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REVISTA DA ARMADA | 553

ESTÓRIAS 61

AZIMUTE RADAR AO PÔR-DO-SOL

o primeiro ano da Escola Naval, na cadeira de Navegação, ainda verão. O pôr-do-sol estava a aproximar-se. O cadete M. estava de
Nnão se dava teoria e operação do radar. No entanto, no decurso quarto à navegação, pelo que foi incumbido de calcular o azimute ao
da viagem de instrução, os cadetes começavam a ser instruídos na ocaso do sol, o que diligentemente fez. Só restava esperar pela hora
sua uƟ lização. Tratando-se de mancebia , cujos conhecimentos das certa, ir até à repeƟ dora da girobússola, e verifi car o azimute. Ora
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coisas do mar rondavam o zero, essa viagem proporcionava a apren- acontece que quando chegou o momento, o Sol resolveu deitar-se
dizagem de um conjunto de práƟ cas e conceitos que só mais tarde a descansar exatamente por detrás de um promontório na costa.
seriam ministrados formalmente, como foi o caso do radar. Pouco tempo depois, o cadete M. anunciou ao ofi cial de quarto
Outro conhecimento aprendido foi o cálculo do azimute das efe- qual o erro da giro , para espanto deste.
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mérides astronómicas do astro-rei, como sejam o seu nascimento – “Senhor cadete, explique-me lá, como é que calculou o erro
e ocaso, para o efeito uƟ lizando as famosas Tábuas NáuƟ cas, da giro?”
elaboradas pelo Comandante Fontoura da Costa, e ainda uƟ liza- – “Pelo azimute ao pôr-do-sol.”
das na nossa Marinha. O cálculo deste azimute permite aferir o – “Mas se o sol se pôs em terra, como conseguiu fazer isso?”
erro da girobússola, por comparação entre o valor calculado e o – “Fácil, senhor tenente: como o sol se pôs exactamente num
efecƟ vamente verifi cado. Para isso é preciso que a meteorologia promontório, fui ao radar, e Ɵ rei um azimute radar ao promontó-
e a geografi a ajudem, nomeadamente, através da ausência de rio e fi quei a saber o azimute do pôr-do-sol.”
nuvens ou terra no azimute onde o fenómeno irá ocorrer. Para Por piedade abstenho-me de dizer o que se seguiu na ponte da
que o procedimento seja efecƟ vo, também é preciso que o cál- Sagres, mas rapidamente chegou à câmara dos cadetes a noơ cia
culo do azimute seja bem feito, e que a sua leitura seja rigorosa e que o M. Ɵ nha Ɵ rado um azimute radar ao pôr-do-sol.
no momento exacto.
Se bem que ainda não Ɵ vesse sido ministrada a teoria radar, Mamede Alves
nas aulas de navegação costeira já ơ nhamos aprendido que se CFR
poderiam uƟ lizar azimutes radar a pontos conspícuos em terra N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfi co
para a determinação da posição, no entanto, por diversos moƟ -
vos que seria fasƟ dioso aqui expor, esses azimutes têm um erro
relaƟ vamente elevado, pelo que apenas devem ser uƟ lizados na Notas
Mancebo é a designação dada na Escola Naval a um aluno do primeiro ano. Man-
ausência de melhores alternaƟ vas. 1 cebia é o conjunto de alunos do primeiro ano.
A Sagres navegava ronceiramente no Mediterrâneo Ocidental, 2 Designação abreviada da girobússola.
junto à costa catalã, empurrada por um vento suave de fi nal do

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