Page 227 - Revista da Armada
P. 227

Desta forma, as posições que aparecem nos mostradores dos  O DGPS EM PORTUGAL
         receptores GPS são, geralmente, expressas neste sistema de
         coordenadas. No entanto, com excepção das Cartas Electrónicas  Em algumas aplicações marítimas (por exemplo: entradas e
         de Navegação Oficiais (que estão referidas ao WGS-84), a  saídas de portos, calibração de sistemas inerciais de navegação,
         grande maioria das cartas náuticas, designadamente as de papel,  dragagens, levantamentos hidrográficos e posicionamento de
         não utilizam esse sistema de coordenadas. Só nas cartas de  bóias) e em algumas aplicações militares navais (designada-
         papel, de Portugal, editadas pelo Instituto Hidrográfico é possí-  mente navegação em canal rocegado, rocega de minas, reco-
         vel encontrar 7 sistemas de referência geodésicos diferentes, pois  nhecimento de praias e apoio de fogos) a performance do GPS é
         para cada local foi seleccionado um dado elipsóide e orientado  insuficiente, recorrendo-se, em quase todos os países desen-
         para melhor se adequar à forma da terra nesse local particular.  volvidos ao sistema Differential GPS (DGPS).
         Por exemplo, o sistema geodésico usado nas cartas da Madeira é  O princípio de funcionamento do DGPS consiste em colocar
         o elipsóide internacional de Hayford, de 1924, datum Porto  um receptor GPS num local de coordenadas conhecidas e com-
         Santo, que possui uma diferença de 550 metros relativamente ao  parar as coordenadas obtidas no receptor GPS com as coorde-
         WGS-84. Desta forma, os navegantes deverão converter as  nadas reais do receptor. A diferença de posição permite radio-
         posições do receptor GPS de WGS-84 para o datum da carta  fundir as correcções para os utilizadores nas proximidades. Com
         onde a posição vai ser marcada, aplicando a correcção indicada  o DGPS consegue-se uma precisão melhor do que 3m (95%).
         na própria carta, que no caso da Madeira é de 550 metros.  No entanto, o benefício mais significativo do DGPS para os
                                                              navegantes marítimos não é a melhoria da exactidão mas antes a
         PERFORMANCE DO SISTEMA                               monitorização permanente do estado de funcionamento dos
                                                                                              satélites GPS. O sis-
           Os satélites GPS                                                                   tema GPS não possui
         transmitem em 2 fre-                                                                 qualquer forma de avi-
         quências rádio de baixa                                                              sar, em tempo real, os
         potência, designadas                                                                 utilizadores da ocor-
         por L1 e L2, na banda                                                                rência de uma avaria
         de UHF. Na frequência                                                                ou falha num satélite.
         L1 (1575,42Mhz) são                                                                  Isto significa que o
         modulados dois códi-                                                                 GPS pode dar infor-
         gos: o código de aqui-                                                               mações erradas duran-
         sição livre: código C/A                                                              te períodos de 1 ou 2
         (Coarse/Acquisition),                                                                horas sem ter capa-
         modulado a 1,023Mhz,                                                                 cidade de avisar os uti-
         e o código militar: có-                                                              lizadores da disfunção.
         digo P (Precision), mo-  Fig. 1 – Esquema de funcionamento do sistema DGPS           Esta lacuna do sistema
         dulado a 10,23Mhz.                                                                   é compensada pelas
         Sobre a portadora L2                                                                 estações DGPS que
         (1227,6MHz) apenas é modulado o código P.            monitorizam, 24 horas por dia, a qualidade dos sinais GPS
           O código P apenas está acessível aos utilizadores militares  visíveis e caso detectem alguma disfunção ou avaria num satélite
         autorizados, sendo habitualmente cifrado, para aumentar a sua  notificam imediatamente os navegantes.
         segurança e resistência ao empastelamento e à mistificação. O  O Instituto Hidrográfico está a instalar, actualmente, uma rede
         código P, quando cifrado, designa-se por código P(Y), sendo  DGPS em Portugal continental, que se prevê comece a funcionar
         necessária uma “chave” secreta para o conseguir receber.    no verão deste ano. Seguir-se-ão testes de validação, tanto no
           Ambas as portadoras são, ainda, moduladas com uma men-  mar como em terra, entre Setembro de 2002 e Setembro de
         sagem de navegação contendo informação necessária à determi-  2003. Serão instaladas 2 estações DGPS (uma em Sagres e outra
         nação da posição do satélite. Os sinais são enviados em linha  no Cabo Carvoeiro) e uma estação de controlo, na Direcção de
         directa e passam através de nuvens, vidros, plásticos, mas não  Faróis. Além destas estações, a instalar no continente, também
         atravessam corpos sólidos, grandes construções ou montanhas e,  estão previstas estações DGPS para a Madeira e para os Açores,
         por isso, os receptores GPS não funcionam, habitualmente, den-  cujo concurso está previsto iniciar-se no final de 2002 ou início
         tro de casas e debaixo de água ou de terra.          de 2003.
           A exactidão da posição é condicionada por atrasos que os
         sinais dos satélites sofrem na passagem pela ionosfera e tropos- APLICAÇÕES DO GPS
         fera, por reflexões em grandes construções ou montanhas (multi-
         trajecto), pelos erros dos relógios dos satélites, por erros nas  Apresentam-se de seguida algumas aplicações mais recentes
         órbitas dos satélites, pelo ruído do receptor GPS e pela quali-  ou curiosas do GPS.
         dade da sua antena.
           Além destes erros, o Departamento de Defesa dos EUA intro-  Aplicações militares
         duziu durante vários anos uma degradação intencional da per-  O GPS já demostrou ser um instrumento de grande valor para
         formance do sistema, designada por Selective Availability, que  as forças militares norte americanas e aliadas. A operação
         consistia na manipulação dos relógios dos satélites, de forma a  “Tempestade do deserto” teria sido muito dificultada sem o GPS,
         originar erros de posicionamento, para os utilizadores do código  pois no deserto a paisagem é sempre igual e faltam pontos cons-
         C/A, na ordem dos 100 metros (95%).                  pícuos que auxiliem a localização. Com o GPS, os soldados
           Esta degradação intencional do sinal do GPS não afectava os  estavam aptos a ir para qualquer lugar, mesmo à noite e sob
         utilizadores militares autorizados, uma vez que estes tinham  tempestades de areia. Inicialmente foram comprados 1000
         acesso ao código P(Y), obtendo uma exactidão significativa-  receptores comerciais portáteis para esse uso, mas os resultados
         mente melhor do que essa.                            foram tão bons que antes do fim do conflito foram distribuídos
           A Selective Availability foi desactivada a 1 de Maio de 2000 e,  mais de 9000 receptores comerciais.
         em Outubro de 2001, as autoridades americanas actualizaram  Em termos militares, a importância do GPS tem vindo a
         os performance standards do sistema GPS, assegurando uma  aumentar cada vez mais, servindo, entre outras aplicações, para
         exactidão que pode variar entre 13m (95%) e 36m (95%).  efectuar o guiamento de mísseis balísticos e de cruzeiro, como
                                                                                        REVISTA DA ARMADA • JULHO 2002  9
   222   223   224   225   226   227   228   229   230   231   232