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Excelente comandante, pessoa de muito fino servia também de museu e até se realizou todos os procedimentos de ordem unida
trato e diplomata, ensinou-nos muita coisa lá, pelo menos, um julgamento famoso. Era da Marinha, do Exército (Infantaria e Cava-
que ia além da Marinha militar. Os oficiais, verdadeiramente um espaço polivalente. Po- laria) e até do Colégio Militar e Pupilos do
que eram competentes, foram excelentes ins- dia-mos contar algum episódio significativo Exército. Participávamos juntos em paradas
trutores e ficámos amigos para sempre. Uma que lá viveu? e guardas de honra. Acabou por se chegar
te
viagem semelhante só se repetiu uma vez, no Alm. L. V.: A Sala do Risco era geralmente a uma solução que foi aprovada por todos.
ano seguinte. Circunstâncias várias, algumas polivalente; ginásio, salão nobre nas grandes Mas nunca ninguém a concretizou…
políticas, assim o ditaram. Foi pena, porque ocasiões, um pouco de museu, lugar onde no Tempo perdido? Talvez não ! Deu-nos
nos deram uma grande experiência. modelo da corveta “Paciência” aprendemos prática, sobretudo muito treino dum pelo-
R. A.: Naquela época em que tão auto-comandado, em que
estavam atribuídos à Marinha não se ouviam ordens, atingi-
tantas e tão diversificadas mis- Biblioteca mos a perfeição, facto que nos
sões, como as de carácter Mili- apaixonou.
tar Naval propriamente dito, R. A.: E quanto a desportos
de Fomento e de Administra- náuticos? O que havia?
ção Ultramarina entre outras, Alm. L. V.: Praticamente não
te
considera o Sr. Almirante que a existiam desportos náuticos.
Escola Naval dava a preparação Não havia remo, nem se pratica-
necessária? va natação. Nas férias, sobretu-
Alm. L. V.: A Escola Naval do antes dos exames finais, por
te
pode-se dizer que nos preparava nossa conta no “Catraio”, uma
teoricamente muito bem para as embarcação do Clube Náutico,
missões de carácter Militar Na- praticávamos vela. Não tínha-
val, mas para as tarefas de Fo- mos instrutor. Sabíamos quan-
mento Marítimo e de Adminis- do partíamos mas nunca quan-
tração Ultramarina não. Nem o do chegávamos, havia correntes
podia fazer, de resto as funções fortes, marés e muita navegação
no Fomento caberiam a oficiais O Cte. Quelhas Lima o que não se conciliava com
já com alguma experiência, que na Aula de Hidrografia o horários das aulas. Ao José
aprenderiam os procedimentos Nascimento ficou-lhe o jeito de
necessários uma vez empossa- ser meu instrutor. Muito mais
dos. As funções de Administra- tarde (1966-1968) sendo eu co-
ção Ultramarina eram geralmen- mandante do N.R.P. “Vasco da
te de natureza política e iriam Gama” e ele Capitão do Porto
caber a um número não muito de Porto Amélia, embarcava no
grande de oficiais, mas normal- meu navio e quando havia tem-
mente, e se houvesse bom senso, po saltávamos para uma em-
desempenhavam-nas bem, hon- barcação e íamos à pesca. Não
rando a Marinha. era normalmente, uma grande
R. A.: E o treino físico? pescaria. O peixe fugia de nós.
te
Alm. L. V.: O treino físico era Ainda hoje adopto o lema joco-
muito limitado, sendo a Sala do so e muito divulgado que define
Risco o local onde fazíamos gi- a pesca, como dois tansos ligados
nástica, o que era saudável. Pra- por uma linha.
ticávamos também esgrima em Não havia instrutor de nata-
que brilhavam a maioria dos ção no meu tempo, mas já tinha
que tinham frequentado o Colé- havido antes e a história que
gio Militar, geralmente os mais ainda ouvi contar era assim.
aptos. Tinham treino intensivo e Queria que praticássemos os
alguns obtiveram boas classifica- movimentos da natação num
ções nos torneios inter-armas. banco da Sala do Risco. E dizia:
No meu caso pessoal não era Aqui é que eu vejo o que sabem.
dotado para o desporto de com- No mar sempre se safam, mas
petição. não aprendem nada!
Fazia aquilo que era neces- R. A.: O oficial de Marinha
sário. Mas tinha uma grande ontem como hoje sempre se dis-
resistência para esforços du- tinguiu pela aparência e atitude,
radouros. A maioria dos meus Os Lentes em 1929 – sentados: Apolino Rodrigues, J. Francisco da Silva, J. Nunes da pela cultura geral e pela compe-
camaradas, bons atletas, já mor- Matta, Silveira Moreno, Vicente Almeida d’Eça e Ferrugento Gonçalves. De pé: Vieira da tência profissional. A Escola Na-
reram, a minha longevidade Silva, J. Afonso dos Santos, Azevedo Coutinho, Fontoura da Costa e Bruto da Costa. val tomava algumas medidas no
deve-se talvez, a não ser bom desportista, a nomenclatura do aparelho dum navio de sentido de desenvolver essas aptidões?
não ter aptidão para a competição e por certo vela, sala de visitas e até de descanso e laser. O Alm. L. V.: Directamente não. Havia al-
te
ter navegado muito (mais de 10.000 horas), o julgamento famoso, tive conhecimento dele, guns professores que o faziam, quer incul-
que é, sem dúvida muito saudável. mas foi anterior à minha passagem pela Es- cando em nós noções de civismo, de cultu-
R. A.: A Sala do Risco, do Arsenal, na con- cola Naval e nada posso acrescentar de inte- ra ou descrevendo episódios da sua carreira
tinuação do piso da Escola Naval, para além resse. Há realmente um episódio curioso, que naval. Era o caso de Azevedo e Silva, Raul
de ser utilizada como ginásio, era o espaço durou durante todo o meu primeiro ano. César Ferreira, Quelhas Lima e Tancredo de
para a realização de cerimónias importan- Sob a direcção do Comandante Fortée Morais. Quanto à aparência e à atitude en-
tes como a Abertura Solene do Ano Escolar, Rebelo, instrutor de Infantaria, ensaiamos carregavam-se bem os oficiais instrutores.
20 JULHO 2005 U REVISTA DA ARMADA