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Crónica de Timor
                       Crónica de Timor





              s três crónicas já publicadas relata-
              ram alguns tipos de operações de
         Aque foi incumbida a Companhia nº
         23 de Fuzileiros, as celebrações natalícias e
         da passagem do milénio, sendo também
         destacada a presença da Marinha no
         Comando do sector atribuído a Portugal.
           Após ter terminado a comissão de serviço
         de seis meses em Timor, período que o sig-
         natário considera marcante na sua carreira de
         oficial de marinha fuzileiro, julga oportuno
         salientar aspectos ligados à história do ter-
         ritório, assinalando as marcas emblemáticas
         ainda existentes da presença portuguesa.
           Os testemunhos relativos à história inicial
         de Timor, são inexistentes e apenas se pode
         provar que antes de 1522 já os mercadores
         portugueses comerciavam na região,
         depreendendo-se que a data da sua chega-
         da tenha acontecido após a conquista de
         Malaca em 1511. Está documentado o
         desembarque, em 1556, do primeiro mis-  Canhoneira “Pátria”.
         sionário, o padre dominicano António
         Taveira, em Solor, Flores e Timor mas ape-  Várias vicissitudes sofreu o povo timo-  Armada Filomeno da Câmara, prossegue o
         nas em 1701 D. João V criou o cargo de  rense cuja personalidade foi primorosa-  melhoramento iniciado pelo seu antecessor
         governador de Timor e Solor com a autori-  mente caracterizada pelo poeta Ruy Cinatti  e em 1912 e 1913 tem que fazer frente à
         dade suprema. Assim, é usual afirmar-se  que, profundamente apaixonado por Timor  revolta de Manufai.
         que o território de Timor foi conquistado  e pelas suas gentes, tornou-se um dos seus  Nesta sublevação, cuja origem está pouco
         pela cruz e não pela espada.       melhores conhecedores*.            clara, alguns historiadores atribuem-na à
           A primeira capital foi em Lifau no enclave  Formado por vários reinos, Timor viveu  influência de deportados europeus, par-
         do Oé-Cussi, local onde ainda se pode  numa certa apatia até finais do século XIX,  ticipou a canhoneira “Pátria”, sob o coman-
         encontrar um monumento inaugurado em  salientando-se então o período de 1894 a  do do então capitão-tenente Gago Coutinho,
         1974, o último erigido  sob soberania de  1908 durante o qual o governador, tenente-  que teve acção decisiva não só por intermé-
         Portugal, na base do qual uma placa assi-  coronel Celestino da Silva, apelidado “rei de  dio da artilharia de bordo como também
         nala que foi ali que em 1561 chegaram os  Timor”, promoveu  um grande desenvolvi-  através de sua força de desembarque coman-
         primeiros portugueses e afirma “Aqui tam-  mento na área agrícola, conseguindo, em  dada pelo 2º tenente Mesquita Guimarães.
         bém é Portugal”.                   1897, que Timor se separasse administrati-  Assim, os marinheiros da “Pátria” foram os
           Em 1769, devido a dificuldades logísticas  vamente de Macau e se constituísse num  antecessores em Timor das actuais unidades
         e também a aspectos relacionados com a  distrito autónomo.            de fuzileiros e também eles vitais para a
         segurança, a capital foi mudada para Díli.  O governador seguinte, 1º tenente da  manutenção da paz no território.
                                                                                 Durante o período da Grande Guerra,
                                                                               1914-1918, embora Timor vivesse momen-
                                                                               tos difíceis, devido à simpatia da Holanda
                                                                               pelos impérios centrais, conseguiu chegar
                                                                               ao fim do conflito sem ter sofrido qualquer
                                                                               ataque do exterior.
                                                                                 Interessa agora analisar e comparar os
                                                                               momentos trágicos que viveram os timo-
                                                                               renses a partir do início da década de 60 do
                                                                               século XX até à actualidade.
                                                                                 Em 17 de Dezembro de 1941 no desenro-
                                                                               lar da II Guerra Mundial, apesar da posição
                                                                               de neutralidade de Portugal, mas invocando
                                                                               a necessidade de defenderem o território
                                                                               contra um possível ataque japonês, desem-
                                                                               barcaram em Díli tropas holandesas e aus-
                                                                               tralianas após a apresentação de um ultima-
                                                                               to ao governador, capitão Ferreira de
                                                                               Carvalho. É a 1ª invasão!
                                                                                 Timor encontrava-se na encruzilhada
                                                                               de conflitos de interesses e ambições terri-
                                                                               toriais das potências regionais: Austrália;
         Baía de Tibar.                                                        Holanda e Japão. Para além das preocu-
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