Page 97 - Revista da Armada
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cocos de coqueiros de tronco muito alto  e  extrema-  especiarias, e com o dinheiro arregimentou um entu-
          mente liso, quase polido, impossível de ser escalado   siástico grupo de merguThadores, que indo ao fundo
          por qualquer ser humano.                            do  mar  e  voltando,  lhe  conseguiram  inúmeras  e
             Sinclbad  conseguiu  passagem  naquele  navio,   maravilhosas colecções dessas preciosas jóias.
          tendo ainda o capitão, por simpatia, cedido algumas    E de novo aumentado de invejável maquia na sua
          roupas com que Sindbad refez a indumentária já sem   fortuna,  regressou ao porto de Baçorá, e deste, à  sua
          cor nem feitio,  pelas deambulações de pancas e  tra-  querida Bagdade, onde os amigos o abraçaram e acom-
          vancas com o sinistro velho da floresta engalfinhado   panharam em vida feliz e abastada, não esquecendo,
          nos seus ombros.  Depois, no primeiro porto em que   como sempre fazia,  de ajudar os  mais  necessitados.
          tocaram, com belas casas ao longo da baía, trocou os
          cocos por boa porção de canela e de pimenta. Noutra
          escala, logo a  seguir, chamada Comari, onde existe o                                 Sousa Machado,
          melhor pau de aloés e as melhores pérolas, vendeu as                                          cap.·m.-g.




          Um  grande actor




          que foi oficial da Marinha





                árias  foram  os  portugueses  que  vestiram  a
                farda do 44botão de âncora» e  se distinguiram
          V nos campos das artes, das letras e  de outras
          actividades.  Recordamo·nos  de alguns que já foram
          referidos  nas  páginas  da  nossa  Revista,  nomeada·
          mente, o  poeta Bocage, os escritores  Wenceslau de
          Moraes, Henrique Lopes de Mendonça e António Sér-
          gio,  o  aguarelista Pinto Basto,  etc.
             Desta vez vamos falar  de Eduardo Brasão (1851-
          -1925),  que haveria de se notabilizar  como  um  dos
          maiores valores portugueses de todos os tempos na
          arte de Tahna.
             No  entanto,  idealizou,  aos  onze  anos  de  idade,
          seguir a carreira naval. O porte garboso dos imberbes
          aspirantes de marinha, o sau boné com a coroa real,
          o seu fato de duas ordens de botões dourados e o seu
          espadim,  foram  motivos  mais  que  suficientes  para
          cativarem o seu espírito. Obtido o consentimento de
          seus  pais,  Brasão  entrou  para  a  Companhia  de
          Guardas-Marinhas em 1862.
             Embarcou como aspirante na corveta 44Sagres ••  a
          qual, juntamente com as !!Bartolomeu Dias)),  uEstefâ-
          nia).  e  uNova  Goal!,  fez  parte da esquadra que foi  a
          Génova buscar a princesa Maria Pia de Sabóia, noiva
          do nosso soberano D.  Luís. Já neste porto, Brasão foi
          escolhido pelo visconde Soares Branco, ahnirante da
          esquadra, para ser um dos pajens da futura rainha de
                                                              o aspirante Eduardo Bras.§O quando embarcBdo na corveta «Barto-
          Portugal, pelo que passou para o navio-chefe - a uBar-
                                                              lomeu Dias~ em Génova,  no ano de 1852, segundo um esboço de
          tolomeu Dias)1.  Em Génova, diz ele lembrar·se que a   desenho de  um álbum  do artista  italiano Forlani.
          primeira  coisa  que comprei ao  desembarcar foi  um
          grande comboio de corda, que fiz andar, com grande   muito tarde,  sucedeu que  uma noite,  estando eu de
          escândalo da oficialidade, pelo tombadilho, o que me   castigo na antecámara dos seus aposentos, me puse·
          causou muitos castigos.                             ram um tamborete de IIreps// vermelho, em consequên-
             A  bordo da ((Bartolomeu Dias ••  haveria de suceder   cia dos balanços que a  corveta fazia.
          um episódiO que teve como intervenientes a  própria    Sentei-me  de  espadim  na  mão,  e  pouco  tempe
          princesa italiana e  um dos seus pajens, o  aspirante   depois adormeci. Só acordei ao ruldo da comitiva que
          Brasão. Ele próprio o conta no seu livro de memórias:   chegava; e  como não  tivesse  tempo  de me perfjlar,
          Tendo  a  princesa  de  Sabóia  por costume  recolher   fingi que continuava  dormindo.
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