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REVISTA DA ARMADA | 572
          PROGRAMA SWAIMS



          (SUPPORT TO WEST AFRICA


          INTEGRATED MARITIME SECURITY)



          O  Golfo  da  Guiné  (GdG)  é  uma  importante  zona  de  navegação  marítima  que  vai  do  Senegal  e  Cabo  Verde  até  Angola,  cruzada
          diariamente por cerca de 1.500 navios de todos os tipos e de diversas bandeiras, que transportam não só petróleo e gás, mas também
          outros bens, de e para África, e também para as diferentes regiões do mundo.
          O artigo A CRIMINALIDADE MARÍTIMA NO GOLFO DA GUINÉ, publicado nas edições n.º 565 (AGO21) e n.º 566 (SET21) da RA, centrava-
          se nas ameaças para São Tomé e Príncipe. Agora aborda-se o combate a essas e outras ameaças.

          A (IN)SEGURANÇA MARÍTIMA                             Em  2020  a  Nigéria  foi  o  segundo  fornecedor  de  petróleo  a
          NO GOLFO DA GUINÉ                                   Portugal,  com  17,1%  do  total  das  importações,  e  o  principal
                                                              fornecedor de gás natural, com 54,4% do total .
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                                                               Apesar da redução geral no número de incidentes e raptos de
            os últimos anos tem-se assistido uma vasta gama de ameaças   tripulantes no último ano relativamente aos quatro anos anteriores
         Nà segurança marítima em toda a região, incluindo pirataria e   (Figuras 1 e 2), importa reter que a totalidade dos raptos em 2021
          roubo armado, rapto de tripulantes para resgate, roubo de petróleo,   ocorreu no GdG (57), e que já em 2020 se tinham registado 130
          tráfico e contrabando (drogas, armas e seres humanos), pesca ilegal,   raptos naquela região, representando 96% do total mundial.
          não declarada e não regulada e crimes ambientais. Estas atividades   As explicações para esta diminuição do número de incidentes
          ilícitas  afetam  gravemente  o  desenvolvimento  económico  da   em 2021 não são consensuais, mas é possível que se deva a um
          região e refletem-se em todo o globo. A extensão e o impacto da   conjunto de fatores:
                                                               – Os efeitos da pandemia, somado ao receio dos armadores em
          insegurança marítima não são fáceis de avaliar com precisão, mas   arriscarem os seus navios em águas tão perigosas, que levaram a
          sabe-se que afeta em especial as dimensões económica e social,   uma redução do tráfego marítimo e à queda do volume de carga
          custando milhares de milhões de dólares por ano .   nos principais portos dos Estados do GdG.
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           Em cada instante, 30 navios de bandeira europeia navegam no   –  A  maior  concentração  de  meios  navais  europeus,  quer
          GdG, e 10% das importações de petróleo da União Europeia (UE)   por  iniciativas  bilaterais,  quer  por  via  da  implementação  das
          e 4% das importações de gás são provenientes de países do GdG.   “Presenças Marítimas Coordenadas” (PMC) .
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          Estes  números  irão  certamente  subir,  no  quadro  das  sanções
          impostas à Rússia na sequência da guerra com a Ucrânia.
















                                                               – O esforço dos Estados costeiros, em especial da Nigéria, com
                                                              a  implementação  do  seu  projeto  “Deep  Blue” .  As  recentes  e
                                                                                                   4
          Figura 1 - Número total de incidentes reportados no Mundo e no GdG  pioneiras  condenações  por  atos  de  pirataria,  em  tribunais  da
          Fonte: ICC International Maritime Bureau
                                                              Nigéria e do Togo, poderão também ter tido um efeito dissuasor,
                                                              mostrando  que  o  crime  não  compensa.  O  futuro  dirá  se  a
                                                              diminuição do número de incidentes e de raptos é uma tendência
                                                              para continuar ou se se trata apenas de um fenómeno pontual.
                                                              A RESPOSTA DA UNIÃO EUROPEIA

                                                               Em junho de 2013, os líderes da Comunidade Económica dos Estados
                                                              da  África  Ocidental  (CEDEAO ),  da  Comunidade  Económica  dos
                                                                                    5
                                                              Estados da África Central (CEEAC ) e da Comissão do GdG reuniram-
                                                                                      6
                                                              se em Yaoundé, nos Camarões. Aquela que ficaria conhecida como
                                                              a Cimeira de Yaoundé, lançou as bases de uma estratégia regional
          Figura 2 - Número total de tripulantes raptados no GdG  comum para prevenir e reprimir atividades ilícitas nas águas do
          Fonte: ICC International Maritime Bureau            GdG, com a criação de três mecanismos:


          12  ABRIL 2022
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