Page 82 - Revista da Armada
P. 82

As “Lágrimas Portuguesas”
             As “Lágrimas Portuguesas”


         pela tragédia do “Aquidaban”
         pela tragédia do “Aquidaban”





                      O Mar
            - Minha mãi que voz é aquella,
            que vem das bandas do mar?
            - Meu filho, é a voz da procella,
            são as ondas a chorar!
            - Minha mãi, porque é que choram,
            se ninguém lhes foi batêr?
            - Meu filho, é porque deploram
            os que nellas vão morrêr!
            - Porque é que o mar se lamenta
            hoje e ontem, sempre assim?
            - Porque encerra e representa
            prantos e mágoas sem fim,
            os gemidos lancinantes
            que aos lábios de filhos vêm,
            pranto de irmãos e de amantes,  O couraçado “Aquidaban”.
            benditos prantos de mãi!
                         Cândido de Figueiredo, 4-III-06  Em frente a Angra dos Reis, um pouco  esperava mais notícias do Rio de Janeiro.
                                            a leste do Rio de Janeiro e por dentro da  Mesmo no Brasil, só pela tarde desse dia,
              amentos dos que vão e dos que na  Ilha Grande, três grandes navios bra-  com a entrada do “Barroso” em Gua-
              praia ficam são lamentos de um desti-  sileiros fundeavam depois de um dia de  nabara, desembarcando o Ministro,
         L no que se repete sem fim. O choro das  sondagens e observações com vista a um  alguns oficiais da comitiva e muitos feri-
         ondas é um canto de sereia, como muito  estudo para a implantação de um novo  dos, é que se apuravam alguns por-
         bem sabem os portugueses, e as lágrimas  porto militar, com um Arsenal e demais  menores. O Jornal O Paiz que tinha um
         derramadas no Atlântico um fado de sécu-  instalações para a Marinha Brasileira.  repórter a bordo do “Tiradentes” publica-
         los, daqueles que vale a pena, porque a alma  Eram eles o couraçado “Aquidaban” e os  va um relato trágico que viria a ser trans-
         não é pequena – como nos disse o poeta.  cruzadores “Tiradentes” e “Barroso”,  crito no O Século de dia 8 de Fevereiro:
         Mas este pranto português – aqui agora  onde estava embarcado o Ministro da  “A bordo do Tiradentes entre-
         expresso nos versos de Cândido de Figuei-  Marinha, Vice-almirante Júlio César de  tinham-se em alegre palestra o capitão
         redo – não foi um pranto de quem viu velas  Noronha. As perdas em vidas são imen-  de fragata Adelino Martins, capitão de
         a desaparecer no horizonte. Foram as  sas como pode calcular-se. A guarnição  corveta Sousa Franco, capitão-tenente
         Lágrimas Portuguesas derramadas em pági-  do navio acidentado é de cerca de 400  Carlos Frederico de Noronha, ajudante
         nas de escrita expressiva, por alguns dos  homens e a rapidez com que tudo se  de ordens do almirante Huet Bacellar,
         mais brilhantes intelectuais da nossa terra, a  deu, não permitiu salvar a maioria dos  director da Escola Naval, e o repórter
         quando do naufrágio do couraçado bra-  náufragos                        especial do Paiz, sr. Gomes da Silva.
         sileiro “Aquidaban”, que em 21 de Janeiro  No dia 22, os jornais de Lisboa dão uma  Eram 10 horas e 45 minutos da noite.
         de 1906, se afundou num instante, após uma  notícia lacónica: “tragédia no Brasil.  A conversa versava interessante, sobre
         violenta explosão no paiol de pólvora.  Explosão em navio couraçado arrasta  a excursão que às primeiras horas do
                                            para o fundo mais de 300 vítimas”.   dia de hontem [seria o dia 22 de
                                            Mesmo ao lado anunciava-se as represen-  Janeiro] que o ministro e demais offi-
                                            tações da “Vénus”, com Palmira Bastos,  ciais deviam fazer a cavallo, nos
                                            no teatro Rainha D. Amélia (actual S. Luís).  arredores de Jacuacanga, para estudos
                                            Portugal estava perplexo com os telexes e  topographicos.


















         ALM Júlio de Noronha, então ministro da Marinha do
         Brasil. Embarcado no “Barroso”, assistiu à tragédia onde  ALM Candido Brazil, CALM Calheiros da Graça e CALM Rodrigues da Rocha vitimas do desastre do “Aquidaban” -
         morreu o seu filho.                imagens do jornal “O Século” (Janeiro de 1906).
         8 MARÇO 2002 • REVISTA DA ARMADA
   77   78   79   80   81   82   83   84   85   86   87