Page 8 - Revista da Armada
P. 8

REVISTA DA ARMADA | 556

                                                                                     Fora do submarino a segurança dos
                                                                                    “escapados” era garanƟ da por uma equipa
                                                                                    de dois mergulhadores que esperavam
                                                                                    pelos militares junto à escoƟ lha e que os
                                                                                    acompanhavam à superİ cie, onde um
                                                                                    recuperador os recolhia num bote e os
                                                                                    levava ao posto médico.

                                                                                    OUTROS TREINOS  EQUIPA
                                                                                    DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE
                                                                                     Os oito militares saíram do submarino
                                                                                    por AL simulando as mais prováveis doen-
                                                                                    ças, para verifi car a resposta das equipas
                                                                                    de Comando e Controlo e Médica.
                                                                                     A fase médica desta operação iniciou-se
                                                                                    com a avaliação do estado geral dos “esca-
                                                                                    pados” pelo enfermeiro embarcado no
               Parte emersa da torre do NRP Tridente.                               bote. Já em terra, seguiu-se a triagem, rea-
                                                                                    lizada por médico e enfermeiro com for-
              MANOBRA DE AL                                       mação em medicina hiperbárica; uma vez estabelecida a gravidade
                                                                  do quadro clínico dos militares, estes foram encaminhados para o
               Após o teste anterior, iniciou-se a AL dos “escapados”. Eis, resu-  local mais adequado para o seu tratamento (que pode ser no pró-
              midamente, como a manobra é feita:                  prio disposiƟ vo montado, ou num hospital de retaguarda). Estes
               – Primeiro o “escapado” veste o fato de escape, especialmente   locais estavam devidamente idenƟ fi cados por cores, consoante
              concebido para ter fl utuabilidade posiƟ va e para resisƟ r à pres-  a gravidade clínica, e guarnecidos por médicos e enfermeiros
              são hidrostáƟ ca exterior. Para além de conter uma balsa indivi-  especialistas em medicina hiperbárica; estes profi ssionais  estão
              dual, o fato possibilita a criação de uma bolha de ar em redor do   naturalmente cientes da premente necessidade em assegurar per-
              tronco superior e cabeça do submarinista, para que este possa   manentemente e em tempo real o apoio aos submarinistas e mer-
              respirar durante todo processo de ascensão, que se pretende ser   gulhadores. Um dos mais importantes meios de que devem dispor
              o mais rápido possível.                             à mão é a câmara hiperbárica portáƟ l. Numa situação real, para
               – De seguida o militar entra no tronco, enche o fato com ar e é   evitar o efeito nefasto das bolhas gasosas atrás referidas, é fun-
              fechada a escoƟ lha inferior .                      damental colocar o mais rapidamente possível os submarinistas
                                   8
               – O tronco é alagado com água do mar, após o que é iniciada a   acidentados nesta câmara de recompressão. Cada minuto conta!
              fase de equilíbrio de pressões; nesta altura o submarinista “esca-  Quanto mais célere for a recompressão do acidentado, melhor é o
              pado”, dentro do tronco, passa a estar sujeito à pressão exterior.   prognósƟ co clínico e maiores as hipóteses de sobrevivência.
              Esta é uma das fases mais delicadas e perigosas do processo.   Durante o exercício foram simulados diversos problemas clínicos
               – Com o equilíbrio alcançado, o pouco ar ainda existente no   – a Doença de Descompressão, a embolia gasosa, o barotrauma-
              tronco e a bolsa de ar do fato do militar forçam a abertura da   Ɵ smo pulmonar (que jusƟ fi cou uma “evacuação para hospital”).
              escoƟ lha superior (previamente destrancada antes do início do   Felizmente todos os “acidentados” recuperaram totalmente e,
              processo) e o militar ascende de forma natural à superİ cie.  como “sequelas”, fi caram apenas com a memória de uma expe-
               – Para que a rápida expansão do volume de ar dentro dos seus   riência inesquecível e com o conhecimento práƟ co adquirido.
              pulmões não provoque danos, o “escapado”
              exala ar durante a ascensão.
               Este úlƟ mo passo é o mais arriscado já que,
              numa situação real, pode ser fatal. A elevada
              pressão hidrostáƟ ca a que os submarinistas
              são expostos, ao saírem do submarino, faz
              com que os gases respirados (principal-
              mente o azoto) se dissolvam no sangue e
              nos vários tecidos corporais. Em seguida, a
              redução brusca da pressão hidrostáƟ ca que
              se verifi ca ao subirem até à superİ cie pro-
              voca a libertação desses gases em forma de
              bolhas. Essas bolhas provocam lesões nos
              vários órgãos do corpo (a chamada Doença
              de Descompressão) e também embolias
              gasosas (as artérias são obstruídas por
              bolhas gasosas). Por outro lado, o aumento
              rápido do volume dos gases em vários com-
              parƟ mentos corporais (pulmões, sistema
              digesƟ vo, seios perinasais ...) durante aquela
              subida pode também ser extremamente
              grave (provocando barotraumaƟ smos).  Trazendo os “escapados” para o cais.


              8    NOVEMBRO 2020
   3   4   5   6   7   8   9   10   11   12   13