Page 236 - Revista da Armada
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A VELHA ESCOLA NAVAL
ucessora da Academia dos Guardas- a Faculdade
-Marinhas e instalada no mesmo de Ciências
Sedifício de construção pombalina de Lisboa ti-
que albergava grande parte dos organis- nha cerca de
mos da Marinha sediados, no século XIX, 400 alunos
em Lisboa, a Escola Naval foi instituida matriculados
em 1845. A criação da Escola resultou da e havia que
reorganização do ensino superior militar contar ain-
que, em 1837, tinha dado origem à Escola da com os
Politécnica, estabelecimento onde era mi- alunos de
nistrado, com a duração de um ano lectivo, Coimbra
e do
o “Curso de Preparatórios Militares” que Porto.
permitia o acesso às duas escolas militares:
a Escola Naval e a Escola do Exército.
Nos 1ºs e 2ºs pisos da ala do edifício
da Marinha da Rua do Arsenal, onde ac- nos Submarinos ou na Aviação Naval, caso
tualmente se encontram a Academia de para tal fosse escolhido.
Marinha e diversos órgãos dependentes Por fim e após o candidato ter satisfeito
da Superintendência dos Serviços do Pes- todos os exames, provas e burocracias, em-
soal, esteve situada a Escola Naval de 1845 barcava na “Viagem de Adaptação ao Mar”
a 1936, data em que foi transferida para as que por vezes fazia vítimas...
actuais instalações no Alfeite. R. A.: Olhando para a planta da Escola
Para nos descrever como era a vivência Naval de então, verifica-se que ocupava uma
na velha Escola Naval da Rua do Arse- Nor- área diminuta. Biblioteca, 3 salas de aula, ga-
nal, conversámos com um dos seus úl- mal- binete do director e dos professores, secreta-
timos alunos, Manuel Eduardo Leal mente ria e pouco mais. Como funcionava a Escola
Vilarinho, hoje Contra – Almirante apresen- no âmbito das suas infra-estruturas?
te
na situação de Reforma. tavam-se a Alm. L. V.: Era assim como afirma. Mas
R. A.: Senhor Almirante con- concorrer à havia ainda a Sala do Risco, um espaço po-
firma ter frequentado a velha Escola Naval livalente, como hoje se diz, e as instalações
Escola Naval? cerca de 140 do 3º piso onde se situavam as camaratas,
te
Alm. L. V.: Sim é verdade, candidatos e o refeitórios e arrecadações.
entrei para a Escola Naval número de vagas R. A.: Julgo que o número total dos alu-
da Rua do Arsenal em 1 de existentes era ape- nos era diminuto já que o espaço disponí-
Outubro de 1935. nas de 15. vel também era limitado.
te
R. A.: O que é que No aspecto fisíco ti- Alm. L. V.: O número total de alunos dos
levava nos finais dos nha que se ser aprovado três anos rondava os 60, o espaço não era
anos 30, do século numa rigorosa inspecção muito, mas em 1931 entraram cerca de 40 e
passado, os jovens a médica. Aplicava-se ainda o conseguiram-se mesmo assim alojar cerca de
procurarem a Esco- “índice de Pignet”, uma tabe- 75 aspirantes. Desse curso de 1931 são ainda
la Naval? la estabelecida para cidadãos vivos, Luciano Bastos e Almeida Brandão.
te
Alm. L. V.: nórdicos, que hoje felizmente foi Do meu curso restam, Silva Soares, Pina
Cinco razões abolida e era necessário nadar Cabral e eu.
principais: esta- 50 metros em qualquer estilo. R. A.: Nos intervalos e quando não havia
va em execução o cha- No âmbito académico existia aulas onde é que os alunos se reuniam? Se-
mado programa naval “Ma- um exame de Trigonometria Esfé- ria naquele comprido corredor também de-
galhães Corrêa” que iria modernizar rica, para a qual era preciso uma nominado “Galeria do Museu Naval”?
a Esquadra e que deveria estar concluído preparação es-
quando em 1938, saíssemos da Escola; na pecial pois os co-
altura não era fácil viajar e a Marinha dava nhecimentos obtidos
essa possibilidade; podia-se ver o mundo, na cadeira de Mate-
conhecer as colónias; e uma vez entrados máticas da Faculdade
na Escola, embora não auferíssemos grandes não eram suficientes
vencimentos, tornávamo-nos, ainda muito e uma prova literária
novos, já independentes. Por fim ingressar sobre um tema esco-
na Escola Naval não era fácil e constituia um lhido pela Escola.
desafio que orgulhava quem o vencesse, pois Administrativa-
a Marinha tinha grande prestígio. mente era exigida
R. A.: Então a entrada na Escola Naval imensa documenta-
era difícil ? ção, que ia desde a de-
te
Alm. L. V.: Era efectivamente difícil. claração de que não
Não se conseguia a admissão com menos de professava ideias con-
15 valores nos “Preparatórios Militares” da trárias à Nação até ao
Faculdade de Ciências (1º ano). Neste curso, compromisso de servir O Almirante Leal Vilarinho a ser entrevistado pelo Director da Revista.
18 JULHO 2005 U REVISTA DA ARMADA