Page 22 - Revista da Armada
P. 22

DR

                  REVISTA DA ARMADA | 558





















                LYNX DA MARINHA ALEMÃ



                EMBARCADO NO NRP CORTE-REAL




              Durante três semanas esteve embarcado, a bordo do NRP Corte-Real, um helicóptero Lynx Mk88A da Marinha da Ale-
              manha. O embarque de um destacamento de helicópteros de uma marinha aliada, sendo um facto inédito na nossa
              Marinha, também não é muito usual a nível internacional. A ơ tulo de curiosidade, refi ra-se que em 2012, aquando da
              transição das aeronaves Lynx para as NH90, não foi possível corresponder ao convite da Marinha dos Países-Baixos para
              um destacamento português, operando um helicóptero Lynx MK95, embarcar numa fragata holandesa.

              GÉNESE E PREPARAÇÃO                                 car um destacamento de helicópteros alemão a bordo durante o
                                                                  empenhamento como navio-almirante do SNMG1.
                 o âmbito do processo negocial para a colocação temporária   O facto de ter um destacamento de helicópteros embarcado é,
              Nde pilotos da Marinha Portuguesa em esquadrilhas de heli-  por si só, um fator de enorme responsabilidade, obrigando a um
              cópteros congéneres, foi contactada a Marinha da Alemanha,   acrescido rigor, atenção ao detalhe, competência e profi ssionalismo,
              através do seu adido naval em Portugal; foi de imediato mani-  estando dependente de inúmeros intervenientes, internos e exter-
              festado interesse em embarcar um destacamento de helicóptero   nos ao navio. As fases de planeamento e de preparação são assim
              alemão numa fragata portuguesa. As vantagens em termos de   cruciais para que, aquando da execução, todos os requisitos estejam
              interoperabilidade e de fortalecimento de laços entre as duas   saƟ sfeitos, sejam eles relacionados com a segurança das operações
              marinhas eram óbvias, pelo que mereceu uma rápida aprovação   de voo ou com o emprego da aeronave embarcada. Neste caso par-
              dos respeƟ vos comandos superiores.                 Ɵ cular acrescia o fato de ser um acontecimento inédito na nossa
               O processo, conduzido pela Divisão de Relações Externas do Esta-  Marinha, a barreira da língua e a necessidade de avaliar, interpretar
              do-Maior da Armada, levou à assinatura, em junho, de um Techni-  e harmonizar as diferenças existentes ao nível doutrinário e de pro-
              cal Arrangement entre os Ministros da Defesa de ambos os países,   cedimentos entre as duas marinhas.
              estabelecendo os termos de emprego do destacamento alemão   Julgo ser consensual que operar helicópteros no mar é uma ope-
              a bordo do navio português atribuído à SNMG1, as relações de   ração complexa, que obedece a critérios minuciosos e a múlƟ plos
              comando e disciplinares, regras de segurança e aspetos logísƟ cos.   fatores que têm obrigatoriamente que exisƟ r, os chamados NO GO
               O planeamento e a preparação da missão foram executados   items, sob pena de inviabilizar as operações de voo.
              seguindo a doutrina da NATO produzida pelo Helicopter Opera  ons   Nestes fatores incluem-se as “facilidades de aviação” consƟ tuídas
              from Ships Other Than Aircra   Carriers Working Group (HOSTAC),   pelos equipamentos e sistemas existentes a bordo, através dos quais
              no qual a Marinha é representada pela Esquadrilha de Helicóp-  o navio apoia as operações com aeronaves, seja ao nível da Ɵ pologia
              teros. Para assessorar na preparação do navio e facilitar a ligação   de missão da aeronave, seja da capacidade de apoio à manutenção
              entre o comando e o destacamento, foi nomeada uma equipa de   e regeneração do potencial de voo das mesmas.
              ligação consƟ tuída por um ofi cial piloto (Flight Commander), um   Estes equipamentos e sistemas estão sujeitos a um processo de
              sargento chefe de manutenção de helicópteros (SMR) e uma praça   cerƟ fi cação e inspeção, para que possa ser emiƟ do um cerƟ fi cado
              da classe de mergulhadores para integrar a tripulação do Lynx ale-  de “facilidades de aviação”, o que só é possível com o contributo
              mão com recuperador-salvador.                       de todos os departamentos de bordo, numa atempada sinergia que
               A parƟ r daqui a história passa a ser contada por aqueles que   permita garanƟ r a conơ nua operação de helicópteros a bordo.
              viveram no mar esta experiência inédita.              O fator humano é igualmente essencial. Existem inúmeros interve-
                                                                  nientes diretos na realização das operações de voo, referindo ape-
              O COMANDANTE DO NAVIO                               nas alguns próprios do navio, o Helicopter Controller, o Flight Deck
                                                                  Offi  cer e a Equipa do Convés de Voo, o Ofi cial de Quarto à Ponte,
                          “Foi inicialmente com um senƟ mento de surpresa,   o Ofi cial de Operações de Voo, o Ofi cial de Ação TáƟ ca, o Ofi cial
                         rapidamente orientado para espírito de missão, que   Navegador, o Ofi cial de Operações, o Imediato e o Comandante. Na
                         o NRP Corte-Real recebeu a noơ cia do desenvolvi-  base do seu adequado desempenho temos os diversos cursos de
                         mento de conversações com o propósito de embar-  formação necessários, o treino, a sua experiência em operações de


              22   JANEIRO 2021
   17   18   19   20   21   22   23   24   25   26   27