Page 123 - Revista da Armada
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inicial era, de facto, desembarcar e
atacar a fortaleza. Mas os mercadores BATALHA DE MALACA -1513
dissuadiram-no, fazendo-lhe ver que se
abandonasse os navios estes seriam
facilmente destrufdos pelos portugueses
e que, se isso acontecesse, acabaria por
ficar isolado na cidade, sem possibilidade , -- ----------
de reabastecimento. A opinião dos mer- ,
cadores, que já tinham visto combater os \ ,
portugueses e sabiam quão dincil seria Vem.., " J. o DIA
vencê-los, era de que devia retirar com
a sua annada para o rio de Muar e pedir
ajuda da annada do rei de Bintão que ./
dispunha de muita artilharia. Depois de
Vento
reunidas as duas annadas seria possível
destruir a armada portuguesa e, desapa-
recida esta, a fortaleza não poderia
sobreviver durante muito tempo. Pateo-
nuz concordou com este plano e deu , ,
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ordem aos seus navios para, logo que
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começasse a soprar o terreal, seguirem ~"''''"
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para o rio de Muar. ", ,, ..... ....
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Os portugueses estavam atentos aos r ---------""---------------------------------, ~,' ,"',
menores movimentos do inimigo e quan- '.
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do se apreceberam que ele, em vez de " " '
desembarcar, estava começando a reti-
rar, perderam todos os receios que
linham tido até aí e não pensaram em ./
2. DIA
0
mais nada senão em aniquilá-lo ... tanto Vento
mais que isso serviria para demonstrar
aos da fortaleza que os da armada não
precisavam deles para nada!
Ao romper do dia, soprando um
vento bonançoso de nordeste, já a
armada java se encontrava a navegar
com rumo ao rio de Muar, perseguida
pela portuguesa. E como os javos tinham
a maioria dos seus navios muito avaria-
dos, em resultado dos combates do dia ,
anterior, foram facilmente alcançados
pelos nossos que, mais afoitas do que na \
véspera, se aproximaram deles a curta
distância, começando não só a alvejá-los
com a artilharia mas também a atirar-lhes
para denlro grande quantidade de lanças
de fogo e de panelas de pólvora. Muitos
juncos, lancharas e calaluzes foram então
incendiados, ou afundados a liro de mais avariados, iam ficando pura trás, os haviam desaparecido de todo, ou porque
canhão. Em pouco tempo o mar ficou quais, apesar de oferecerem uma resis- tivessem sido afundados, incendiados ou
cheio de javos que a nado procuravam tência desesperada, foram sendo loma- tomados, ou porque tivessem dado à
salvar-se, impiedosamente perseguidos dos, saqueados e incendiados, um após COSia, ou porque, aproveitando a sua
pelas lancharas do bendará de Malaca. outro. Nesta fase da batalha coube às lan- ligeireza se tivessem conseguido escapar
A meio do dia, Fernão Peres man- charas do bendará de Malaca a tarefa de a caminho de Java. Além dos oito juncos
dou algumas lancharas à fortaleza buscar esvaziar de mantimentos os juncos que atrás referidos, todos os outros tinham
mais pólvora e o massacre prosseguiu. as nossas naus iam capturando e, depois, sido destruídos ou estavam em vias de
Nesta altura, já Pateonuz tinha desistido lançar-lhes fogo. sê-lo.
da ideia de se refugiar no rio de Muar Vendo-se perdido, Pateonuz chamou Desejoso de acabar com os juncos de
e batia francamente em retirada na direc- a si cinco juncos que estavam mais pró- Pateonuz e do seu sota-capitão e vendo
ção do estreito de Sabão com o único ximos e amarrou-se com eles, formando que, dada a resistência dos seu cascos,
objectivo de salvar os reStoS da sua uma espécie de fortaleza flutuante, dis- seria praticamente impossível afundá-los
annada. posto a vender cara a vida. O mesmo fez com a artilharia e que, dada a sua altura,
Começaram então as naus portugue- o seu SOla-capitão amarrando-se a um seria muito difícil queimá-los com pane-
sas a abordar os juncos que, por estarem outro junco. As lancharas e calaluzes las de pólvora, Fernão Peres decidiu
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