Page 195 - Revista da Armada
P. 195
a primeira grande convenção para a Salvaguarda da Vida Humana O CÓDIGO MORSE
no Mar - SOLAS (Safety Of Life At Sea). A União Internacional das
Telecomunicações (ITU- International Telecommunications Union), . - . --- … .. ---
actualmente agência das Nações Unidas, considerou então, nas A J S 2
suas resoluções, a utilização do código morse para chamadas de - … - . - - … --
socorro e segurança, na frequência de 500kHz. Como sinal de B K T 3
socorro foi escolhido o grupo de letras “SOS” que, ao contrário - . - . . - .. .. - .... -
do que é defendido por algumas interpretações mais românticas, C L U 4
não significa “Save Our Souls” (estamos aqui a falar de salvamen- - .. … - .....
--
to e não de salvação e, aliás, a preocupação em salvar almas deno- D M V 5
taria, já, a inutilidade de qualquer tipo de socorro), não tendo tido
- .
outra razão para a sua adopção que não fosse a sua simplicidade E . N . -- - ....
6
W
de transmissão e de recepção (… --- …) para qualquer operador,
por menos habilitado que fosse. .. - . --- - .. - -- ...
F
7
X
O
Até hoje efectuaram-se mais quatro convenções SOLAS: a segunda
realizada em 1929 (entrando em vigor em 1933), a terceira em 1948 -- . . -- . - . -- --- ..
(tendo entrado em vigor em 1952), a quarta, já sob os auspícios da G P Y 8
Organização Marítima Internacional (IMO - International Maritime .... -- . - -- .. ---- .
Organization) em 1960 (entran- H Q Z 9
do em vigor a partir de 1965) .. . - . . ---- -----
e, por fim, a presente versão I R 1 0
que foi adoptada em 1974,
vigorando a partir de 1980.
Assim, os navios de acor- utilização do morse, na actual configuração para as comunicações
do com a sua tonelagem com os navios, tem os dias contados. Assim, deixa de haver a
passaram a ter como requi- necessidade de operadores especializados em morse acústico, pois
sito a capacidade para escu- o sistema é automático, recorrendo à tecnologia digital, não
tar um dos seguintes sis- exigindo quaisquer perícias (apenas o curso de operação dos
temas (manuais): respectivos equipamentos), tem uma cobertura global e não ape-
• Sistema Radiotele- nas limitada à onda terrestre e permite a desejável redundância.
gráfico - morse, na frequên- Encontramo-nos, neste momento, ainda numa fase de transição (a
cia de 500kHz e obrigatório nível mundial), sendo a data de 1 de Fevereiro de 2005 aquela
para todos os navios com apontada para a efectiva implementação do sistema. No entanto,
mais de 1600 TAB, e a utilização da frequência do Sistema Radiotelegráfico já foi desac-
• Sistema Radiotele- tivada para efeito de comunicações de Socorro.
fónico - na frequência de Até à completa instalação nos navios e nas unidades em terra de
O primeiro aparelho de transmissão sem fio. 2182kHz e 156.8 MHz equipamentos que permitam a utilização de outras técnicas e pro-
(CH16 - VHF IMM) e obri- tocolos que não o morse, nomeadamente na Marinha de Guerra
gatório para todos os navios com mais de 300 TAB. com a implementação do projecto BRASS, ainda se recorre ao
Apesar do elevado número de salvamentos efectuados, verifica- morse nas comunicações navio-terra e terra-navio, mas apenas
va-se a necessidade de aperfeiçoar o que estava até então conven- para efeitos de chamada e resposta, não para passagem de serviço.
cionado, isto porque o alcance das frequências era limitado (onda Só no campo das comunicações visuais o morse parece ter,
terrestre). Os sistemas eram manuais e dependia-se da perícia e ainda, algum futuro, por proporcionar uma alternativa fiável e
eficácia dos operadores. A sua concepção primária foi para as dirigida (com poucas probabilidades de intercepção) aos circuitos
comunicações navio-navio, apesar das estações costeiras abertas à tácticos, nomeadamente nas situações tácticas que impliquem o
correspondência pública terem de manter escuta contínua às fre- recurso ao silêncio rádio. No entanto, mesmo aqui a tendência
quências acima referidas durante o seu horário de serviço. será para a sua gradual substituição por sistemas electro-ópticos
Em 1979, a Organização Marítima Internacional, considerando a na banda dos infra-vermelhos, com equipamentos terminais de
influência dos arranjos existentes, decidiu implementar um novo codificação e descodificação automática, o que aumenta conside-
sistema para as comunicações marítimas de Socorro e Segurança, ravelmente a velocidade de passagem de informação, a confiança
de âmbito Global, automático, desenhado primariamente para e a segurança (ainda menores probabilidades de intercepção por
comunicações navio-terra e assente numa combinação de serviços elementos não-amigos), tornando mínima a intervenção humana
radio terrestres e satélite onde os requisitos de equipamentos fos- no processo.
sem em função das áreas onde Após um longo historial de múltiplos e valiosos serviços,
os navios navegassem. parece ter chegado, finalmente, a altura do código morse sair de
Assim, surge o Sistema cena e ocupar, definitivamente, o seu importante lugar na
Mundial de Socorro e Segu- História das Telecomunicações.
rança Marítima (SMSSM),
designação portuguesa atribuí- Félix Marques
CTEN
da ao Global Maritime Distress
and Safety System (GMDSS). A
data de implementação deste Bibliografia
“Evolução das Técnicas de Telecomunicação”,
sistema, que foi concebido para Julio Dal Poz, (www.del.ufrj.br)
proporcionar um método cre-
dível e global para as comuni- “As comunicações navais e a TSF na Armada”,
cações de Socorro e Segurança VALM Moura da Fonseca, 1988, Edições Culturais da Marinha
Marítimas, foi apontada para “GMDSS”,
1 de Fevereiro de 1999. As comunicações via satélite são uma CTEN Fonseca Ribeiro, 1TEN Fialho de Jesus, 1TEN Costa Cabral, Anais do
Facilmente se conclui que a componente fundamental do GMDSS Clube Militar Naval, Jul-Set 1998
REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 13