, e as competências dis-
              independência; a subordinação securitária à Inglaterra; as inva-  poníveis, nas acções necessárias à sua concreƟ zação. Por outro
              sões francesas; a transferência da corte para o Brasil; o regresso   lado, implica, também, uma abordagem estratégica, que permita
              da corte a Portugal; a agitação políƟ ca e social que conduziu à   ligar e dinamizar as diversas perspecƟ vas de superação dos desa-
              instauração da República; a luta entre potencias europeias pela   fi os maríƟ  mos, no contexto dos processos desƟ nados a viabilizar
              hegemonia mundial; as profundas disputas ideológicas, guerri-  o uso do mar na justa medida dos interesses de desenvolvimento
              lhas políƟ cas, golpes militares e confl itos internacionais. Assim   e segurança de Portugal.
              foi o tempo em que Portugal se distanciou da visão maríƟ ma,   Esta dupla aproximação, holísƟ ca e estratégica, é determinante
              focalizando todos os seus recursos, capacidades e competên-  para assegurar a sustentabilidade, saƟ sfazendo as necessidades
              cias nos esforços políƟ co-militares, na procura de preservar os   do presente e preservando as das futuras gerações, assim como


              6    MARÇO 2020
   1   2   3   4   5   6   7   8   9   10   11