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Dia da Marinha 2001 - CASCAIS
            Dia da Marinha 2001 - CASCAIS





                                                                               para aquele mar onde passaram as velas que
                                                                               foram à Índia, ao Brasil, a Africa, a todo o
                                                                               lado onde houve um bocadinho de Portugal
                                                                               ou onde os portugueses quiseram chegar
                                                                               com o seu sonho marítimo.

                                                                               A CERIMÓNIA MILITAR

                                                                                 A cerimónia militar foi, naturalmente, o
                                                                               momento mais alto de todas as comemo-
                                                                               rações, pela particular solenidade e significa-
                                                                               do que assume. Teve lugar na “Esplanada
                                                                               dos Pescadores” e foi presidida pelo
         Navios fundeados na Baía de Cascais.                                  Ministro da Defesa Nacional, Doutor Júlio
                                                                               de Lemos de Castro Caldas. Contou com a
               a praia do Restelo os marinheiros  que rondem pela costa, como serão eles que  presença de altas individualidades civis e
               correm ao guincho para içar o ferro  primeiro têm de se defender, caso sejam a  militares de que é importante destacar o
         Ne zarpar para a Índia. Outros sobem  presa escolhida por tão ruim gente. Em  Presidente da Câmara de Cascais, o General
         às vergas e preparam o pano que há-de ser  Cascais se fez uma fortaleza e para ali  Chefe do Estado Maior General das Forças
         caçado quando o navio virar e                                                   Armadas, o Chefe da Marinha
         tomar o caminho da barra.                                                       do Brasil, Almirante de Esqua-
         Enquanto o ferro está unhado,                                                   dra Sérgio Gitirana Florêncio
         a corrente de vazante faz com                                                   Chagastelles e o embaixador
         que se mantenham aproados a                                                     Synésio Sampaio Góis Filho,
         Lisboa, mas logo que se solte, é                                                representante do Brasil.
         preciso ter governo para                                                          As forças em parada eram
         guinar e seguir o seu caminho,                                                  constituídas por um batalhão
         levado pela maré, empurrado                                                     comandado pelo Capitão-de-
         pela brisa de noroeste que                                                      -Fragata FZ Manuel Ferreira
         sopra na manhã clara de Abril.                                                  de Campos, e constituído por
         Vão para a Índia aqueles                                                        uma companhia da Escola
         homens! Dentro em breve será                                                    Naval, uma do Grupo 2 de
         só mar e vento à sua volta, mas                                                 Escolas da Armada e outra do
         antes de entrarem nessa imen-                                                   Corpo de Fuzileiros. Integra-
         sa solidão, cresce-lhes a                                                       ram ainda a formatura o
         ansiedade com que olham os                                                      bloco de 16 estandartes nacio-
         últimos pedaços de terra por-  Autoridades que presidiram à cerimónia militar.  nais e a Banda da Armada,
         tuguesa. Se rumaram à barra                                                     dirigida pelo Capitão-de-
         sul, têm uma saída mais franca, com pano  lançavam o olhar mais angustiante aqueles  -Fragata Músico Araújo Pereira. Ao
         folgado, mas desaparecem-lhes as casas de  que gritavam de cima do cesto da gávea, ou  mesmo tempo que decorreu a cerimónia
         Lisboa e dentro em breve os últimos vestí-  que largavam pano dependurados nas ver-  militar, estavam fundeados na baía de
         gios da Pátria são uns areais distantes sem  gas, quando saíam em longa viagem.  Cascais os N.E. “Sagres”, NRP “Corte
         vivalma. Se foram pela barra norte (o que  Último reduto do olhar do marinheiro, per-  Real”, NRP “Comandante Hermenegildo
         seria muito mais raro, porque obrigava a  dido depois na imensidão, ali se deposi-  Capelo”, NRP “Augusto de Castilho” e o
         uma bolina apertada, se calhar com bordos  tavam as esperanças da vinda, com uma  NRP “General Pereira d’Eça” que efectuou
         difíceis) podem olhar de perto os carreiros  última lágrima já apressada pelo ritmo da  as salvas da ordenança, em honra do
         por onde os almocreves se aproximam de  faina. A saudade é só para depois; para  Ministro da Defesa Nacional.
         Algés e de Belém, ficam com uma recor-  quando puder chegar à
         dação última de casa, mais impressionante  borda, com calma e
         que os outros. Mas, uns ou outros lá vão, a  nostalgia, e já só enxer-
         caminho do mar desconhecido, para lá do  gar o infinito azul do
         qual está o espaço do sonho português,  oceano. Em Cascais
         envolto na bruma e castigado pela surriada  fica o último soluço do
         de longas noites de vendaval. Uns e outros  marinheiro da Índia, e
         lançaram o seu último olhar a terra e viram  é com inteira justiça
         o monte sobranceiro àquela pequena praia  que a Marinha Portu-
         de pescadores, onde se arrumam casas for-  guesa decide ali come-
         mando círculos à volta da praia. É ali  morar o seu dia de
         Cascais. Gente de mar que ensaia uma pesca  festa, recordando com
         local com pequenas embarcações, e que  aquelas gentes da
         deixa os seus barcos amarrados à muralha  borda d’água tudo o
         da cidadela. São eles os primeiros a avistar o  que é para recordar
         perigo e a dar sinal de piratas e flibusteiros  nestas alturas, virado  A Banda da Armada inicia o desfile.

         18 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA
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