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REVISTA DA ARMADA | 549

Sobre o mar da Nazaré.

é essencial para garanƟ r a governança, com equilíbrio, entre o crescente despertar de consciência para estas matérias, envol-
Estado, a sociedade civil e o mercado a nível local, regional e vendo, é certo, algumas manipulações da opinião pública a este
internacional. Pela sua aplicação, vejamos algumas das principais respeito. É muito natural que, no futuro, se assista à imposição
medidas que Portugal poderá adoptar para superar os desafi os de sanções económicas, por uƟ lizações ambientalmente incon-
antes enunciados e, desta forma, reencontrar-se com o mar, num venientes e não sustentáveis, e que se chegue, eventualmente, à
século em que os Estados costeiros esgrimem argumentos para aplicação da força militar para impedir o uso abusivo do mar para
aproveitar, pacifi camente, a úlƟ ma oportunidade de se apropria- este Ɵ po de acƟ vidades.
rem de vastas extensões dos oceanos e dos seus recursos. Os desafi os culturais possuem um senƟ do fi losófi co, relacio-
Os desafi os ambientais decorrem, essencialmente, das ques- nado com vida intelectual e com o pensamento críƟ co e refl exivo
tões relaƟ vas à interação mar-terra, à poluição e à sobre-explo- sobre o mar, evidenciado no estudo das ciências e das artes, e
ração dos oceanos, qualquer delas capaz de degradar ou destruir traduzido por um estado de perfeição intelectual e moral rela-
os ecossistemas marinhos e de afectar a sobrevivência da Huma- Ɵ vamente ao mar. Por outro lado, também encerram um sen-
nidade, pois a vida no Planeta depende do mar, imensa fonte Ɵ do sociológico, referente aos esƟ los, aos métodos e aos valores
abastecedora de energia, água, oxigénio e recursos, suporte da materiais, assim como aos bens morais relacionados com o mar,
sobrevivência de centenas de milhões de pessoas e principal que releva na uƟ lização de objectos maríƟ mos e na adopção de
estabilizador do clima. Nestas circunstâncias, a superação dos hábitos maríƟ mos. Nestas circunstâncias, a superação dos desa-
desafi os ambientais para o reencontro de Portugal com o mar, fi os culturais para o reencontro de Portugal com o mar, implica
implica: regulamentar, vigiar, fi scalizar e controlar as acƟ vida- aprofundar a mentalidade e fortalecer a vontade maríƟ ma dos
des industriais maríƟ mas; conter os efeitos de perturbações portugueses, pelo desenvolvimento de senƟ mentos, ideias e
ambientais, em especial da poluição maríƟ ma; e usar mecanis- formas de senƟ r, bem como da inteligência para pensar e com-
mos internacionais para limitar a uƟ lização irracional dos ocea- preender o mar, promovendo uma literacia dos oceanos acƟ va
nos, preservando a sua sustentabilidade futura, em linha com e efecƟ va. Também exige o fomento dos recursos, das capacida-
a declaração, pela ONU, do próximo decénio (2021-2030), como des, das competências e das acƟ vidades, bem como preservar
a Década da Ciência e do Oceano para o Desenvolvimento Sus- o património cultural, tangível e intangível, e os esƟ los de vida
tentável. Neste contexto, é evidente que já existem críƟ cas nos maríƟ mos dos portugueses.
fora internacionais, há pressões diplomáƟ cas no senƟ do de uma Os desafi os políƟ cos decorrem do facto dos países desenvolvidos
uƟ lização mais sustentável do mar e também se idenƟ fi ca um estarem a procurar alargar as suas fronteiras no mar, ao mesmo

MARÇO 2020 7