Page 26 - Revista da Armada

REVISTA DA ARMADA | 576

ACADEMIA DE MARINHA

HISTÓRIAS MARÍTIMAS DOS AÇORES

Uma das ferramentas utilizada pela Academia de Marinha no episódios navais mais marcantes das duas grandes guerras mun-
cumprimento da sua missão de divulgação do conhecimento do diais. Cada um dos episódios é narrado de maneira rigorosa, mas
mar e das atividades marítimas, é a edição de obras literárias ver- simples e quase coloquial, tendo associadas algumas referências
sadas, sobretudo, nessas temáticas. O vasto corpo académico da bibliográficas, para orientar os leitores que desejem aprofundar o
Academia tem respondido positivamente aos desafios que lhe são conhecimento de cada episódio.
lançados pelo Conselho Académico e daí que a produção científica A obra relembra a importância do arquipélago na história marí-
e a sua divulgação aconteçam com naturalidade e regularidade. tima portuguesa e afirma a influência marítima na identidade cul-
Assim, no passado dia 15 de fevereiro, foi lançado e apresentado tural açoriana, que já Sophia de Mello Breyner Andresen tão bem
o livro Histórias Marítimas dos Açores – Batalhas e combates, pira- caracterizara no seu poema Açores, tendo sido com esse texto que
tas e corsários. Temporais, naufrágios, perdições e outras histórias o Comandante Rodrigues da Costa encerrou a sua apresentação:
marítimas, um projeto da iniciativa pessoal do Comandante Adelino Há um intenso orgulho É terra lavrada É convés lavrado
Rodrigues da Costa, um académico emérito desta Academia. O autor Na palavra açor Por navegadores Em plena amplidão

é detentor de um currículo notável, particularmente na área da His- E em redor das ilhas E os que no mar pescam É o mar que traz
tória Marítima, à qual dedicou boa parte dos seus estudos pós-gra- O mar é maior São agricultores As ilhas na mão
duados, tendo a obra resultado da concretização de uma sua ideia
antiga, nascida dos seus múltiplos e profundos contactos com esta No final da apresentação, todos os presentes – onde se incluía mais
região insular, à qual está ligado por razões familiares, mas também de uma dezena de camaradas do seu Curso Oliveira e Carmo – po-
por comissões de embarque em corvetas e trabalhos hidrográficos. diam concordar que o lançamento deste livro cumpriu, além dos
O trabalho assentou, sobretudo, numa vontade de satisfação objetivos propostos pelo seu autor, a tarefa de prestar uma singela
pessoal, mas também no propósito de contribuir para o conheci- homenagem às ilhas açorianas, de Santa Maria ao Corvo, que aco-
mento da história marítima do arquipélago dos Açores, reunindo e lhem e marcam muitos daqueles que servem e serviram a Armada,
divulgando alguma informação que até aqui se mantinha dispersa através de comissões cumpridas no arquipélago dos Açores e nos
por várias fontes. Para além do recurso a algumas obras de referên- seus mares, ou de sempre bem-vindas escalas ocasionais nos seus
cia, designadamente os clássicos açoriano Gaspar Frutuoso, Diogo portos.
das Chagas e António Cordeiro, o autor recorreu às colecções da Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA
imprensa regional e aos institutos culturais locais enquanto re-
positórios de conhecimento da história açoriana, destacando-se
a importância que os recursos disponíveis on-line tiveram para a
criação desta obra em pleno período pandémico.
O livro foi prefaciado pelo Almirante Francisco Vidal Abreu e pos-
faciado pelos académicos Professores Artur Teodoro de Matos e
Vítor Gaspar Rodrigues, tendo a sua apresentação sido feita pelo
próprio autor.
O livro tem 298 páginas e apresenta-se em duas Partes. A Parte I
tem o título Breve Síntese Histórico-Marítima e contém 15 capítu-
los, que o autor teve o cuidado de ilustrar vividamente na sua apre-
sentação, dando assim uma pequena amostra do conteúdo geral
da obra. Esses capítulos são pontos de partida para quem quiser
saber mais e aprofundar conhecimentos sobre a história regional,
designadamente sobre batalhas e combates nos mares açorianos,
naufrágios, perdições e outros temas marítimos, como o corso e a
pirataria, a prática da baleação, a construção naval insular como
resposta ao isolamento, a cartografia náutica da região ou a influ-
ência do mar na identidade cultural açoriana. Esta Parte I está valo-
rizada com uma alargada lista de fontes e de bibliografia utilizadas
pelo autor e que, naturalmente, poderão estimular nos leitores o
aprofundamento de cada um dos temas tratados.
Na Parte II do livro que se intitula Batalhas e Combates, Piratas
e Corsários. Temporais, Naufrágios, Perdições e outras Histórias
Marítimas, são apresentados e relatados 71 episódios marcantes
da riquíssima história marítima das ilhas açorianas. Na sua expo-
sição, o autor seleccionou alguns exemplos referentes a todas as
tipologias de episódios apresentados, deixando novamente bem
patente a erudição, o conhecimento e a facilidade de exposição do
autor, bem como o grande interesse da sua obra. Destacam-se as
grandes batalhas navais da Vila Franca do Campo e da ilha das Flo-
res, os assaltos corsários de Francis Drake e René Duguay-Troüin,
os naufrágios da fragata Astrée e do paquete Slavonia, além dos

26 AGOSTO 2022