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REVISTA DA ARMADA | 556

               Durante o período críƟ co do combate à                 REQUISITOS BASE DA RESILIÊNCIA
              pandemia, as Forças Armadas Portuguesas                   Manter, em permanência, a capacidade de tomar decisões,
              apoiaram muito aƟ vamente as estruturas   1) ConƟ nuidade governaƟ va  comunicá-las e aplicá-las.
              de saúde pública e de proteção civil, con-  2)  Abastecimento resiliente   Assegurar que o abastecimento de energia – incluindo a(s)
              tribuindo para o 5.º requisito base da resi-  de energia   rede(s) elétrica(s) nacional(is) – é seguro.
              liência (Capacidade para lidar com baixas   3)  Capacidade para lidar com   GaranƟ r a capacidade de lidar de forma efeƟ va com o
              em massa), através de: acolhimento e tra-  movimentos de pessoas   movimento não controlado de pessoas em larga escala (mais
              tamento de idosos provenientes de lares   em larga escala   de 2% da população).
              onde havia infeções e de doentes infetados
              provenientes de hospitais civis; edifi cação   4)  Abastecimento  resiliente   Assegurar que o abastecimento é sufi ciente para civis e
                                                   de alimentação e de água
                                                                        militares e está protegido contra disrupção ou sabotagem.
              de hospitais de campanha, postos médi-
              cos avançados e centros de acolhimento;   5)  Capacidade para lidar com   Assegurar que os sistemas de saúde conseguem lidar com
              produção de gel desinfetante; processa-  baixas em massa  as situações mais exigentes, em que pode haver pressão
                                                                        simultânea sobre as capacidades sanitárias civis e militares.
              mento de testes à COVID-19; alojamento
              de profi ssionais de saúde civis em unidades   6)  Serviços de comunicações   Assegurar que as telecomunicações e redes cibernéƟ cas
              militares; gestão da reserva estratégica de   civis resilientes  (incluindo 5G) se mantêm funcionais, mesmo em condições
              medicamentos e de outro material sanitá-                  exigentes e sob ataque.
              rio; armazenamento e gestão do material   7)  Sistemas de transportes   Assegurar que as forças militares podem movimentar-se
              doado ao Serviço Nacional de Saúde; trans-  civis resilientes  rapidamente e que as redes de transportes civis permanecem
              porte de material sanitário para as ilhas;                funcionais, mesmo sob pressão ou ataque.
              descontaminação de viaturas de emer-
              gência médica e de infraestruturas, como   de energia, de telecomunicações ou de   (que tem um papel fundamental na
              centros de saúde, lares e escolas; e desen-  abastecimento de água e alimentos. Assim,   gestão de crises globais), com a NATO
              volvimento de projetos de inovação relacio-  as Forças Armadas devem, não só incre-  (com a qual Portugal se comprometeu
              nados com equipamento e material sanitá-  mentar a capacidade militar neste âmbito,   a cumprir os requisitos base da resi-
              rio. Além disso, as Forças Armadas deram   como também colaborar na resiliência   liência) e com a UE (parƟ cularmente
              um contributo para o 1.º requisito base da   nacional, no seu todo, fortalecendo o seu   indicada para lidar com o setor civil,
              resiliência: ConƟ nuidade governaƟ va (atra-  contributo para a preparação do setor civil.   que suporta boa parte dos requisitos
              vés da assessoria aos Secretários de Estado   Daqui resultam três linhas de ação impor-  base da resiliência).
