Page 86 - Revista da Armada
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Um dia na ...
           Um dia na ...


                           Direcção de Faróis
                            Direcção de Faróis





         Tendo por pano de fundo o
         farol do Bugio, um dos mais
         emblemáticos de Portugal, que
         com o do Forte de S. Julião da
         Barra define a Linha Entre
         Torres que, administrativa-
         mente, separa as águas do Tejo
         das do Atlântico, alinham-se
         discretamente entre o muro
         que acompanha a estrada mar-
         ginal e a vasta doca, hoje muito
         assoreada, os edifícios da
         Direcção de Faróis.                Administração e Oficinas.

           nstituída em 1924 e instalada em Paço de  marítimos ou junto ao mar, sinalizar canais  farolins, bóias de sinalização carregadas de
           Arcos desde 1959, no ano em que se cons-  de acesso a novas marinas ou se levanta uma  ferrugem, cheias de amolgadelas e com os
        Itruiu o último farol no actual território  obra numa área navegável como aconteceu,  verdugos apodrecidos ou mesmo arrancados
         nacional, o de S. Jorge,na costa N da ilha da  em 1998, com a ponte «Vasco da Gama».  e as estruturas meio corroídas, enfim, sinais
         Madeira, prossegue as actividades resultantes  No rés-do-chão de uma ala perpendicular  dos serviços prestados à segurança da nave-
         da responsabilidade pelos faróis que, depois  àquele, os 43 militares, 57 militarizados e 26  gação em meio hostil ... desde a sua última
         de um atribulado percurso, foi cometida à  civis que fazem funcionar a DF e os alunos  passagem pela DF.
         Marinha no já distante ano de 1892.  dos seus cursos de formação dispõem de um  Segundo o que prevê um Plano de
           Parte integrante do Sistema de Autoridade  espaçoso refeitório e, no primeiro andar,  Manutenção Preventiva interno, as bóias
         Marítima (SAM) sob a dependência da  encontram, os formandos, alojamento.  metálicas podem permanecer até cinco anos
         Direcção Geral de Marinha (DGM)(1), tem  Depois, para nascente, erguem-se edifícios  no mar, caso nada de extraordinário venha a
         sido poupada ao desmantelamento da cul-  de traça fabril onde, além das diversas ofici-  exigir uma intervenção que terá sempre um
         tura organizacional marítima que se caracte-  nas, estão instalados um funcional auditório e  carácter de urgência pois afectará o objectivo
         riza hoje pela onerosa e ineficaz pulveriza-                          primeiro da sua existência num preciso local
         ção de responsabilidades e inerentes activi-                          e obedecendo a características específicas,
         dades que uma experiência secular havia                               publicadas pelo Instituto Hidrográfico na
         sabiamente articulado no extinto Ministério                           Lista de Luzes e repercutida internacional-
         da Marinha.                                                           mente em roteiros, cartas, etc. ...(3)
           O Serviço Público que quase anonima-                                  Assim e em média são, por ano, substituí-
         mente presta, desenvolve-se na sua sede e ao                          das 30 das 166 bóias, além de serem inter-
         longo das costas do continente e das ilhas                            vencionadas 170 bóias da rede de baliza-
         dos arquipélagos da Madeira e dos Açores e                            gem, que inclui ainda 316 farolins, 28 sinais
         nas nossas águas interiores, mas extravasa o                          sonoros e 19 balizas em terra.
         território nacional, como veremos.                                      Estas bóias são imensos cilindros de 2,4 m
           A poente, um edifício de traça mais mo-                             de altura e com um diâmetro de 2,2 m,
         derna, paralelo ao rio, acolhe a adminis-                             tendo, na linha de flutuação e a toda a volta,
         tração e todos os serviços burocráticos que                           um verdugo que serve de defensa e no topo
         apoiam a gestão e a correspondência com os                            superior a estrutura que eleva a lanterna, alvo
         faróis e as Capitanias dos Portos que, no ter-  Conservação da antiga lente de Fresnel da Berlenga.  (visual) e reflector radar, que no outro, um
         reno por eles respondem logística e adminis-                          forte olhal assegurará a fixação, através de
         trativamente, e com os organismos com  um polo museológico que, além de dar  uma amarra, a uma poita, tudo assistido ou
         quem, directa ou indirectamente, trabalha.  apoio a núcleos anexos a alguns faróis, dis-  feito na DF.
           Aí também funciona o seu Gabinete de  põe de oficina de restauro e alberga peças de  É às diversas oficinas do Serviço de
         Estudos que, dotado de um pequeno gabi-  significativo valor patrimonial desde a pedra  Mecânica e Balizagem que compete a sua
         nete de desenho, uma secretaria e um arqui-  de armas do Bugio (Ver RA nº 345)  até uma  recuperação, depois de terem sido recolhidas
         vo, fornece assessoria técnica, procede a  óptica de Fresnel que se admite ser uma das  e para aqui transportadas.
         estudos de actualização de equipamentos e  maiores do mundo ou, pelo menos, da  Na Oficina de Decapagem restaura-se a
         elabora pareceres sobre a Servidão Marítima  Europa e que esteve instalada no farol da ilha  superfície metálica e nas de Serralharia e de
         que o SAM ou a DGM lhe solicitam, como  Berlenga até 1985(2).         Balizagem corrigem-se as deficiências e pro-
         acontece sempre que se pretende construir  No exterior, a aguardar nova intervenção,  cede-se, em estufa, às várias pinturas que a
         edifícios na próximidade de assinalamentos  podem ver-se, além de degradadas bases de  água salgada impõe. Novos verdugos são ta-

         12 MARÇO 2002 • REVISTA DA ARMADA
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