Page 238 - Revista da Armada
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Excelente comandante, pessoa de muito fino  servia também de museu e até se realizou  todos os procedimentos de ordem unida
         trato e diplomata, ensinou-nos muita coisa  lá, pelo menos, um julgamento famoso. Era  da Marinha, do Exército (Infantaria e Cava-
         que ia além da Marinha militar. Os oficiais,  verdadeiramente um espaço polivalente. Po-  laria) e até do Colégio Militar e Pupilos do
         que eram competentes, foram excelentes ins-  dia-mos contar algum episódio significativo  Exército. Participávamos juntos em paradas
         trutores e ficámos amigos para sempre. Uma  que lá viveu?              e guardas de honra. Acabou por se chegar
                                                  te
         viagem semelhante só se repetiu uma vez, no   Alm.  L. V.: A Sala do Risco era geralmente  a uma solução que foi aprovada por todos.
         ano seguinte. Circunstâncias várias, algumas  polivalente; ginásio, salão nobre nas grandes  Mas nunca ninguém a concretizou…
         políticas, assim o ditaram. Foi pena, porque  ocasiões, um pouco de museu, lugar onde no   Tempo perdido? Talvez não ! Deu-nos
         nos deram uma grande experiência.  modelo da corveta “Paciência” aprendemos  prática, sobretudo muito treino dum pelo-
           R. A.: Naquela época em que                                                  tão auto-comandado, em que
         estavam atribuídos à Marinha                                                   não se ouviam ordens, atingi-
         tantas e tão diversificadas mis-                                    Biblioteca  mos a perfeição, facto que nos
         sões, como as de carácter Mili-                                                apaixonou.
         tar Naval propriamente dito,                                                     R. A.: E quanto a desportos
         de Fomento e de Administra-                                                    náuticos? O que havia?
         ção Ultramarina entre outras,                                                    Alm.  L. V.: Praticamente não
                                                                                              te
         considera o Sr. Almirante que a                                                existiam desportos náuticos.
         Escola Naval dava a preparação                                                 Não havia remo, nem se pratica-
         necessária?                                                                    va natação. Nas férias, sobretu-
           Alm.  L. V.: A Escola Naval                                                  do antes dos exames finais, por
               te
         pode-se dizer que nos preparava                                                nossa conta no “Catraio”, uma
         teoricamente muito bem para as                                                 embarcação do Clube Náutico,
         missões de carácter Militar Na-                                                praticávamos vela. Não tínha-
         val, mas para as tarefas de Fo-                                                mos instrutor. Sabíamos quan-
         mento Marítimo e de Adminis-                                                   do partíamos mas nunca quan-
         tração Ultramarina não. Nem o                                                  do chegávamos, havia correntes
         podia fazer, de resto as funções                                               fortes, marés e muita navegação
         no Fomento caberiam a oficiais                              O Cte. Quelhas Lima   o que não se conciliava com
         já com alguma experiência, que                            na Aula de Hidrografia  o horários das aulas. Ao José
         aprenderiam os procedimentos                                                   Nascimento ficou-lhe o jeito de
         necessários uma vez empossa-                                                   ser meu instrutor. Muito mais
         dos. As funções de Administra-                                                 tarde (1966-1968) sendo eu co-
         ção Ultramarina eram geralmen-                                                 mandante do N.R.P. “Vasco da
         te de natureza política e iriam                                                Gama” e ele Capitão do Porto
         caber a um número não muito                                                    de Porto Amélia, embarcava no
         grande de oficiais, mas normal-                                                 meu navio e quando havia tem-
         mente, e se houvesse bom senso,                                                po saltávamos para uma em-
         desempenhavam-nas bem, hon-                                                    barcação e íamos à pesca. Não
         rando a Marinha.                                                               era normalmente, uma grande
           R. A.: E o treino físico?                                                    pescaria. O peixe fugia de nós.
              te
           Alm.  L. V.: O treino físico era                                             Ainda hoje adopto o lema joco-
         muito limitado, sendo a Sala do                                                so e muito divulgado que define
         Risco o local onde fazíamos gi-                                                a pesca, como dois tansos ligados
         nástica, o que era saudável. Pra-                                              por uma linha.
         ticávamos também esgrima em                                                      Não havia instrutor de nata-
         que brilhavam a maioria dos                                                    ção no meu tempo, mas já tinha
         que tinham frequentado o Colé-                                                 havido antes e a história que
         gio Militar, geralmente os mais                                                ainda ouvi contar era assim.
         aptos. Tinham treino intensivo e                                               Queria que praticássemos os
         alguns obtiveram boas classifica-                                               movimentos da natação num
         ções nos torneios inter-armas.                                                 banco da Sala do Risco. E dizia:
           No meu caso pessoal não era                                                  Aqui é que eu vejo o que sabem.
         dotado para o desporto de com-                                                 No mar sempre se safam, mas
         petição.                                                                       não aprendem nada!
           Fazia aquilo que era neces-                                                    R. A.: O oficial de Marinha
         sário. Mas tinha uma grande                                                    ontem como hoje sempre se dis-
         resistência para esforços du-                                                  tinguiu pela aparência e atitude,
         radouros. A maioria dos meus   Os Lentes em 1929 – sentados: Apolino Rodrigues, J. Francisco da Silva, J. Nunes da   pela cultura geral e pela compe-
         camaradas, bons atletas, já mor-  Matta, Silveira Moreno, Vicente Almeida d’Eça e Ferrugento Gonçalves. De pé: Vieira da   tência profissional. A Escola Na-
         reram, a minha longevidade   Silva, J. Afonso dos Santos, Azevedo Coutinho, Fontoura da Costa e Bruto da Costa.  val tomava algumas medidas no
         deve-se talvez, a não ser bom desportista,  a nomenclatura do aparelho dum navio de  sentido de desenvolver essas aptidões?
         não ter aptidão para a competição e por certo  vela, sala de visitas e até de descanso e laser. O   Alm.  L. V.: Directamente não. Havia al-
                                                                                     te
         ter navegado muito (mais de 10.000 horas), o  julgamento famoso, tive conhecimento dele,  guns professores que o faziam, quer incul-
         que é, sem dúvida muito saudável.  mas foi anterior à minha passagem pela Es-  cando em nós noções de civismo, de cultu-
           R. A.: A Sala do Risco, do Arsenal, na con-  cola Naval e nada posso acrescentar de inte-  ra ou descrevendo episódios da sua carreira
         tinuação do piso da Escola Naval, para além  resse. Há realmente um episódio curioso, que  naval. Era o caso de Azevedo e Silva, Raul
         de ser utilizada como ginásio, era o espaço  durou durante todo o meu primeiro ano.  César Ferreira, Quelhas Lima e Tancredo de
         para a realização de cerimónias importan-  Sob a direcção do Comandante Fortée  Morais. Quanto à aparência e à atitude en-
         tes como a Abertura Solene do Ano Escolar,  Rebelo, instrutor de Infantaria, ensaiamos  carregavam-se bem os oficiais instrutores.

         20  JULHO 2005 U REVISTA DA ARMADA
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