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REVISTA DA ARMADA | 560


              GUERRA NO PACÍFICO


              NOME DE CÓDIGO: SHANGRI-LÁ




              PREPARAÇÃO DA RETALIAÇÃO                            sudoeste, dirigindo-se a bases e aeródromos em território chinês.
                                                                  No entanto, como Ɵ nham sido lançadas mais cedo e, portanto, a
                 uas semanas após o ataque japonês de 7 de dezembro de   maior distância dos alvos, acabaram por fi car sem combusơ vel antes
              D1941, o Presidente Franklin Roosevelt (1882-1945) informou os   de alcançar os aeródromos chineses, forçando as tripulações a lan-
              Comandantes do Exército, da Marinha e da Força Aérea do Exército,   çar-se de paraquedas ou a fazer aterragens de emergência. Uma das
              que queria contra-atacar o território do Japão para elevar o moral da   aeronaves conseguiu, no entanto, aterrar em Vladivostok.
              nação. A questão que se punha era como cumprir o desejo do Presi-  Dos 80 tripulantes, 69 foram resgatados pela guerrilha chinesa
              dente. Os EUA não possuíam no seu arsenal uma aeronave capaz de   e 2 faleceram numa amaragem de emergência. Dos restantes 9,
              alcançar o Japão a parƟ r da base terrestre americana mais próxima.   1 faleceu após o salto de paraquedas e 8 foram capturados pelos
              Para a Marinha, executar a operação com os seus aviões a parƟ r de   japoneses. Destes, 3 foram executados e 1 faleceu durante o caƟ -
              porta-aviões estava fora de questão, pois seria uma missão suicida.  veiro. Como retaliação pelo ataque, os japoneses assassinaram
               Dois homens Ɵ veram ideias que, trabalhadas em conjunto, leva-  cerca de 250.000 chineses.
              ram à formulação fi nal da operação “Shangri-Lá”, nome de código
              com que foi designada: o CMG Francis Stuart Low (1894-1974), que                                     DR
              era o responsável pela área de guerra anƟ -submarina no Estado-
              -Maior do ALM Ernest Joseph King (1878-1956), e o TCOR James
              Harold DooliƩ le (1896-1993), piloto de testes experiente e enge-
              nheiro aeronáuƟ co, conselheiro especial do TGEN Henry Harley
              Arnold (1886-1950), Comandante da Força Aérea do Exército.
               A 10 de janeiro de 1942 Low observou, no aeródromo da Base
              Naval de Norfolk, Virgínia, bombardeiros do Exército em treino de
              ataque a um alvo desenhado no solo com a confi guração do convés
              de um porta-aviões. A 2 de fevereiro, depois de algumas diligências,
              Low conseguiu que dois bombardeiros B-25 Mitchell fossem embar-
              cados no porta-aviões USS Hornet. Os aviões descolaram do convés
              do porta-aviões, ao largo da baía de Chesapeake, aparentemente
              sem difi culdades.
               Entretanto, Arnold atribuiu a DooliƩ le a responsabilidade de lide-  Os danos materiais do ataque foram pouco signifi caƟ vos; porém o
              rar o projeto e de escolher a melhor plataforma aérea para uma   ataque provocou grande alarme na população e nas elites dirigentes
              missão que exigia dois requisitos básicos: uma autonomia mínima   japonesas. O ALM Isoroku Yamamoto (1884-1943) fi cou tão conster-
              de 2400 milhas e a capacidade para cerca de 900 quilos de bombas.   nado que vesƟ u o uniforme e foi ao Palácio Imperial apresentar um
              As suas dimensões eram também um fator a ponderar, uma vez que   pedido de desculpas ao Imperador.
              havia que acomodar um razoável número desses aparelhos no con-  De facto, esta ação não só pôs em causa a capacidade da Marinha
              vés de um porta-aviões, sem que tal facto impedisse a descolagem   e do Exército imperiais para defender o Imperador e a população de
              dos primeiros a ser lançados.                       ataques ao seu território, como também destruiu a áurea de inven-
               DooliƩ le decidiu-se precisamente pelo mais novo avião do Exército,   cibilidade das suas Forças Armadas. Executado pouco depois da
              o B-25. Uma vez que a sua autonomia era apenas de 1300 milhas,   queda das Filipinas, este golpe no coração do Império japonês aƟ n-
              foi necessário fazer algumas alterações, nomeadamente a monta-  giu o objeƟ vo a que se propunha, ou seja, o de elevar o moral das
              gem de tanques de combusơ vel adicionais. Embora o B-25 Ɵ vesse   Forças Armadas e do povo americano. Trinta segundos sobre Tóquio
              alguma capacidade de autodefesa, contava-se com o elemento sur-  foi, de algum modo, a resposta a Pearl Harbor. Para os japoneses,
              presa para colmatar a falta de proteção de caças. A 16 de fevereiro   este acontecimento mostrou que o perímetro defensivo do Império
              DooliƩ le escolheu as tripulações entre todos os que se voluntariaram   era vulnerável, sendo necessário tomar algumas medidas adicionais.
              e, poucos dias depois, iniciaram-se os treinos. No dia 31 de março, na   O “DooliƩ le Raid”, como fi cou conhecido, foi um dos segredos
              estação aeronaval de Alameda, S. Francisco, foram embarcados 16   mais bem guardados durante a guerra. O próprio Presidente ape-
              B-25 no convés do porta-aviões USS Hornet, com recurso a uma grua.  nas teve conhecimento da operação algumas horas antes de os
                                                                  porta-aviões estarem na posição de lançamento. Na realidade,
              INCURSÃO DE DOOLITTLE                               se por um lado a Marinha e o Exército não estavam interessados
                                                                  em dar a conhecer ao inimigo o número e composição dos meios
               No dia 18 de abril de 1942 uma esquadra liderada pelo VALM Wil-  envolvidos, por outro lado, pretendiam que os japoneses fi cassem
              liam Frederick Halsey (1892-1959), consƟ tuída pelos porta-aviões   com a dúvida sobre as capacidades e o alcance dos bombardeiros.
              USS Enterprise e USS Hornet  e os seus navios de escolta, lançou os   Quando, posteriormente, numa conferência de imprensa, Roo-
              16 aviões bombardeiros a cerca de 650 milhas do Japão. Devido ao   sevelt foi quesƟ onado sobre o local de lançamento dos bombar-
              avistamento de embarcações japonesas de vigilância, o lançamento   deiros, foi com saƟ sfação que respondeu aos jornalistas: da nossa
              foi efetuado numa posição a mais de 250 milhas da que Ɵ nha sido   nova base secreta em Shangri-Lá.
              inicialmente prevista.
               Depois de bombardearem as cidades de Tóquio, Yokohama,                                       Piedade Vaz
              Yokosuka, Nagoya, Osaka e Kobe, 15 das 16 aeronaves rumaram a                                    CFR REF


              16   MARÇO 2021
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