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Acção da Marinha Durante a
                  Acção da Marinha Durante a


         Invasão do Estado da Índia (1961)
          Invasão do Estado da Índia (1961)




         INTRODUÇÃO
               a noite de 17 para 18 de Dezem-
               bro, a União Indiana invadia os
         Nterritórios de Goa, Damão e Diu.
           Apesar da dimensão avassaladora do
         ataque, as tropas portuguesas portaram-
         se com grande dignidade, tendo estado
         muito longe da imagem de debandada
         que se generalizou na opinião pública
         portuguesa. Embora se tenham registado
         alguns casos de pânico e de rendição
         prematura, também se verificaram situ-
         ações de tenaz resistência, como sucedeu                                                                Foto cedida pelo Valm Sarmento Gouveia
         na ilha de Angediva e, de um modo
         geral, nos territórios de Damão e Diu.
         Talvez a falta de meios de comunicações
         e de uma eficiente rede de comando e
         controlo tenham reduzido a eficácia da  NRP “Afonso de Albuquerque”.
         resistência portuguesa (sem falar da
         esmagadora desproporção de efectivos),  • E, por fim, a incorporação da guar-  gão, mandou, então, picar a amarra,
         mas quando o prolongamento da luta    nição no núcleo de defesa concentra-  abrir fogo e sair o porto para enfrentar os
         apenas pode conduzir ao inútil sacrifício  do em Mormugão após o abandono  navios inimigos.
         de vidas (muitas das quais civis) e a uma  do navio.                    Destes foram transmitidos vários
         gratuita destruição de um património  Às 0640 foi recebida a bordo uma men-  sinais de morse acústico que, devido ao
         histórico milenar, a rendição torna-se a  sagem do Comando Naval informando  ruído do combate, não foram imediata-
         única opção inteligente.           que a invasão tinha sido desencadeada (a  mente descodificados.O Comandante
           Não foi, porém, esse facto que impediu  notícia já era, no entanto, conhecida  mandou suspender o fogo, tendo,
         a nossa Marinha de se bater com grande  desde as 0400, pois tinha sido transmiti-  porém, ordenado a sua continuação
         brio e honrar, de forma heróica, a glo-  da pela Emissora de Goa), tendo o pes-  antes de terem sido recebidas as duas
         riosa tradição naval dos nossos antepas-  soal ocupado postos de combate às 0655.  últimas letras que constituíam a única
         sados.                               Cerca de cinco minutos depois, a avia-  palavra da mensagem: “surrender”.
                                            ção inimiga bombardeava o aeroporto de  Nessa altura uma das fragatas foi atingi-
         ACÇÃO DO AVISO “AFONSO             Dabolim e a Estação Radionaval, que foi  da e foi rendida por um destroyer.
         DE ALBUQUERQUE” DURANTE            imediatamente reduzida ao silêncio. Às  O “Afonso de Albuquerque” estava,
         A INVASÃO DE GOA                   0730, porém, o navio estabeleceu comu-  porém, numa situação altamente desvan-
                                            nicações com Lisboa. Até às 1030 trans-  tajosa, pois manobrava numa área confi-
           No madrugada do dia 18 de Dezem-  mitiu (e recebeu) várias mensagens para  nada, enquanto os navios inimigos, aos
         bro, o aviso de 1ª classe “Afonso de  o Estado-Maior da Armada, dando conta  rumos norte e sul, fora do porto, podiam
         Albuquerque” encontrava-se fundeado  da sua posição e dos bombardeamentos  utilizar toda a sua artilharia. Também se
         em Mormugão. A sua guarnição entrara  observados. Uma das mensagens trans-  verificavam grandes disparidades ao
         no regime de prevenção rigorosa no dia  mitidas foi do Comandante-Chefe para a  nível do poder de fogo: cada fragata
         8 desse mês. Na eventualidade de uma  Defesa Nacional em que, mais uma vez,  indiana dispunha de 4 peças de 101 mm,
         invasão a sua missão era defender o  comunicava a falta de meios para fazer  com uma cadência de 60 tiros por minu-
         porto e impedir o desembarque de forças  face ao ataque.              to (e melhor capacidade de pontaria de-
         da União Indiana nas praias próximas. O  Por volta das 0900 foram avistadas ao  vido à existência de direcções de tiro),
         Plano de Operações do Comando Naval  largo de Mormugão três fragatas india-  enquanto o aviso português só possuía 4
         de Goa previa, além da acção naval con-  nas, tendo a guarnição ocupado os pos-  peças de 120 mm, com um ritmo de 2 ti-
         tra as forças navais indianas:     tos de combate de superfície (não existia  ros por minuto. Não tardou, assim, que o
           • O encalhe em local previamente esco-  a bordo pessoal suficiente para garantir  “Afonso de Albuquerque” sofresse os
            lhido quando, na sequência do com-  simultaneamente as componentes anti-  primeiros impactes, um dos quais atin-
            bate, corresse o risco de se afundar;   -superfície e anti-aérea, pelo que teve de  giu em cheio a torre directora, causando
           • Acção artilheira como bateria  acorrer ora a uma ora a outra, conforme  a morte do 1º grumete telegrafista Ro-
            costeira, defendendo o acesso ao  a ameaça do momento). Às 1200 as fra-  sário da Piedade e ferindo o Coman-
            porto;                          gatas aproavam ao porto a grande velo-  dante com gravidade. Este chamou o
           • A sua destruição quando se esgo-  cidade e abriam fogo com toda a sua  Chefe do Serviço de Navegação, 2º Te-
            tassem as munições, a sua artilharia  artilharia, tendo um dos cinco navios  nente Sarmento Gouveia, e pediu-lhe
            ficasse incapacitada ou as forças  mercantes fundeados na baía sido atingi-  que transmitisse ao Oficial Imediato a
            invasoras ameaçassem directamente  do. O Comandante do aviso, Capitão-de-  ordem de assumir o comando e de não
            Pangim;                         -Mar-e-Guerra António da Cunha Ara-  se render.

         20 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA
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