Page 84 - Revista da Armada
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Grupo “Os Vencidos da Vida”. O primeiro da esquerda é o Conde de Sabugosa, o Conde Arnoso pode ver-se à direita
na terceira posição, a seguir a Oliveira Martins e Eça de Queiroz. Fialho de Almeida não estava presente.
entre as várias realizações, a Comissão Moreno) ,... – e estou a citar apenas
promoveu a celebração de solenes alguns dos mais conhecidos, desculpan-
exéquias na igreja de S. Domingos, a 23 de do-me da injustiça de não os citar
Fevereiro, e lançou um apelo aos intelec- todos, porque seria impossível fazê-lo
tuais portugueses, para que escrevessem, nos limites de um artigo deste tipo. Este
de seu próprio punho, uma mensagem livro ficou religiosamente guardado Manuel d’Arriaga.
de luto e solidariedade. Para o efeito pela Marinha Brasileira - que não
foram distribuídas folhas de papel esqueceu o carinho português num mundo todo, porque todo o mundo ama
próprias que registariam os manuscritos, momento tão dramático - e quando da o Brazil. Teve-a por sua Portugal,
e seriam encadernadas num livro a visita a Portugal do Comandante da porque este, além do amor, tem o
enviar ao governo do Brasil. A 16 de Marinha do Brasil, Almirante Chagas- sangue, a raça, a língua, a tradição e o
Março de 1906, teve lugar uma récita no teles, no último dia da Marinha, ofere- ideal” – terminando com a expressão da
Teatro D. Amélia (hoje S. Luís), cuja ceu ao Almirante CEMA uma cópia esperança e sonho de quem quase se
receita reverteu a favor das famílias das desta preciosidade. É assim que os tex- sente com duas pátrias – “É esse o me-
vítimas: aí foram lidas algumas das men- tos manuscritos voltam a atravessar o lhor reflexo que esse movimento me
sagens já escritas, e concluiu-se o livro a Atlântico para nos dar a conhecer um espalha no coração. É que vejo caminhar
que foi dado o título de Lágrimas momento difícil, mas de grande soli- para o seu fim esse grande ideal meu –
Portuguesas. Setenta e seis mensagens dariedade entre portugueses e bra- fundir estes dois povos em aspirações
manuscritas pelo punho dos seus sileiros. São recordações que fariam communs”.
próprios autores, envolvendo nomes felizes os que na altura verteram lágri- No resto do livro é importante registar
como Abel Botelho, Afonso Lopes Vieira, mas, e ao pensarmos neles sentimo-nos a presença de alguns belos poemas –
Angelina Vidal, Anna de Castro Osório, felizes também. como o de Cândido de Figueiredo, que
António Batalha Reis, Branca de Gonta As mensagens foram colocadas por transcrevemos – e salientar um aspecto
Colaço, Bulhão Pato, Conde d’Arnoso, ordem alfabética dos seus autores, e a importante do sentimento comum
Conde de Sabugosa, Cândido de primeira é de António Zeferino Cândido,
Figueiredo, Fialho de Almeida, Ferreira português nascido na Sertã, doutorado
do Amaral, Gomes Leal, Henrique Lopes em Matemáticas pela Universidade de
de Mendonça, João da Câmara, Júlio Coimbra, entusiasta de uma reforma da
Dantas, Manuel d’Arriaga, Sousa instrução pública e adepto fervoroso da
Viterbo, Teixeira de Queirós (Bento utilização da Cartilha Maternal de João de
Deus. Nessa condição se deslocou ao
Brasil em 1878 e por aí ficou por vinte
anos, dedicando-se a diversas iniciativas
que ultrapassaram as intenções da al-
fabetização generalizada e da instrução
da Língua Portuguesa. Regressou a
Portugal em 1901 e a sua acção pública
teve sempre a ver com a ligação entre
Portugal e o Brasil, na condição de paí-
ses irmãos, “com aspirações comuns”,
como dizia. Presumo que a ele se deve a
mais activa militância para obter esta
compilação de manuscritos, não só
porque algumas mensagens a ele se re-
ferem explicitamente, mas também
porque o tom do seu texto soa como
uma espécie de conclusão sobre a forma
como a dor brasileira foi acolhida em
Portugal. Diz-nos ele: “Foi uma grande
desgraça, foi; mas nenhuma já foi mais
partilhada. Não é uma compensação,
mas é um doce alívio” – e acrescenta
Bulhão Pato. mais à frente - “Sentiu-a e chorou-a o A mensagem de Júlio Dantas.
10 MARÇO 2002 • REVISTA DA ARMADA