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Açores (CANA), para vigilância das águas
                                                                               territoriais.
                                                                                 Este Centro foi equipado com hidroaviões
                                                                               Grumman G-21 e Widgeon G-44 anfíbios,
                                                                               estes sem poder militar e com pequeno raio
                                                                               de acção. Os voos de reconhecimento com
                                                                               estes aviões limitavam-se às águas do grupo
                                                                               oriental das ilhas. Com os G-21 efectuaram-
                                                                               -se dezenas de voos mais longos em busca
                                                                               de náufragos dos navios torpedeados.
                                                                                 Em 1946, terminadas as missões de tempo
                                                                               de guerra, o Centro de Aviação Naval dos
                                                                               Açores foi encerrado, regressando a Lisboa
                                                                               todo o pessoal e material de voo.
                                                                                 Em 1943, como compensação de apoios
                                                                               prestados no contexto da nossa “neutrali-
                                                                               dade colaborante”, a Inglaterra forneceu a
                                                                               Portugal, para reforço do equipamento
                                                                               aeronaval, 16 aviões Blenheim, bimotores
                                                                               bombardeiros, de rodas. A recepção deste
                                                                               equipamento implicou a instalação de uma
                                                                               infraestrutura mais que modesta na Portela
         Zona do Porto de Ponta Delgada destinada exclusivamente ao uso por hidroaviões da Aviação Naval cujas instalações
         se encontravam no hangar.                                             de Sacavém, ficando essa unidade designa-
                                                                               da por Esquadrilha B. Os aviões eram já
         Portugal num montante superior a 50 mi-  desordenadas, sem marcas e sem plano de  muito usados, criando constantes problemas
         lhões de USD.                      montagem. Contratada uma empresa de  aos mecânicos e preocupações em voo aos
           Em 1918, ainda em tempo da 1ª Grande  construção do Porto, esta limitou-se a cons-  pilotos. A agravar esta situação, os bimotores
         Guerra, foi considerado necessário estabele-  truir as fundações, desistindo do restante tra-  Oxford, para instrução avançada, só foram
         cer serviços aéreos nos Açores, não só para a  balho, face ao enigma que se lhe apresenta-  entregues posteriormente, pelo que os pilo-
         vigilância das águas territoriais, mas também  va. Então, o Eng.º Pereira Bastos, em serviço  tos foram forçados a aceitar esta inversão de
         para apoio à navegação transatlântica, medi-  em S. Jacinto, pondo à prova as especiais  tarefas e enfrentar todas as dificuldades da
         ante assistência radiotelegráfica e meteo-  capacidades individuais dos portugueses  operação dos Blenheim sem a devida
         rológica.                          perante situações destas, mais a lucidez da  preparação.
           Relativamente ao serviço aéreo, planeou-  sua própria inteligência, abalançou-se a  Mais tarde, ainda dentro das referidas
         se a instalação de um Centro em Ponta  resolver o “puzzle”. Com a ajuda de um  compensações da colaboração portuguesa,
         Delgada, tendo-se adquirido nos EUA 4  carpinteiro e um serralheiro, lançou-se na  foram recebidos na (malfadada) Esqua-
         hidroaviões Curtis-HS, e um grande hangar  reprodução em cartão de todas as peças do  drilha B, 17 bimotores bombardeiros
         metálico, que veio desmontado, com todas  granel, uma a uma, em escala reduzida.  Beaufighter, já usados e tão mal tratados
         as peças devidamente marcadas para a sub-  Seguidamente, ensaiou-se a montagem,  como os anteriores. Estes últimos chegaram
         sequente montagem. Mas este material,  procurando a sequência e correlação das  mesmo a registar um grave acidente, fatal
         desembarcado em Ponta Delgada em 1919  peças, até se conseguir completar uma  para 3 tripulantes.
         (já finda a guerra), quedou-se por largo  maqueta em miniatura. A partir daí com a  Tudo isto caracteriza a Esquadrilha B
         tempo sujeito à intempérie, tendo enferruja-  ajuda de mais dois sargentos e meia dúzia de  como a mais lamentável situação histórica da
         do e perdido as marcas de montagem.  marujos, procedeu-se à montagem do  Aviação Naval.
           Em 1921 todo o pessoal regressou a Lisboa,  hangar, com 40m de vão, 60m de compri-  Ao longo dos anos, manteve-se a aspi-
         procedendo-se à transferência dos aviões  mento e 20 de altura (o maior da Península  ração da Aviação Naval de conseguir uma
         para o Bom Sucesso, seguindo as peças do  Ibérica), que ficou pronto em 4 messes!...  alternativa adequada para a situação pro-
         hangar para S. Jacinto.              Em 1941, no decurso da 2ª Guerra Mun-  visória do Bom Sucesso. A ideia inicial de
           A história deste hangar atingiu então o seu  dial, foi novamente instalado em Ponta  Sacadura Cabral de utilização do Alfeite foi
         ponto rocambolesco. As peças estavam todas  Delgada o Centro de Aviação Naval dos  definitivamente posta de lado desde que


                                                Aviões da Aviação Naval



















                                        GRUMMAN G-21                                             HELLDIVER

                                                                                       REVISTA DA ARMADA • JULHO 2002 19
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