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REVISTA DA ARMADA | 554


              OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

              E A ESTRATÉGIA NO PACÍFICO



              6ª Parte



              O FIM DA ERA DO COURAÇADO                           DE PEARL HARBOR A TÓQUIO
                 ataque do Kido Butai (força de porta-aviões sob o comando   Nas vésperas de Pearl Harbor, a esquadra dos EUA conƟ nuava
              O  do almirante Chuichi Nagumo:  Kaga,  Akagi,  Soryu,  Hiryu,   organizada segundo a tradição: a “Força de Batalha” (Ba  le Force)

              Shokaku e Zuikaku) a Pearl Harbor, a 07DEZ41, não tem paralelo   no Pacífico a “Força de Patrulha” (Scou  ng  Force) no AtlânƟ co.
              na historiografia da guerra naval. A projeção de uma força de   Após o ataque do Japão, foram nomeados novos responsáveis para

              porta-aviões, com vários navios de escolta e de apoio, a mais de   os dois principais Comandos Navais: para o CINCPAC, no Pacífi co,
              3500 milhas, exigiu um planeamento rigoroso e uma execução   o Almirante Chester William Nimitz; e para o CINCLANT, no Atlân-
              precisa. Esta operação, idealizada pelo almirante Isoroku Yama-  Ɵco, o Almirante Royal Eason Ingersol. Estes Comandantes Navais

              moto e planeada pelo CFR Minoru Genda, apesar de espetacular,   respondiam diretamente ao novo comandante da esquadra, o
              falhou nos seus propósitos estratégicos; ficou-se pela mera vitó-  Almirante Ernest J. King, que integrava o novo órgão de comando


              ria táƟca, sem outras consequências sérias a não ser a de provo-  superior das Forças Armadas, o Joint Chiefs of Staff (JCS). O JCS era

              car a determinação de um povo para se unir ao seu presidente,   responsável pela elaboração da Grande Estratégia, posta em práƟ ca
              na luta pela liberdade.                             após a aprovação do Presidente Franklin Delano Roosevelt.
               O Almirante Husband Edward Kimmel, com grande experiên-  Ao abrir as hosƟlidades no Pacífico, os japoneses fizeram-no de tal



              cia como ofi cial arƟ lheiro a                                                  forma rápida e contundente e
              bordo de couraçados e então                                                    sobre uma tão vasta área, que
              C omandante da Esquadra                                                        surpreenderam os americanos,

              do Pacífi co,  emiƟu o plano                                                    então mais focados nas Filipinas
              de operações “2M1” que                                                         e no Sudeste da Ásia. Quase em
              previa uma ação de superİ -                                                    simultâneo os japoneses ataca-
              cie de médio alcance, contra                                                   ram o Havai, as Filipinas, as ilhas
              a esquadra japonesa, algu-                                                     de Wake e Guam, Singapura,

              res no Pacífico central. Para                                                   Hong Kong, a Malásia e a Tailân-
              Trent Hone, que é um repu-                                                     dia. De facto, os primeiros cinco
              tado especialista em táƟ ca                                                    meses de guerra trouxeram
              naval, o plano era coerente,                                                   apenas derrotas e frustrações
              “estendendo-se para além                                                       aos países aliados. Tais foram
              da linha de batalha para                                                       os casos do afundamento de:
              abranger todos os aspetos                                                      dois navios da Royal Navy – o
              de um potencial envolvi-                                                       Prince of Wales e o Repulse – ao
              mento da esquadra. Foi con-                                                    largo de Singapura, a 19DEZ41;
              cebido para alavancar todos                                                    e de vários outros navios aliados
              os pontos fortes da esquadra,                                                  na “Batalha do Mar de Java”, a
              concentrando-se nos pontos                                                     27FEV42.
              fracos do inimigo; enfaƟ zava  a                                                Esta marcha triunfal do Japão
              coordenação de todas as armas;                                                só foi travada com a vitória estra-
              centrou-se na  fl exibilidade  táƟ ca  e                                      tégica americana na “Batalha do
              numa estrutura de comando descentra-              DR                        Mar de Coral”, em maio de 1942,
              lizada com base na iniciaƟ va individual.”                               que impediu o corte das comunicações

               Contudo, o contexto era outro. A era do couraçado Ɵ nha che-  maríƟmas entre os EUA e a Austrália, e com a derrota imposta pelas
              gado ao fim. A aurora do novo poder naval já se Ɵ nha manifes-  forças aeronavais de Nimitz à poderosa esquadra do Almirante Yama-

              tado em Taranto com a esquadra italiana, e no AtlânƟ co Norte   moto na “Batalha de Midway”, em junho do mesmo ano. Esta úlƟ ma
              com o Bismarck, provando que a velocidade e o alcance do braço   vitória, que do ponto de vista táƟco resultou na destruição do mais

              aéreo, juntamente com a deteção e localização do inimigo por   poderoso instrumento de guerra japonês, o Kido Butai, representou
              meio do RADAR, eram superiores à força esmagadora e cega da   estrategicamente o ponto de viragem da maré de desaires das forças
              linha de batalha de curto alcance, táƟ ca em vigor desde Lowes-  dos países aliados, permiƟndo a futura projeção dos meios aeronavais



              toŌ (1665) até à Jutlândia (1916).                  e anİbios que poriam fim a toda a resistência japonesa no Pacífi co e

               A liderança naval americana conƟnuava a subesƟ mar obsƟ na-  procederiam à aniquilação total da “Marinha Imperial Japonesa”.

              damente os novos instrumentos de guerra de que dispunha, os   A 2 de setembro de 1945, a bordo do couraçado Missouri, fun-
              quais não se coadunavam com os velhos padrões históricos da   deado na baía de Tóquio, era assinado o instrumento de rendição
              guerra naval. Isto apesar de todos os esforços no senƟdo de uma   incondicional do Japão.

              nova forma de pensar e agir. Enquanto Kimmel se preparava para
              o dia de ontem, o seu inimigo, Yamamoto, preparava-se para dar                                Piedade Vaz
              o golpe fatal com as armas do presente.                                                          CFR REF
                                                                                                        AGOSTO 2020  21
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