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A EXTINÇÃO DA AVIAÇÃO NAVAL
                      A EXTINÇÃO DA AVIAÇÃO NAVAL


         Breve historial de uma vida curta com final polémico
         Breve historial de uma vida curta com final polémico

                                                     (1ª Parte)



           A Aviação Naval nasceu em
         1917 e foi extinta em 1952.
           Em 28/Setembro/1917, pelo
         Dec. 3395, foi criado o Serviço
         de Aviação da Armada com a
         Escola anexa, subordinada à
         Majoria General da Armada.
         Esta decisão governamental
         deveu-se, em grande parte, à
         iniciativa do Comandante Sa-
         cadura Cabral, já então breve-
         tado como aviador-naval, e
         sendo o verdadeiro inspirador
         e impulsionador da nascente
         Aviação Marítima, depois de-
         signada Aeronáutica Naval.
           Em 27/Maio/1952 foi publica-     1916 – O primeiro curso da Escola Militar de Aeronáutica de Vila Nova da Raínha. Salienta-se no centro o 1TEN Sacadura
         da a Lei n.º 2055, estabelecen-    Cabral (Chefe de Instrução), tendo à sua direita o 2TEN AN Caseiro e em pé à esquerda o 2TEN Azeredo de Vasconcelos.
         do a estrutura orgânica do         General da Armada. O Comandante    nível, e com meios aéreos modestos ou ina-
         recentemente criado Subsecre-      Sacadura Cabral foi encarregado de estudar  dequados, o Centro do Bom Sucesso merece
         tariado de Estado da Aero-         a localização de um Centro na região de  permanecer na memória histórica em po-
                                            Lisboa, tendo seleccionado a zona do Alfeite,
                                                                               sição privilegiada, por estar ligado às origens
         náutica, prevendo-se a unifi-      beneficiando do excelente espelho de água  e a factos relevantes da Aviação Naval.
         cação das Forças Aéreas (do        do Mar da Palha e utilizando terrenos do  Quando Portugal foi envolvido na
         Exército e da Marinha), na         Estado para as infraestruturas. Porém não foi  1ª Grande Guerra em 1916, devido à decla-
         dependência desse departa-         possível ocupar essa posição privilegiada,  ração de guerra pela Alemanha, os gover-
                                                                               nos português e francês acordaram em esta-
                                            tendo-se então optado pela utilização da
         mento governamental.               Doca do Bom Sucesso, a título provisório.  belecer bases aéreas para vigilância anti-
           Em 01/Janeiro/1953 já não        Em 14/Dezembro/1917 entraram na Doca  submarina das nossas costas. Dos estudos
         existia Aviação Naval como         do Bom Sucesso os dois primeiros hidroa-  efectuados, resultou o estabelecimento de
                                                                               um centro em S. Jacinto, guarnecido pela
                                            viões da Aviação Naval, os FBA, de fabrico
         ramo da Marinha de Guerra.         francês.                           Aeronavale francesa, a que foi atribuída a
           Na presente comunicação            A situação provisória do Centro do Bom  vigilância para norte de S. Martinho do
         apresentarei uma breve inven-      Sucesso manteve-se até à extinção da aviação  Porto, ficando toda a restante costa a cargo
         tariação das infraestruturas e     Naval em 1952. Apesar disso, e não obstante  do nosso Centro do Bom Sucesso, equipado
                                            a modéstia das suas instalações e equipa-
                                                                               com hidroaviões Tellier e DD8. Admitiu-se
         dos meios materiais e huma-        mentos, e das desfavoráveis condições do rio  ainda a possibilidade de um outro Centro
         nos ao serviço da Aviação          para as operações de descolagem e ama-  na Ilha da Culatra, vigiando a costa algar-
         Naval. Na próxima edição           ragem, o Centro do Bom Sucesso adquiriu,  via. Embora tivessem sido aí construídas
         abordarei os factos mais rele-     ao longo dos anos, uma aura de Base-mater  algumas instalações, não chegaram a ser
                                            da Aviação Naval. Isto, porque ali operaram
                                                                               utilizadas operacionalmente.
         vantes da sua curta história, e    os nossos pioneiros – pilotos-aviadores,  Após o armistício, o Centro de S. Jacinto foi
         finalmente o processo da sua       mecânicos, artífices – e ali foram recebidos  entregue pelo comando francês à Aviação
         extinção.                          outros pioneiros da aviação mundial. E foi  Marítima portuguesa, em Dezembro de 1918.
                                            no Bom Sucesso que se planearam e dali par-  Em 1935, a Escola de Aviação que fun-
                                            tiram alguns dos voos mais notáveis da  cionava no Centro do Bom Sucesso foi trans-
         OS CENTROS OPERACIONAIS DA         nossa Aviação.                     ferida para S. Jacinto, com a designação de
         AVIAÇÃO NAVAL                        Até 1935 funcionou também no Bom  Escola de Aviação Naval Almirante Gago
                                            Sucesso a Escola de Aviação, embora com  Coutinho. A partir de então, desenvolveram-
           O Decreto que criou o Serviço de Aviação  actividade intermitente. Naquele ano foi  -se e aperfeiçoaram-se os cursos de pilotos-
         da Armada previa o estabelecimento de  transferida para S. Jacinto.   -aviadores, engenheiros, mecânicos e artí-
         Centros de Aviação Marítima, subordinados  Embora sem grandes planos operacionais  fices de aviação. A instrução de descolagens
         a um Director, na dependência da Majoria  por falta de orientações estratégicas a alto  e amaragens era efectuada na ria da Torreira,
                                                                                       REVISTA DA ARMADA • JULHO 2002 17
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