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REVISTA DA ARMADA | 560
A LISBOA-FUNCHAL
dois requisitos: a aquisição de uma aeronave apropriada para a as técnicas uƟ lizadas pela navegação maríƟ ma são aplicáveis e
viagem; e o desenvolvimento de um método que permiƟ sse a uma sufi cientes.
aeronave navegar em pleno oceano sem referências no terreno. Por esta altura Gago CouƟ nho estaria já a estudar o desenvol-
vimento de um sextante de horizonte arƟ fi cial e acabou por reo-
rientar o seu trabalho no senƟ do de o tornar aplicável à navega-
REQUISITOS DA VIAGEM MODIFICAÇÃO ção aérea. Em setembro de 1919 tem já pronto o seu “astrolábio
DO SEXTANTE de precisão”. Este sextante foi modifi cado adotando uma solução
Presumimos que Sacadura Cabral não terá considerado outra geométrica genial: introduziu uma bolha de nível, posicionada
opção para além de convidar o seu anƟ go chefe das campanhas de tal modo que a distância do olho do observador à imagem
geodésicas em África, o Comandante Gago CouƟ nho, para jun- refl eƟ da da bolha era igual ao raio do mesmo nível. Este arƟ İ cio
tos cogitarem um método de navegação. Terá sido logo em maio fazia com que nas oscilações do instrumento, os movimentos das
de 1919 que Gago CouƟ nho começou a abordar o problema imagens refl eƟ das do astro e da bolha Ɵ vessem a mesma ampli-
da navegação aérea, uma área sobre a qual já exisƟ a bastante tude, eliminando assim as difi culdades de que se queixavam os
bibliografi a, mas no que respeitava à navegação oceânica, era navegadores a respeito dos sextantes americanos e britânicos.
ainda muito conceptual.
Consultando os primeiros manuais de navegação aérea, nota-se REQUISITOS DA VIAGEM OS MEIOS AÉREOS
que embora estes apresentem técnicas avançadas de navegação
com referências visuais no terreno (povoações, linhas de água, Por seu lado, Sacadura Cabral parƟ u em julho de 1919 para a
ferrovias, etc.), no que diz respeito à navegação oceânica sem França, Itália e Grã-Bretanha, para adquirir a aeronave para o voo
referências, tendem a insinuar que até à navegação radiogonio- Lisboa-Rio. O aviador desejava tentar o raid até março de 1920 e,
métrica estar sufi cientemente desenvolvida, a solução passará para tal, pretendia um hidroavião com capacidade e fi abilidade para
por se uƟ lizar navegação astronómica, deixando subjacente que voar as 1620 milhas que separam a Praia (Cabo Verde) de Pernam-
buco. Poucas semanas depois descobriu que as aeronaves com estas
caracterísƟ cas estavam ainda em fase de projeto… Embora Sacadura
Cabral refi ra a possibilidade de fazer escala na ilha de Fernando
Noronha, para reduzir em 300 milhas este voo, reconhece também
Foto Direção Regional do Arquivo e Biblioteca da Madeira
MARÇO 2021 13