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REVISTA DA ARMADA | 557

              A ESQUADRA AMERICANA DA ÁSIA




              GRANDE HETEROGENEIDADE E DISPERSÃO                  cargo o Almirante Harry Ervin Yarnell (1875-1959). A Esquadra era
              DE MEIOS                                            pequena, consisƟ ndo, para além do Augusta, no cruzador ligeiro
                                                                  USS Marblehead (CL-12), 13 contratorpedeiros do tempo da Grande
                 s avanços dos Estados Unidos (EUA) deram-se numa época rela-  Guerra, 6 submarinos, vários navios auxiliares, uma esquadrilha
              OƟ vamente recente na história do domínio colonial ocidental   de 36 aviões de patrulha maríƟ ma e o 4º Regimento de Fuzileiros
              da Ásia, iniciada vários séculos antes por portugueses, holandeses,   Navais, com cerca de 1.000 efeƟ vos, baseado em Xangai. Para além
              ingleses e franceses. Cronologicamente, a extensão das aƟ vidades   do comando destas unidades, Hart era responsável pelas instalações
              americanas na região da Ásia e do Pacífi co foi acompanhada pelos   navais dos EUA nas Filipinas, que se estendiam por mais de 1.000
              esforços do Japão na obtenção de uma posição colonial semelhante   milhas para sul da base naval de Cavite, na baía de Manila.
              no Extremo Oriente. Os americanos arrebataram as Filipinas à Espa-  Logo que assumiu o comando, o Almirante Hart tomou medidas
              nha e anexaram o Havai no fi nal do século XIX. Os japoneses, que   no senƟ do de preparar as suas forças para um confl ito que se apro-
              fi caram com um pé no sul da Manchúria após a vitória sobre a Rússia,   ximava a passos largos. Foi devido a estas medidas que a sua Esqua-
              em 1905, começaram então a sonhar com um bloco económico, sob   dra foi das poucas forças Aliadas no Pacífi co a não ser surpreendida
              a sua hegemonia, no Leste da Ásia.                  em dezembro de 1941, tendo resisƟ do, praƟ camente incólume, aos
               Durante as primeiras quatro décadas do século XX, uma força naval   ataques iniciais do Japão. Contudo, devido aos conƟ nuados e bem
              subdimensionada da Marinha dos EUA,  Ɵ nha duas tarefas princi-  sucedidos ataques japoneses na Ásia e no Pacífi co, a situação desta
              pais: apoiar a diplomacia americana; e preparar-se para uma guerra   força alterou-se profundamente.
              convencional com o Japão. Se a primeira era de diİ cil execução, a   Com o ataque a Pearl Harbor os americanos fi caram sem margem
              segunda era impossível de concreƟ zar. Na verdade a “AsiaƟ c Fleet”,   de manobra estratégica para pôr em práƟ ca o “Plano Laranja” (“Plan
              como era designada, não passava de uma FloƟ lha com uma organiza-  Orange”), ou seja, enviar uma força naval robusta para socorrer as
              ção de pendor administraƟ vo, consƟ tuindo um dos pilares da diplo-  Filipinas. Com o afundamento do couraçado HMS Prince of Wales e
              macia americana na Ásia. Consta que o seu úlƟ mo Comandante, o   do cruzador HMS Repulse, ao largo de Singapura, foram eliminadas
              Almirante Thomas Charles Hart (1877-1971), Ɵ nha mais solicitações   as duas unidades navais mais valiosas que poderiam fazer parte de
              do Departamento de Estado do que do Departamento da Marinha.  uma eventual esquadra Aliada combinada, cuja missão seria impe-
               Por outro lado, esta esquadra era consƟ tuída por um conjunto   dir a progressão das forças japonesas para sul da chamada “Barreira
              heterogéneo de navios, cujas missões iam desde a patrulha do rio   da Malásia”.
              Yangtsé à vigilância da costa da China, passando por mostrar a ban-  A exoneração do Almirante Hart em meados de fevereiro de 1942,
              deira nos vários portos da Ásia, nomeadamente no Japão e na China.   as difi culdades de integração das comunicações e dos procedimen-
              Em Washington, contudo, manƟ nha-se a ilusão de que uma força   tos táƟ cos de navios de diferentes marinhas sem treino de conjunto
              naval, confi gurada para missões de diplomacia em tempo de paz,   e a miopia estratégica, foram os ingredientes que conduziram ao
              podia ser, rapidamente e em tempo úƟ l, converƟ da numa força ope-  desastre das forças navais Aliadas na batalha do Mar de Java a 27 de
              racional treinada e preparada para operações em tempo de guerra.  fevereiro de 1942. Com o afundamento de vários dos seus navios, a
                                                                  Marinha am ericana sofreu uma das mais pesadas derrotas da sua
              O DESASTRE ANUNCIADO                                história e, como consequência, a Esquadra Americana da Ásia dei-
                                                                  xou de exisƟ r.
               No dia 25 de julho de 1939, o Almirante Thomas Hart assu-
              miu o comando da Esquadra a bordo do navio-chefe, o cruzador                                  Piedade Vaz
              USS Augusta (CA-31), fundeado na baía de Xangai, subsƟ tuindo no                                 CFR REF

                                                                                                                   DR

























               Um dos 156 contratorpedeiros da classe Clemson; pertencendo à AsiaƟ c Fleet, repele um ataque aéreo japonês a 28 de dezembro de 1941.



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