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ESTÓRIAS – 8



              UMA MISSÃO DE REBOQUE
               UMA MISSÃO DE REBOQUE



                                        - A Incrível Armada -


              nossa Marinha nunca foi pródiga na   Após aquisição de algum material adequado   A navegação começou a correr dentro da
              disponibilidade de meios navais para o  para esta missão, tais como cabos de reboque  rotina habitual já que as condições de mar
         A  desempenho das tarefas e missões que  especiais, baterias e interruptores/células foto  nestas latitudes são boas, para além de uma
         nos são normalmente atribuídas. A escassez  eléctricas para luzes de navegação e diverso  ou outra avaria que se reparava, mantendo -se
         do material, a sua obsolescência e o grande  material para montagem do reboque, em 23 de  a velocidade cerca de 6/7 nós, em média. Ao
         desgaste a que está sujeito pela sua utilização  Novembro o “Schultz Xavier” largou de Lisboa  anoitecer era ver acender os faróis de nave-
         intensiva tem sido quase sempre ao longo dos  e navegou para sul e após uma travessia sem  gação das lanchas a reboque e o seu apagar
         anos uma constante, verificando-se que estas  história, aportou ao Mindelo na ilha de S. Vi-  aos primeiros alvores. Por vezes, tinha-se de
         limitações no âmbito do material são habitu-  cente de Cabo Verde, na manhã de 27.   comunicar com navios mercantes, em espe-
         almente compensadas com um maior esforço   Foram necessários então alguns dias para  cial os grandes petroleiros, com quem nos
         por parte do pessoal.              completar a preparação das três lanchas para  cruzávamos para se manterem afastados do
           Assim era, no último semestre do ano de  irem a reboque e sem qualquer pessoal a bor-  longo reboque.
         1974, em que das 10 lanchas da classe “Argos”,  do: selagem do casco – melhorar a estanque-  Ao quinto dia de viagem, talvez para que-
         7 concentravam-se na Guiné e 3 em Angola.  cidade, montagem do sistema de baterias e  brar a rotina, começámos a aperceber-nos de
         Por outro lado, também os quatro primeiros  carregadores e células foto eléctricas para os  que as lanchas se apresentavam com um afun-
         navios patrulhas da classe “Cacine” estavam  faróis de navegação e o sistema de reboque  damento anormal e assim, nessa manhã de 8
         colocados em Angola, enquanto os restantes  – ligar as amarras de cada lancha aos respec-  de Dezembro, reduzida a velocidade, lá se foi
         desta classe estavam no Continente (espora-  tivos cabos de reboque.   de bote investigar, constatando-se a entrada
         dicamente em Cabo Verde e Guiné). Aliás,   Finalmente na manhã de 3 de Dezembro,  de água nas casas das máquinas e dos auxilia-
         estes novos navios patrulha eram na época  desatracou-se do cais do Porto Grande com  res em todas as três lanchas devido ao não ter
         muito do agrado do pessoal, não só pelas  as três lanchas de “braço dado” com o auxílio  sido devidamente empancadas as aberturas
         suas características operacionais, mas tam-  do rebocador “Cabo Verde” e na baía iniciou-  das madres do leme. Naturalmente este facto
         bém pelas condições de habitabilidade e até  -se o largar de cada uma
         por serem muito bonitos.           das lanchas, - a “Argos”
           Com a prevista independência dos novos  a “Hidra” e a “Dragão”,
         países africanos de língua portuguesa, torna-  deixando correr os ca-
         va-se necessário fazer regressar à Metrópole  bos de reboque previa-
         os quatro navios patrulha atribuídos ao Co-  mente colhidos em adu-
         mando Naval de Angola, os quais seriam  chas no convés de cada
         substituídos pelas lanchas estacionadas na  uma delas. Após retira-
         Guiné. Neste sentido, foi decidido superior-  do todo o pessoal nelas
         mente na Marinha que as lanchas da classe  embarcado, iniciou-se o
         “Argos” fossem levadas para Angola a fim de  reboque que se estendia
         permitir o regresso dos patrulhas da classe  por cerca de 1000 jar-
         “Cacine” que lá se encontravam.    das da popa do “Schultz
           Com o apoio do NRP “Schultz Xavier” que  Xavier” até ao “Argos”,
         tinha ido em missão áquelas águas nos finais  depois 800 jardas até
         de Setembro de 1974, foram afundadas a cer-  à “Hidra” e outras 800
         ca de 104 milhas de Bissau a oeste da foz do  jardas para a última, a
         rio Geba, as lanchas “Cassiopeia” e a “Sagitá-  “Dragão”, num total de
         rio”, devido ao seu péssimo estado, enquan-  mais de 2600 jardas.
         to as restantes 5 lanchas vieram para Porto   Desde logo se experi-
         Grande- na cidade do Mindelo da ilha cabo-  mentou o reboque a ve-
         verdiana de S. Vicente (a “Lira” e a “Orion”  locidades próximas dos
         pelos próprios meios e a “Argos”, “Dragão”  10 nós sem qualquer
         e “Hidra” a reboque).              dificuldade, o que per-
           Naquele porto do Mindelo verificou-se que  mitiu que se desse iní-
         devido ao estado geral das três lanchas de fis-  cio à missão.
         calização “Argos”, “Dragão” e “Hidra”, não   O grupo de navios
         havia disponibilidade para proceder à sua re-  que seguia a navegar
         paração, pelo que se decidiu rebocá-las para  em companhia era
         Angola. Assim, foi atribuído ao NRP “Schultz  formado pela corveta
         Xavier” esta missão, que dada a distância en-  “António Enes” (CTG
         volvida obrigava a alguns cuidados para a sua  embarcado), as lan-
         realização, apesar de não se esperar condi-  chas “Orion” e a “Lira”
         ções meteorológicas adversas nomeadamente  e as lanchas de desem-
         o estado do mar, face às áreas marítimas em  barque grandes “Ariete”
         que se iria navegar.               e “Alfange”.

         24  NOVEMBRO 2004 U REVISTA DA ARMADA
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