Page 353 - Revista da Armada
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Virgílio de Carvalho
Virgílio de Carvalho
O arauto da maritimidade
aleceu recentemente o Comandan- sobre assuntos respeitantes aos cenários de matriz económica, acentuada pela fede-
te Virgílio de Carvalho. Deixou-nos mundial, europeu e nacional. ralização europeia redutora da soberania
Fo Homem, ficou a Obra magistral Publicou centenas de artigos de opinião nacional. Com enorme determinação, atra-
onde, como referiu o Professor Adriano em diversos jornais e revistas nacionais, vés do generoso magistério nos estabeleci-
Moreira, elegeu a «vocação e o exercício a maioria dos quais no “Diário de Notí- mentos de ensino superior, das frequentes
da maritimidade como eixo dinamiza- cias”, no “Jornal de Notícias” e na revista intervenções nos órgãos de comunicação
dor da identidade nacional inseparável “Nação e Defesa”. Foi comentador habitu- social e dos oportunos livros publicados,
da “individualidade do País”». procurou repor a maritimidade entre
Virgílio de Carvalho teve uma longa os elementos estruturantes do concei-
e brilhante carreira de serviço público to estratégico nacional. Neste âmbito,
dedicado ao seu muito amado Por- alertou as elites portuguesas para a
tugal. Primeiro, como militar. Neste necessidade de se voltar a colocar o
pe ríodo, após completar o curso da Mar no núcleo dos projectos políticos
Escola Naval em 1950, desempenhou destinados a construir o Portugal do
diversos cargos, dos quais se salientam futuro, de forma a que o país consiga
os de – Director da Escola de Armas preservar a sua individualidade no
Submarinas; Director do Centro de quadro da participação nos múltiplos
Instrução de Táctica Naval; Coman- processos políticos internacionais em
dante do NRP “S. Gabriel”, Professor que está envolvido. Recorrendo no-
de Táctica e de Estratégia no Instituto vamente às sábias e justas palavras
Superior Naval de Guerra; Professor do Professor Adriano Moreira, po-
de Estratégia Marítima nos Institutos deremos afirmar que um dos gran-
de Altos Estudos do Exército e da For- des méritos da obra do Comandante
ça Aérea; Chefe da Divisão de Infor- Virgílio de Carvalho «...é o de centrar
mações do Estado-Maior da Armada; a meditação sobre a identificação dos
e Assessor do Instituto de Defesa Na- interesses, das capacidades, e da von-
cional para a área de Política, Estraté- tade portuguesa de estar actuante nos
gia e Relações Internacionais. organismos internacionais a que per-
Após passar à reserva, o Coman- tence, que estão obrigados a acompa-
dante Virgílio de Carvalho teve uma nhar a radical mudança do ambiente
intensa e notável actividade como e das estruturas, mas que defendem
professor universitário, investigador, al da Rádio Renascença, Antena1, RTP1 e uma congregação de valores de que a por-
membro de grupos de trabalho governa- RTP2 para questões internacionais. Publi- tugalidade é aliada, e a que a maritimidade
mentais, conferencista, articulista, comen- cou ainda diversos livros versando assun- abre o caminho da participação responsá-
tador em órgãos de comunicação social e tos de Relações Internacionais, Estratégia vel na continuidade da história».
autor de diversas obras de referência sobre e Defesa. Em todos eles teve a preocupa- Outro mérito da obra do Comandante
a ligação entre os destinos de Portugal e ção de servirem de apoio às aulas nos es- Virgílio de Carvalho, resulta de não ter
o Mar. Neste período foi Professor Asso- tabelecimentos de ensino superior onde foi sido um publicista de doutrinas estran-
ciado convidado do Instituto Superior de professor. Salientam-se, especialmente, os geiras. Com efeito, em vez de ter adop-
Ciências Sociais e Políticas; Professor As- livros intitulados: “Cumprir agora Portu- tado, sem grande critica ou reflexão, as
sociado convidado na Universidade Por- gal – Uma Proposta para uma Grande Es- ideias estratégicas mais comuns na sua
tucalense, onde também foi Investigador tratégia Nacional”(1987), galardoado com época, centrou as suas atenções e refle-
convidado do Centro de Estudos Africa- o “Prémio Aboim Sande Lemos - Identi- xões nas circunstâncias que constituíram
nos e Orientais; Professor Associado da dade Portuguesa”, da Sociedade Histórica o ambiente nacional e internacional, sobre
Universidade Católica; Professor Catedrá- da Independência de Portugal; “A Nova os quais desenvolveu a concepção da ma-
tico convidado da Universidade Lusófona; Era” (1990), “O Mundo em Renovação – O ritimidade aplicável a Portugal.
membro do “Grupo dos Trinta”, que cola- Sucesso da Idade Transoceânica Iniciada Virgílio de Carvalho, para além de ter
borou na elaboração das I e II Grandes Op- por Portugal”(1992); e “A Importância do sido um português de carácter, honesto,
ções do Plano nos Governos do Professor Mar para Portugal”(1995)”. de convicções fortes e apurado sentido
Cavaco Silva; membro do Grupo de Refle- Nos inúmeros textos e intervenções pú- de justiça, foi um homem de mentalidade
xão Estratégica do Ministro da Defesa, Dr. blicas que Virgílio de Carvalho efectuou, própria. Por isso, falou sempre de modo
Fernando Nogueira. ressaltou sempre o seu extraordinário pa- superior e nacional aos portugueses.
Proferiu mais de sete centenas de con- triotismo. Preocupado como a diluição da Z
ferências em universidades, institutos pú- individualidade do país, evidenciou os ris- A. Silva Ribeiro
blicos e privados e organismos culturais, cos de uma iberização subtil e sofisticada, CFR
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