              nomeados para coordenar regionalmente o   tantes para o futuro das Forças Armadas:  Em suma, a atual pandemia está a cons-
              combate à pandemia e da disponibilização   •  Aumentar a coordenação com os outros   Ɵ tuir um importante teste à resiliência de
              de infraestruturas para operação de órgãos   atores que contribuem para a resposta   todos os países e das principais organiza-
              do governo, em caso de necessidade), para   nacional a ameaças híbridas, incluindo:  ções internacionais. E, como disse o céle-
              o 4.º requisito base:  Abastecimento  resi-  –  EnƟ dades estatais, como o Sistema   bre economista Paul Romer, na frase que
              liente de alimentação e de água (através   de Informações da República Portu-  serve de epígrafe a est e arƟ go: “é terrível
              do fornecimento de alimentação a pessoas   guesa, as Forças e Serviços de Segu-  desperdiçar uma crise”, pelo que as For-
              sem-abrigo e do transporte de bens ali-  rança, a Autoridade Nacional de   ças Armadas devem procurar consolidar
              mentares entre o conƟ nente e os arquipé-  Emergência e Proteção Civil, o Centro   as linhas de ação acima enunciadas para
              lagos) e para o 7.º requisito base: Sistemas   Nacional de Cibersegurança ou o Ser-  darem um contributo cada vez mais credí-
              de transportes civis resilientes (através do   viço Nacional de Saúde, entre outros;  vel num ambiente de segurança complexo,
              repatriamento de cidadãos nacionais e do   –  Setor privado, especialmente nas   em que muitas das respostas serão cada
              transporte de doentes e de carga entre o   áreas das telecomunicações, do trans-  vez menos exclusivamente militares. Tudo
              conƟ nente e os arquipélagos e, também,   porte e da energia; e       isto sem esquecer que o recrudescimento
              inter-ilhas). Estas foram as vertentes da resi-  –  Academia, sobretudo na área da ciber-  da confrontação geoestratégica entre gran-
              liência em que, durante a crise em apreço,   segurança.               des potências, como EUA, China e Rússia,
              o país necessitou do apoio das suas Forças   •  Ajustar as estratégias relaƟ vas à edifi ca-  irá obrigar ao aprofundamento das capaci-
              Armadas, mas estas possuem capacidades –   ção, estruturação e emprego dos meios   dades militares tradicionais.
              nomeadamente em termos de apoio militar   militares. Assim, no domínio genéƟ co, é
              de emergência, engenharia militar, trans-  necessário avaliar a necessidade de edi-       Sardinha Monteiro
              porte estratégico, mobilidade militar, apoio   fi car novas capacidades ou de adaptar               CMG
              médico-sanitário, ciberdefesa e comunica-  algumas das existentes. No plano estru-
              ção estratégica – que lhes permitem dar um   tural, importa adotar modelos de orga-
              contributo efeƟ vo para todo o espectro da   nização mais ágeis e mais resilientes,   Agradecimentos
              resiliência nacional.                baseados em conceitos como o  Agile   Muitas das ideias veiculadas neste arƟ go foram
                                                   ou a  Smart Simplicity, facilitadores da   amadurecidas em conversas com o CALM RES
                                                   adaptação e da reconfi guração rápida.   Gameiro Marques (Autoridade Nacional de
              CONSIDERAÇÕES FINAIS                                                    Segurança) e com alguns camaradas do Curso
                                                   No âmbito operacional, urge incre-  de Promoção a Ofi cial General, concretamente
               Como se percebeu e conforme decorre   mentar o treino e o empenhamento   com o COR PILAV Lourenço da Costa, o COR INF
              das sistemaƟ zações da NATO e da UE, a   interagências, de forma a permiƟ r uma   Costa Santos, o CMG Cavaleiro Ângelo e o COR
                                                                                      CAV Graça Talambas, no âmbito da preparação
              resiliência extravasa largamente a compo-  colaboração mais efeƟ va na resposta a   de um capítulo do livro que o InsƟ tuto Universi-
              nente militar, assentando num conjunto de   ataques híbridos.           tário Militar oportunamente dedicou às implica-
              capacidades civis críƟ cas, que é necessário   •  ArƟ cular estratégias e modelos de   ções estratégicas da pandemia da COVID-19. A
                                                                                      todos, agradeço os momentos de franca discus-
              manter e proteger (a par das capacidades   atuação com as organizações interna-  são e troca de ideias.
              militares), tais como redes de transportes,   cionais, nomeadamente com a ONU


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