Page 229 - Revista da Armada
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emite frequências para uma caixa (Unidade de Monitorização visão que fazem a sua cobertura para calcular a distância entre
Local) que pode enviar, por telefone (móvel ou rede fixa), infor- fugitivos e o pelotão.
mação sobre a localização do arguido. O sistema de posiciona- Alguns serviços de protecção civil já utilizam o GPS desde há
mento associado ao SVEA é o GPS. alguns anos. Por exemplo, uma equipa de salvamento norte
Uma das mais recentes modas, nos EUA, é o controlo da americana utiliza, desde 1992, um receptor GPS em ambu-
localização de crianças. Foi lançado, recentemente, um sistema lâncias com o objectivo de guiar os helicópteros dos serviços
que permite aos pais saberem onde se encontram os seus filhos. médicos até elas muito mais rapidamente e em situações onde a
O sistema consiste, basicamente, numa pulseira semelhante a visibilidade é reduzida.
um relógio que emite para um operador de rede móvel os dados Em Oeiras vai ser implementado este ano um projecto que
de posicionamento (obtidos pelo GPS) do detentor da pulseira. visa gerir as frotas de taxis, carros de bombeiros e ambulâncias.
Já há mesmo projectos no sentido de implantar um microchip na No caso dos taxis, o objectivo é melhorar a segurança dos
epiderme que permitirá, não só a localização do seu portador, motoristas e facilitar o sistema de reservas telefónicas. Nas
mas também a sua identificação perante outros sistemas, como ambulâncias e nos carros dos bombeiros, o objectivo é a
por exemplo o multibanco. redução do tempo de chegada a um determinado local. Neste
Aquele que é, provavelmente, o maior desafio futuro ao GPS município, também estão a ser instalados chips em 6 mil con-
decorre do requisito, já aprovado nos EUA, para que todos os tentores de lixo a fim de optimizar os 14 circuitos efectuados
telemóveis forneçam a sua posição nas chamadas de emergên- diariamente pelos 22 camiões de lixo. Sempre que um caixote
cia. A legislação americana ainda não obriga os telemóveis a ter de lixo é levantado, esse chip envia um sinal pela rede de
esta capacidade, estando a ser estudadas várias alternativas para telemóvel indicando a identificação e a hora.
a sua implementação prática no futuro próximo, sendo certo que
a Europa se seguirá, não só na aprovação de legislação seme- O FUTURO: GALILEO VERSUS GPS
lhante, mas também na sua implementação. Neste momento, a
alternativa que se afigura mais viável e mais barata, passa pela Como é fácil perceber, seria impossível enumerar toda a mul-
instalação de micro-receptores GPS nos telemóveis. O maior tiplicidade de usos do GPS, pois todos os dias surgem novas
obstáculo (e também o maior desafio) associado a esta solução aplicações, como, por exemplo, os recentes relógios de pulso
reside na dificuldade de obter a posição GPS no interior de edifí- com receptor GPS incorporado (ver figura 4).
cios. De qualquer maneira, se se vier a optar por esta solução, O futuro do GPS é ilimitado, quase tanto como a nossa imagi-
isso representará um crescimento verdadeiramente fabuloso no nação, pelo que foi com naturalidade que a União Europeia
número de utilizadores de GPS: só na Europa Ocidental já há decidiu seguir os passos dos EUA, tendo aprovado recentemente
mais do que 200 milhões de telemóveis, prevendo-se atingir os (Março de 2002) a criação de um sistema próprio, semelhante
300 milhões em 2004. ao GPS, designado por GALILEO, cuja entrada em funcionamen-
to se prevê para 2008. Este sistema deverá ter 30 satélites a
Aplicações no desporto orbitar a 24 mil Km de altitude (4 mil Km acima dos satélites do
O GPS é actualmente usado em todas as modalidades GPS). A União Europeia pretende com este sistema assegurar
desportivas onde é necessária a posição, como por exemplo, uma autonomia estratégica em relação aos EUA, embora este
regatas de vela, corridas de balões, ralis e provas de todo o ter- projecto tenha levantado algumas dúvidas no seio dos 15,
reno (com particular destaque para provas como o Granada- nomeadamente quanto à viabilidade económica do GALILEO
-Dakar, em que o GPS veio revolucionar e simplificar a forma de (que custará cerca de 3,2 biliões de Euros) e quanto à possibili-
navegação efectuada), etc. dade de utilização militar do sistema. Apesar da oposição de
Nas grandes provas velocipédicas, incluindo a Volta a países como a França, acabou por ficar decidido que o GALILEO
Portugal em Bicicleta, o GPS é utilizado pelas cadeias de tele- será um sistema inteiramente civil, não estando previsto qual-
quer serviço destinado às forças armadas, ao contrário do que
acontece com o GPS, que possui o código P(Y), só acessível a
utilizadores militares autorizados.
Além da preocupação em eliminar a dependência relativa-
mente aos EUA, a outra força motriz do GALILEO foi a pers-
pectiva de benefícios económicos que ele pode acarretar para as
empresas e firmas europeias. A indústria em torno do GPS gera
actualmente cerca de 12 mil milhões de dólares por ano, que
caiem quase exclusivamente em bolsos americanos. Com o
GALILEO a Europa espera captar uma fatia significativa desse
bolo, estando as indústrias europeias a começar a apostar na
produção de receptores GPS, uma área em que as firmas ameri-
canas dominavam sem concorrência.
Enquanto na Europa se dão os primeiros passos no projecto
GALILEO, as autoridades norte americanas conceberam um
plano de modernização do GPS que o tornará mais exacto e mais
fiável. Essa modernização do GPS vai passar, sobretudo, pela
adição de mais sinais para os utilizadores civis, pela introdução
de um novo código para os utilizadores militares (código M) e
pelo desenvolvimento de novos, e mais modernos, satélites.
Por aqui se percebe que os norte americanos não vão facilitar
a tarefa do GALILEO, pois este, quando ficar operacional (previ-
sivelmente em 2008), terá que competir com um GPS forte-
mente implantado no mercado e com uma performance ainda
melhor do que a actual.
Dias Correia, CTEN
Fig.4 – Relógio de pulso com GPS incorporado. Sardinha Monteiro, 1TEN
REVISTA DA ARMADA • JULHO 2002 11