Page 380 - Revista da Armada
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A GENÉTICA NAVAL aviões de combate, QUADRO 4 - ALTERAÇÕES NA ESQUADRA PORTUGUESA
acabasse por ser Tipo Nome 1950 1955 1960
No início dos anos 50, não parecia substituída por ou- Dão
provável que a União Indiana tentasse tra menos ambicio- Douro
pela força a anexação dos territórios por- sa para um período C. Torp. Lima
tugueses. Apesar de dispor de um bem de 6 anos, a mari- Tejo
equipado exército de 480 000 homens e de nha indiana (cujos Vouga
Narval
uma força aérea com 11 esquadrões, a sua quadros superiores Nautilo
marinha era apenas constituída por um foram, de início, Neptuno
punhado de pequenos navios deixados guarnecidos por Submarinos Delfim
pelos ingleses. E sem uma marinha oficiais britânicos) Espadarte
poderosa, a Índia não se sentia em ia, pacientemente, Golfinho
condições de arriscar um confronto direc- reforçando o seu A.Albuquerque
to com Portugal. poder, aguardando B. Dias
No entanto, tratou logo de lançar um o momento certo Avisos G. Velho
ambicioso programa de edificação da sua de atacar (ver Qua- G. Zarco
J. Lisboa
força naval, pois com os seus 6000 dros 1 e 2). Portu- P. Nunes
quilómetros de costa e na sua qualidade gal, pelo contrário, Nuno Tristão
de candidata a potência regional no estagnava em ter- Diogo Gomes
Índico, necessitava de capacidade para mos de investi- Pero Escobar
projectar o seu poder por aquele extenso mento naval, um Fragatas Corte Real
oceano. Numa primeira fase, negociou, erro que já, em oca- Diogo Cão
então, com a Grã-Bretanha, a cedência de siões anteriores, Álvares Cabral
um cruzador (“Dehli” – ex-HMS pagara muito caro. Pacheco Pereira
“Achiles”) e três contra-torpedeiros a que Mas se a União
se viriam a juntar, em 1953, três fragatas Indiana ensaiava já a sua superioridade no uma carreira marítima regular com
emprestadas por um período de três anos. mar, Portugal detinha, ainda, um poder Moçambique e criando o Posto Radiona-
Porém, embora a perspectiva inicial de naval suficientemente dissuasor, pois a val de Goa (mais tarde Estação Radio-
aquisição, no intervalo de 15 anos, de 2 mera possibilidade de colocar na área um naval).
porta-aviões, 4 cruzadores, 16 contra- ou mais submarinos ou a eventualidade de No entanto, em Agosto de 1961, Nehru,
torpedeiros, 16 submarinos e cerca de 260 bombardeamentos de retaliação na costa que já seis anos antes afirmara que a Índia
do Malabar, leva- não estava preparada para tolerar a pre-
QUADRO 3 - PRINCIPAIS NAVIOS COMBATENTES PORTUGUESES vam Nehru a re- sença dos portugueses em Goa, ainda que
Tipo Nome Ano constr. Deslocamento Armamento Velocidade cuar perante as per- os goeses o quisessem, declarou que
Dão 1934 1238 T 2 – 4.7” das que poderia so- talvez tivesse chegado a altura de enviar o
Douro 1935 1238 T 5 – 40 mm frer numa hipo- seu exército para lá. Estava em boa
C. Torp. Lima 1933 1238 T 2 – 20 mm 36 nós tética aventura mi- posição para fazer tais afirmações, pois
Tejo 1935 1238 T 4T – 21” litar. dedicara os sete anos anteriores a reforçar
Vouga 1933 1238 T 1 morteiro
Durante a crise a marinha indiana (que o exército sempre
Narval 1944 715 T 1 – 4”
de 1954, o governo estivera preparado) com 6 draga-minas,
Nautilo 1945 715 T 1 – 20 mm
português decidiu um novo cruzador (o “Mysore” – ex-HMS
1 – ext 14/9 nós
Neptuno 1944 715 T
Submarinos 6T – 21” tornar permanente “Nigeria”), 5 modernas fragatas anti-
Delfim 1934 800 T a nossa presença -sumarinas (das classes “Whitby” e
1 – 4”
Espadarte 1934 800 T 16/9 nós naval (que até en- “Blackwood”) e 3 anti-aéreas (da classe
6T – 21”
Golfinho 1934 800 T tão se resumira à “Leopard”) e, finalmente, em Novembro
A.Albuquerque 1934 1783 T 4 – 4.7 ” escala ocasional de de 1961, um porta-aviões, o “Vikrant” (ex-
2 – 3 ” um ou outro navio HMS “Hercules”), cuja chegada (já devi-
B. Dias 1934 1788 T 8 – 20 mm 21 nós
de guerra em trân- damente modernizado, pois fora construí-
4 DCT
sito) no Estado da do em 1945 e adquirido em 1957) veio
G. Velho 1932 950 T 3 – 4.7”
Avisos
5 – 20 mm 16 nós Índia. Aos avisos exacerbar ainda mais o já exaltado orgu-
G. Zarco 1932 950 T
4DCT “Pedro Nunes” e lho nacional indiano (Fig. 1).
J. Lisboa 1937 1090 T 2 – 4.7” “Bartolomeu Dias” No sentido oposto, o governo por-
4 – 20 mm 16.5 nós vieram, então, jun- tuguês decidira já a redução dos efectivos
P. Nunes 1935 1090 T
4 DCT tar-se o “Gonçalo militares para metade (para poupar
Nuno Tristão 1943 1460 T 2 – 4“ Velho” e o “João de despesas e fazer face aos levantamentos
6 – 40 mm
20 nós Lisboa”, passando verificados na província de Angola, uma
Diogo Gomes 1943 1460 T 4 DCT
também a existir vez que Goa já tinha sido declarada “mili-
1 morteiro
duas lanchas de fis- tarmente indefensável” e bastava garantir
2 – 3”
2 – 40 mm calização (ver Qua- a presença de um dispositivo com capaci-
Pero Escobar 1957 1500 T 4 – 20 mm 32 nós dros 3 e 4). Procu- dade policial e anti-terrorista). Também a
3T – 21” rou-se, igualmente, força naval ficara reduzida com a saída
2 morteiros
Fragatas diminuir o isola- do aviso “João de Lisboa”, apenas per-
Corte Real 1944 1550 T 2 – 5” mento do território, manecendo nas águas de Goa o “Afonso
10 – 40 mm
Diogo Cão 1944 1350 T 1 ouriço 24 nós através do melho- de Albuquerque” e a lancha “Sirius”.
ramento do aero- Duas outras lanchas, a “Antares” e a
8 DCT
porto de Dabolim, “Vega” permaneciam, respectivamente,
Álvares Cabral 1945 1600 T 4 – 4”
6 – 40 mm desenvolvendo o em Damão e Diu.
Pacheco Pereira 1945 1600 T 1 ouriço 19 nós porto de Mormu- É de assinalar que, não obstante o facto
4 DCT gão, estabelecendo de a União Indiana dispor, desde a sua
18 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA