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Crónica de Timor
                   Crónica de Timor




                Fuzileiros em operações de manutenção de paz,

           garantem regresso de deslocados do Sul do território




               esde meados de Agosto que se en-
               contra em território timorense a
        DCompanhia de Fuzileiros nº 23, in-
         tegrada no 2º Batalhão de Infantaria Para-
         quedista, no âmbito do novo Contingente
         Militar Português em Timor.
           Perspectivava-se logo desde o início da
         missão que as condições de segurança em
         Díli nos dariam algumas preocupações,
         atendendo à realização do Congresso do
         Conselho Nacional da Resistência Ti-
         morense, e ao primeiro aniversário do re-
         ferendo que veio consolidar a conquista da
         independência deste território martirizado.
           Assim, passados escassos dias após a che-
         gada ao teatro de operações, o pelotão de
         fuzileiros que constituía a Quick Reaction
         Force (Força de Reacção Rápida) foi empre-
         gue no reforço da segurança à cidade de Díli
         que estava vivendo intensamente os aconte-
         cimentos.                          Alas e Same em Timor.
           Entretanto, em princípios de Setembro,
         aumentavam os rumores da presença de milí-
         cias no distrito de Manu-Fai (um dos seis que  provocou o êxodo forçado de cerca 250 000  embarcarem nas viaturas que os haviam de
         compõem o sector central – sob o comando  pessoas para fora da sua terra natal.  levar até Alas – sede do sub-distrito das suas
         português).                          Com vista a pôr termo à actividade das  residências, estando uma hora depois forma-
           As milícias foram uma criação do governo  milícias foi levada a cabo de 11 de Setembro  da a coluna de viaturas, constituída pelos três
         indonésio em Timor Leste, ainda em inícios  a 16 de Outubro a operação "Cobra" no dis-  unimog’s do pelotão, cinco viaturas pesadas
         dos anos oitenta, para serem utilizadas como  trito de Manu-Fai. Participaram nesta ope-  da Organização Internacional das Migrações
         forças de 2º escalão contra as Falintil, o braço  ração dois pelotões de fuzileiros que con-  (OIM) onde eram transportados os desaloja-
         armado da Fretilin, um dos partidos políticos  tribuíram decisivamente para que, na sua  dos e ainda três viaturas ligeiras.
         de Timor Leste.                    área de responsabilidade, as populações se  Para além dos desalojados seguiram na
           A possibilidade da presença destes grupos  passassem a sentir seguras, tendo como con-  coluna a: Humanitary Assistance Officer
         para-militares provocou pânico junto das  sequência directa o regresso dos deslocados  da Administração do Distrito de Manu-Fai
         populações de algumas das localidades do  às suas localidades de origem.  – Paola Emerson, uma luso-americana já
         Sueste do distrito, com especial incidência o  Em 28 de Setembro, o 2º pelotão de  com experiência neste tipo de operações
         sub-distrito de Alas, levando a que cerca de  fuzileiros, sob o comando do Asp FZ Silva,  noutras latitudes, designadamente em
         700 pessoas abandonassem as suas casas nos  recebeu como missão escoltar 210 desloca-  África na região dos Grandes Lagos;
         diferentes suku’s por considerarem que não  dos de regresso a suas casas.  Allison Tuffs uma nutricionista americana
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         tinham condições de segurança garantidas.  Às 07.30, em Same – capital do distrito, os  ao serviço do World Food Program
           Ficaram tristemente célebres as acções  deslocados começaram a concentrar-se para  (WFP), com a tarefa de fazer uma ava-
         violentas destes grupos contra os timorenses
         que se queriam libertar do jugo indonésio,
         especialmente desde que em Janeiro de
         1999 Jakarta admitiu considerar uma alter-
         nativa que poderia conduzir à independên-
         cia, se o povo recusasse a possibilidade de
         Timor Leste ser uma região autónoma da
         Indonésia.
           Estão ainda bem vivas as recordações das
         atrocidades levadas a cabo pelas milícias
         na sequência do referendo 30AGO99 -
         Destruíram 80% das infraestruturas, agredi-
         ram, feriram e tiraram a vida a cerca de
         1.500 timorenses, ante a passividade das
         tropas indonésias.
           O terror gerado por estas bárbaras acções  Casas tradicionais ao longo da estrada à chegada a Alas.

         12 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA
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