Page 124 - Revista da Armada
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abordá-los. Para isso, mandou passar atacar o junco de Pateonuz e os cinco que se resolveu a desistir da perseguição,
para a sua nau e para outra que ia consigo estavam com ele quando sobreveio uma dando por concluída a batalha.
os cavaleiros e soldados de outras três trovoada, acompanhada de aguaceiros e Entretanto, Fernão Peres regressava
ou quatro e, logo que começou a soprar rajadas fones, que dispersou ambas as triunfante a Malaca, frente à qual os
a viração do none, foi direito ao junco armadas e as obrigou a fundear para não nossos navios fundearam por entre as
de Pateonuz. dar à costa. aclamações do povo, o c1angor das trom-
Mas atravessou-se-Ihe na frente o Ao outro dia de manhã, tendo pas- betas, repicar dos sinos e o estrondo das
junco do sota-capitão daquele com o sado a tempestade. uma surpresa espe- salvas de artilharia.
outro que tinha amarrado a si e foi com rava Jorge Botelho e a sua guarnição. Do Nesta batalha, os Portugueses não
estes que se travou o combate. Apesar local onde tinham fundeado, não se avis- perderam um único navio e tiveram
do descalabro que tinha sofrido a sua tava qualquer outro navio português, muito poucos mortos e feridos: afunda-
armada, os javos nem por isso pareciam além dum junco de Malaca. E, a curta ram todos os juncos dos Javos, à excep-
impressionados e defendiam-se com distância, encontravam-se, também fim- ção do de Pateonuz, a maior parte das
extraordinário valor colocando por deados, o grande junco de Pateonuz e os suas lancharas e muitos calaluzes; cau-
diversas vezes os portugueses, que eram seus cinco companheiros! saram ao inimigo cerca de oito mil
muito menos, em sérias dificuldades. Mas Jorge Botelho não era homem baixas, entre mortos, feridos e prisionei-
Vendo que o combate se arrastava, o para se atrapalhar com tão pouco. Con- ros; capturaram grande quantidade de
incansável Jorge Botelho, apesar de dis- fiado na ligeireza e na manobrabilidade mantimentos o que resolveu o problema
por apenas de vinle soldados. foi aferrar do seu navio, suspendeu prontamente e do abastecimento de Malaca durante
ousadamente o junco que estava amar- foi aracar o inimigo. Algumas horas meses. Nunca até então se tinha visto
rado ao do sOla-capitão. Porém, a sua depois, dos seis juncos javos só restava naquelas paragens uma vitória naval tão
ousadia ia-lhe sendo fatal. Osjavos, que a flutuar o de Pateonuz. Todos os outros estrondosa!
no dizer de Castanheda eram os comba- cinco tinham sido incendiados com Foi esta uma das maiores, se não a
tentes «mais esforçados e melhor arma- panelas de pólvora e lanças de fogo, ou maior, de todas as batalhas travadas pela
dos, e mais detenninados que havia do afundados com anilharia! Marinha portuguesa, embora as conse-
cabo da Boa Esperança para dentro para Nessa altura, acabou-se a pólvora aos quências de ordem estratégica que dela
qualquer das quatro partes do mundo,., portugueses. Como não tinha possibili- resultaram tenham sido limitadas.
COntra-atacaram de imediato e invadiram dade de tomar à abordagem, apenas com
a pequena nau de Jorge Botelho que vinte soldados feridos e cansados, um Saturnino Monteiro,
esteve quase perdida. No entanto, a junco guarnecido por cerca de quinhen- cap.-m.-g.
diversão que provocou permitiu a Fer- tos homens, Jorge Botelho resolveu ir a
não Peres recompor-se e dominar defi- Malaca buscar mais pólvora. E apesar de BihliogroJia: «Hisl6ria do DlSrobri~rlla ~
nitivamente a resistência dos dois juncos Jorge de Brito insistir em que já não ia Omquisla da [miia /N/os POrlu.gutSts» dI! F~mIJa
LoJHs dI! CllStanhtda; _Dkodas» de lodo de
cujos sobreviventes se lançaram à água. a tempo de alcançar Pateonuz, teimou Barros; «l.tnJas da (ndia,. dI! Gaspar Corrtio I!
Com a noite prestes a cair. prepa- em ir no seu encalço até à entrada do «Crónica do Ft!icfssil7l() Rti D. Marllu/" de
rava-se o nosso capitão-mor para ir estreito de Sabão. S6 depois disso é que DamilJo d~ Gms.
Filatelia
AS NOVAS EMISSÕES DE SELOS PORTUGUESES
DATAS HISTÓRICAS - 500 Anos ricos da filatelia nacional. O 5. o cen- centenário dos Descobrimentos que,
dos Descobrimentos Portugueses tenário do nascimento e da morte do da Madeira ao Oriente, aconteceram
infante D. Henrique, aquele que, a partir do final da primeira metade
Comemoram-se actualmente em para muitos historiadores, é conside- do século XV, juntarmos algumas
Portugal os feitos de homens arroja- rado o principal impulsionador dos séries de embarcações e material
dos que, ultrapassando dificuldades Descobrimentos, deu lugar a selos e auxiliar de navegação, não sentire-
de toda a ordem, se embrenharam outras peças que são verdadeiras mos dificuldade em esboçar um tra-
no mar à procura do desconhecido. maravilhas. O 4. o centenário da des- balho filatélico prometedor. Sabe-se
Podemos considerar esses nossos coberta do caminho marítimo para a que uma colecção de selos, para ter
antepassados, que desfizeram len- India, por Vasco da Gama, não podia valor universal, deve conter peças
das e lutaram contra a fúria dos deixar de produzir um bom conjunto estrangeiras, pelo que é importante
mares, barreiras aparentemente de elementos filatélicos, alguns já juntar a estes trabalhos as emissões
intransponfveis, como os pioneiros tão difíceis de alcançar. Emissões de de outros países que, de algum
das comunicações. navegadores dos tempos áureos dos modo, estão ligadas ao empreendi-
Este tema, como é natural num Descobrimentos, deram um empur- mento português.
pais de navegadores, é um dos mais rão à filatelia do ramo. E, se ao 5. a Estamos certos de que, quando
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