Page 376 - Revista da Armada
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Batalhas e combates
da Marinha portuguesa (XXXI)
CEUTA (8 de Março dE 1520'
as costas de Marrocos, o domí-
nio do mar por parte dos Portu- MARROCOS
N gueses era absoluto, já que os
Marroquinos não dispunham de armada. 1520
(Não se esqueça que, ao contrário do que
aconteceu com a Tunísia e a Argélia,
Marrocos nunca chegou a ficar sob o do.
mímo dos Turcos).
Graças ao domínio do mar de que
desfrutavam, puderam os Portugueses
ocupar de surpresa numerosas cidades
costeiras marroquinas e socorrê-Ias em
força sempre que eram cercadas. No en-
tanto, como sempre aconteceu através
dos tempos, o domínio do mar não sig-
nificava que o inimigo não pudesse. com
os seus navios ligeiros, atacar esporadi-
camente a nossa navegação. De quando
em quando, fustas de corsários de Te-
ruão. Laracbe e outras cidades atacavam
de surpresa uma nau ou caravela mer-
cante que navegava isolada e, seguida-
mente, refugiavam-se nos seus portos
antes que aparecessem os nossos navios
de patrulha.
Por volta de 1520, havia em Tetuão
dois irmãos chamados Xaerôes, possui-
dores de duas fustas com que se dedica-
vam à guerra de corso na faixa costeira
compreendida entre aquela cidade e
Larache.
Em princípios de Março desse ano,
apareceram os Xaerões nas proximida-
des de Ceuta, na mira de apanhar qual-
quer navio descuidado, ficando uma das
fustas relativamente perto da cidade e QU-
tra mais ao largo.
Não estando disposto a deixar pas-
sar sem castigo o atrevimento dos mou-
ros, o capitão da praça, Gomes da Silva
de Vasconcelos,mandou armar imedia-
tamente dois bergantins cujas capitanias
deu a seus filhos André de Vasconcelos
e Miguel da Silva com ordem de irem
capturar os corsários. Alvoroçados, fo-
ram logo os dois j6vens contra a fusta
que estava mais perto da cidade, Levado pelo ardor dos seus dezano- constitufda por homens muito experi-
adiantando-se muito o bergantim do Mi- ve anos e pelo desejo de ganhar honra mentados e aguerridos que não SÓ repe-
guel, que era o mais novo dos dois ir- e fama, Miguel da Silva, sem esperar pe- liram com facilidade o ataque dos
mãos, ou porque fosse mais ligeiro ou lo irmão, resolveu ir abordar sozinho a portugueses como também invadiram o
porque tivesse melhores remadores. fusIa inimiga. Mas a guarnição desta era nosso bergantim. Viu-se então o jovem
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