Page 239 - Revista da Armada
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Aula de ginástica                              Instrução de Infantaria




















                                           Corveta “Paciência”                         Formatura do Corpo de Alunos


           R. A.: Havia ainda obrigação de quando  guerra de Espanha em que o General Franco  notável e ponderada Joaquim José Teixeira e
         oficiais, puderem seguir para os Submari-  era a aposta do Governo e começava a pare-  Flávio de Oliveira e Sousa um grande valor
         nos ou para a Aviação Naval caso fossem  cer que seria o vencedor e assim iria, a prazo,  acrescentado à Escola do Alfeite. Tratemos
         seleccionados?                     ganhar a guerra. Em Portugal, mas coman-  do que foi sério e poderia ter consequências
           Alm.  L. V.: Como já citei ao entrarmos  dado do exterior, em 8 de Setembro de 1936,  mais graves do que teve. O grande choque foi
               te
         para a Escola Naval, assinávamos uma de-  revoltaram-se o “Afonso de Albuquerque” e  o regresso dos cadetes. Quatro foram consi-
         claração e comprometiam-nos a servir nos  o “Dão” que, dizia-se, pretendiam juntar-se  derados inaptos e não admitidos na Corpo-
         submarinos ou na aviação. Não é do meu  às forças republicanas espanholas. Esta in-  ração. A dois perdi-lhe o rasto; não sei qual
         conhecimento que isso tivesse alguma vez  surreição gorou-se depois de violentamente  foi o seu destino. Um era o Azeredo, nosso
         sucedido em relação aos submarinos. Ha-  reprimida. Constava que a PIDE sabia o que  amigo e conheciamo-lo bem, filho dum ofi-
         via sempre voluntários. Quanto à Aviação  se passava, mas deixou que os navios se re-  cial da Aviação Naval desaparecido durante a
         Naval sucedeu com o meu curso quando já  voltassem. Qual a verdade, não sei, conte-a  I Guerra Mundial. Não serviu para a Marinha
         éramos tenentes. Aconteceu isso ao Lobato  quem saiba.                de Guerra, enveredou pela Mercante, onde a
         Faria (falecido numa queda de um hidro no   No aspecto interno é de referir que já em  última vez que o encontrei foi em Moçambi-
         Tejo), Vasco Rodrigues, Esteves Brinca, Júlio  18 de Janeiro de 1936 tinha havido uma re-  que como Comandante do “Serpa Pinto”. Era
         Schultz e Silva Soares. Foi voluntário para  modelação ministerial e o Comandante Or-  evidente que tinha qualidades para ser mari-
         Aeronáutica o Dores Delgado e para a Avia-  tins de Bettencourt substituíra o Comandan-  nheiro. Considero ainda hoje que houve um
         ção Naval o Souto Cruz. Alguns acabaram a  te Mesquita de Guimarães como Ministro da  erro de apreciação.
         sua vida na Aeronáutica e na TAP.  Marinha. A nova Escola Naval esperava-nos   O segundo era o Jorge de Sena, que veio
           Eu fazia parte na altura da guarnição do  em Outubro do mesmo ano. A primeira coisa  a ser um escritor notável. Certamente que
         “Gonçalo Velho” não fui chamado, nem vo-  que sucedeu foi a mudança dos professores  teria prestigiado a Marinha, que o utilizaria
         luntário. A minha vocação era a marinha de  de Lisboa para o Alfeite.   com proveito em muitas situações. A reacção
         superfície, e quando chegasse a altura, co-  Deixou de haver aspirantes e os novos alu-  dos aspirantes do 2º e 3º anos foi bem clara e
         mandar navios e ver o mundo.       nos entraram como cadetes, após uma longa  mostraram a sua aversão de forma discipli-
           Quando os meus camaradas foram obri-  viagem de instrução e era seu instrutor Nor-  nada. Mas, sobretudo em relação a Norberto
         gados a concorrer à Aviação Naval, exibia-  berto Monteiro. Salvo erro só regressaram à  Monteiro, que com razão ou sem ela, consi-
         -se num cinema de Lisboa, o filme ”Narciso,  Escola em Fevereiro de 1937. O Comando da  derávamos o principal responsável.
         Aviador à Força” e durante uns tempos a Ma-  Escola também mudou. O novo 1º Coman-  A gravidade da situação pode ser ava-
         rinha chamou-nos “Os Narcisos”.    dante foi o Almirante Alberto de Castro Fer-  liada, se disser que houve quem chegas-
           R. A.: A passagem da Escola Naval para  reira, o 2º Comandante  o Capitão-Tenente  se a pensar expulsar também o aspirante
         o Alfeite foi um parto difícil?    Silva Moreira, um submarinista muito com-  Barahona Fernandes, chefe do curso do 3º
              te
           Alm.  L. V.: A passagem para a Escola Naval  petente. Com tantas mudanças houve um  ano, por inerência chefe do internato, e con-
         do Alfeite foi mais que um parto difícil. Diria  desequilíbrio muito grande que acarretou   siderado pelo Comando não ser capaz de
         que foi uma cesariana praticada in extremis.   consequências, algumas sérias, outras cari-  manter a compostura dos restantes alunos.
           O país vivia intensamente a evolução da  catas e jocosas. Tiveram em todas uma acção  Felizmente tal injustiça não foi praticada e
                                                                                       REVISTA DA ARMADA U JULHO 2005  21
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