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REVISTA DA ARMADA | 553
OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
E A ESTRATÉGIA NO PACÍFICO
5ª Parte
FOCO JAPONÊS NA EXPANSÃO PARA SUL
om o “Pacto AnƟ comintern”, assinado a 25 de novem-
Cbro de 1936, o Império do Japão e a Alemanha nazi
assumiam o compromisso de apoio mútuo na luta contra a
ameaça da “Internacional Comunista” (Comintern). O pacto
garanƟ a a capacidade de resposta coordenada do “Eixo” a
um ataque soviéƟ co, quer a leste quer a oeste, tratando
assim de impedir o avanço da União SoviéƟ ca e de revolu-
ções pró-comunistas na Europa e na Ásia. Com este passo,
o Japão Ɵ nha por objeƟ vo conter a União SoviéƟ ca, com a
qual agora comparƟ lhava uma fronteira de mais 2500 Km
na Manchúria.
De facto, o exército soviéƟ co era a maior ameaça à aven-
tura japonesa na China e, por isso, este pacto revesƟ a-se de
uma grande importância para a Grande Estratégia do Japão.
Contudo, esta estratégia fi cou seriamente compromeƟ da
quando, em junho de 1939, Hitler assinou com Estaline o
“Pacto de Não-agressão” sem avisar o seu aliado japonês. DR
Isto não só representava uma brecha no “Pacto AnƟ comin-
tern”, como, para a oligarquia japonesa, representava o surgimento – “Rainbow Three” – aplicava-se o plano “Orange”, com a condi-
de uma grande dose de incerteza e preocupação com a segurança ção de que a defesa do Hemisfério fosse primeiro garanƟ da, con-
da fronteira da Manchúria com a União SoviéƟ ca. forme previsto no “Rainbow One”.
Contudo, na sequência das vitórias alemãs na Europa em 1940, o – “Rainbow Four” – aplicava-se o “Rainbow One”, mas incluía a
Japão renovou os seus laços com as potências do “Eixo”, através da defesa de todo o Hemisfério Ocidental.
assinatura do “Pacto TriparƟ do”, em setembro de 1940, na esperança – “Rainbow Five” – previa operações ofensivas pelas forças ame-
de que isto também representasse uma nova aproximação à URSS . ricanas na Europa e em África, ou ambas. Teriam como aliados a
Esta estratégia Ɵ nha por objecƟ vo apaziguar as relações com a URSS , França e o Reino Unido .
por forma a garanƟ r novamente a paz na fronteira norte da Manchú- A políƟ ca americana para o Pacífi co em 1940 era, no mínimo, ambí-
ria e libertar, assim, as forças necessárias para iniciar a sua expansão gua, como resultado das fraquezas manifestadas por um governo
para sul. O “Pacto TriparƟ do” era também, de alguma forma, um aviso dividido, sendo que o problema não era a ausência de uma políƟ ca
para que os Estados Unidos (EUA) não interferissem na expansão do externa, mas a de muitas políƟ cas dentro da mesma administração.
Japão, sob pena de pagarem caro o atrevimento. A linha dura pressionava no senƟ do da aplicação de sanções eco-
nómicas e da demonstração de força contra o Japão. Outros que-
riam limitar os interesses dos EUA na Ásia e voltar a atenção para
DO PLANO “ORANGE” AOS PLANOS “RAINBOW”
a Europa. Por seu lado os militares estavam preocupados com uma
O ministro das Relações Exteriores do Japão terá dito a Hirohito guerra que, previam, iria acontecer antes que as Forças Armadas
que o “Pacto TriparƟ do” era uma “aliança militar contra os EUA ”. esƟ vessem preparadas. De 1939 a 1941 Roosevelt teve de gerir a
Este acordo Ɵ nha de facto impacto signifi caƟ vo na grande estraté- políƟ ca externa entre duas pulsões contraditórias: o desejo de man-
gia americana. Assim, ainda em fevereiro de 1938, numa revisão do ter o país fora da guerra e a vontade de contribuir para a derrota da
plano “Orange”, foi encarada e discuƟ da a hipótese, mais do que Alemanha nazi.
provável, de os EUA terem de combater uma guerra em dois ocea- A proteção do Hemisfério Ɵ nha sido a lógica subjacente aos pla-
nos. Este cenário fazia com que o pressuposto que serviu de base ao nos de rearmamento naval e era a principal prioridade dos planos
plano “Orange”, ou seja, uma guerra unilateral com o Japão, caísse “Rainbow”. A “Comissão Conjunta”, no seu primeiro relatório para o
por terra. Secretário da Marinha, no fi nal de agosto de 1939, Ɵ nha concluído
Com a eminência da guerra na Europa, a “Comissão Conjunta” que a Marinha não estava pronta para responder a emergências gra-
começou a elaborar planos que contemplavam a guerra entre os ves, um parecer repeƟ do no seu segundo relatório um ano depois.
EUA e eventuais coligações inimigas. Surgiram assim os designados Em 1940 e 1941, com o agravamento e a intensifi cação da guerra na
planos “Rainbow” de 1939. Estes planos esboçavam uma série de Europa e na Ásia, os EUA viram o seu leque de opções estratégicas
cinco alternaƟ vas em caso de guerra: cada vez mais reduzido. Na práƟ ca, o plano “Rainbow Five” acabou
– “Rainbow One” – guerra defensiva para proteger os Estados Uni- por consƟ tuir a base da grande estratégia americana na Segunda
dos e o Hemisfério Ocidental a norte dos 10° S de laƟ tude. Neste Guerra Mundial.
cenário os EUA não Ɵ nham aliados.
– “Rainbow Two” – idênƟ co ao “Rainbow One”, mas os EUA teriam Piedade Vaz
como aliados a França e o Reino Unido . CFR REF
16 JULHO 2020