Page 14 - Revista da Armada
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Crónica de Timor
Crónica de Timor
Fuzileiros em operações de manutenção de paz,
garantem regresso de deslocados do Sul do território
esde meados de Agosto que se en-
contra em território timorense a
DCompanhia de Fuzileiros nº 23, in-
tegrada no 2º Batalhão de Infantaria Para-
quedista, no âmbito do novo Contingente
Militar Português em Timor.
Perspectivava-se logo desde o início da
missão que as condições de segurança em
Díli nos dariam algumas preocupações,
atendendo à realização do Congresso do
Conselho Nacional da Resistência Ti-
morense, e ao primeiro aniversário do re-
ferendo que veio consolidar a conquista da
independência deste território martirizado.
Assim, passados escassos dias após a che-
gada ao teatro de operações, o pelotão de
fuzileiros que constituía a Quick Reaction
Force (Força de Reacção Rápida) foi empre-
gue no reforço da segurança à cidade de Díli
que estava vivendo intensamente os aconte-
cimentos. Alas e Same em Timor.
Entretanto, em princípios de Setembro,
aumentavam os rumores da presença de milí-
cias no distrito de Manu-Fai (um dos seis que provocou o êxodo forçado de cerca 250 000 embarcarem nas viaturas que os haviam de
compõem o sector central – sob o comando pessoas para fora da sua terra natal. levar até Alas – sede do sub-distrito das suas
português). Com vista a pôr termo à actividade das residências, estando uma hora depois forma-
As milícias foram uma criação do governo milícias foi levada a cabo de 11 de Setembro da a coluna de viaturas, constituída pelos três
indonésio em Timor Leste, ainda em inícios a 16 de Outubro a operação "Cobra" no dis- unimog’s do pelotão, cinco viaturas pesadas
dos anos oitenta, para serem utilizadas como trito de Manu-Fai. Participaram nesta ope- da Organização Internacional das Migrações
forças de 2º escalão contra as Falintil, o braço ração dois pelotões de fuzileiros que con- (OIM) onde eram transportados os desaloja-
armado da Fretilin, um dos partidos políticos tribuíram decisivamente para que, na sua dos e ainda três viaturas ligeiras.
de Timor Leste. área de responsabilidade, as populações se Para além dos desalojados seguiram na
A possibilidade da presença destes grupos passassem a sentir seguras, tendo como con- coluna a: Humanitary Assistance Officer
para-militares provocou pânico junto das sequência directa o regresso dos deslocados da Administração do Distrito de Manu-Fai
populações de algumas das localidades do às suas localidades de origem. – Paola Emerson, uma luso-americana já
Sueste do distrito, com especial incidência o Em 28 de Setembro, o 2º pelotão de com experiência neste tipo de operações
sub-distrito de Alas, levando a que cerca de fuzileiros, sob o comando do Asp FZ Silva, noutras latitudes, designadamente em
700 pessoas abandonassem as suas casas nos recebeu como missão escoltar 210 desloca- África na região dos Grandes Lagos;
diferentes suku’s por considerarem que não dos de regresso a suas casas. Allison Tuffs uma nutricionista americana
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tinham condições de segurança garantidas. Às 07.30, em Same – capital do distrito, os ao serviço do World Food Program
Ficaram tristemente célebres as acções deslocados começaram a concentrar-se para (WFP), com a tarefa de fazer uma ava-
violentas destes grupos contra os timorenses
que se queriam libertar do jugo indonésio,
especialmente desde que em Janeiro de
1999 Jakarta admitiu considerar uma alter-
nativa que poderia conduzir à independên-
cia, se o povo recusasse a possibilidade de
Timor Leste ser uma região autónoma da
Indonésia.
Estão ainda bem vivas as recordações das
atrocidades levadas a cabo pelas milícias
na sequência do referendo 30AGO99 -
Destruíram 80% das infraestruturas, agredi-
ram, feriram e tiraram a vida a cerca de
1.500 timorenses, ante a passividade das
tropas indonésias.
O terror gerado por estas bárbaras acções Casas tradicionais ao longo da estrada à chegada a Alas.
12 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA