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O navei-şcoală Mircea em Lisboa
Mircea (deve pronunciar-se Mir- leme – só possível graças à existência de um um excelente local de estudo e realização de
chia), navio-escola da Marinha Ro- sistema hidráulico –, captou a nossa atenção trabalhos, durante as longas viagens.
O mena, esteve pela primeira vez em um enorme ventilador de capuchana que de A propulsão do navio, para além da-
Lisboa no final do passado mês de Junho. quela que é proporcionada pelo vento,
Durante a estadia daquele que é segura- é assegurada por um motor MaK, de
mente o menos conhecido irmão do na- 1.100 HP, instalado a bordo aquando
vio-escola Sagres, permaneceu atracado Foto CAB L Figueiredo da grande reparação e modernização
no terminal de Santa Apolónia tendo que teve lugar em 1966, nos estaleiros
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aberto a visitas para o público. da Blohm+Voss .
Fruto do apoio prestado pela Secção Tanto quanto nos foi dado a perceber
de Protocolo do Estado -Maior da Arma- em toda a conversa franca que sempre
da foi-nos facultada a oportunidade de ir mantivemos, perduram ainda as excelen-
a bordo, onde fomos recebidos pelo res- tes relações entre as guarnições da Sagres
pectivo comandante, Comandorul Dinu- e do Mircea, estabelecidas no ano passado
Sorin Pampar˘ au, que nos acompanhou quando os dois navios se encontraram
em grande parte desta agradável visita. em Hamilton, na Bermuda.
De resto, começou desde logo por nos Para a viagem de instrução que teve
impressionar a longa ligação do Coman- início no passado dia 9 de Junho, data
dante ao navio, que em nosso entender é em que largou do porto de Constança, no
no mínimo notável, representando quase Mar Negro, o navio-escola romeno conta
toda uma carreira, a saber: 9 anos como com um total de 70 alunos embarcados:
oficial imediato, somando já 15 anos 19 cadetes oriundos da respectiva Esco-
como comandante, não obstante o fac- la Naval Mircea cel B˘ atrân, 2 provenientes
to de o navio ter estado parado cerca de da sua congénere búlgara e ainda 49 da
nove anos, entre 1994 e 2003. Escola de Sargentos Ion Murgescu. Pela
Cumpre exaltar as excelentes condi- análise do respectivo planeamento, cons-
ções em que o navio se encontra, tanto tata-se que a partir de Cherbourg, em
no que toca à sua cuidada apresentação França, se exceptuarmos Middlesbrough,
e limpeza, como na forma reflectida com o Mircea andará na companhia da Sagres
que a modernização de alguns compar- e dos restantes veleiros, encontrando-se
timentos e equipamentos foi levada a O navio preparando a atracação em Lisboa, destacando-se à proa ainda prevista a sua participação na re-
a figura do príncipe Mircea (1386-1418).
cabo. Referimo-nos concretamente à casa gata Newcastle/Fredrikstad.
de navegação, local onde se destaca a inclu- imediato nos trouxe à memória as antigas fo-
são, perfeitamente integrada, dos radares, tografias da nossa Sagres. De grandes dimen- Planeamento do Mircea
carta electrónica, receptor de cartas de tem- sões é também a chaminé do navio permitin- Chegada Porto Partida
po, mesa de cartas, anemómetro, etc. do, através de uma porta, a entrada e visita - Constança (Roménia) 09JUN
No tombadilho, junto à minúscula roda do do seu interior. Ainda no tombadilho, mas à 17JUN Palermo (Itália) 20JUN
popa, encontra-se uma estrutura em 28JUN Lisboa 01JUL
madeira, dando forma a dois peque- 08JUL Zeebrugge (Bélgica) 11JUL
nos bancos, um voltado para cada 14JUL Cherbourg (França) 17JUL
bordo, que esconde o cabrestante uti- 22JUL Middlesbrough (Reino 24JUL
lizado na manobra de atracar. Unido)
As velas do navio são manufactu- 25JUL Newcastle (Reino Unido) 28JUL
radas em grosso pano de linho e os 03AGO Fredrikstad (Noruega) 06AGO
Foto CTEN António Gonçalves
cabos de laborar em sisal, os quais 10AGO Bremerhaven (Alemanha) 14AGO
conferem um ar vetusto a todo o con- 17AGO Amsterdão (Holanda) 21AGO
junto. Daqui resulta que, de acordo 01SET Cartagena (Espanha) 04SET
com as palavras do Tenente Marius 08SET Tunis (Tunísia) 10SET
Sebastian que simpaticamente nos 21SET Constança (Roménia) -
acompanhou em toda a visita, a ma-
A roda do leme do Mircea.
nobra do velame e dos respectivos
cabos – especialmente quando mo- Principais características do Mircea
lhados –, esteja longe de constituir - Comprimento fora-a-fora 81,18 m
- Boca
12,04 m
uma tarefa fácil para os marinheiros - Calado 5,40 m
e cadetes, embora existam vários ca- - Deslocamento 1.844 tons
brestantes a bordo que se propõem - Guarnição: 6 oficiais, 17 sargentos
aligeirar as fainas mais penosas. Re- e 45 praças
- Cadetes: máximo 120
ferimo-nos, como é óbvio, à mano-
Foto CTEN António Gonçalves
- Viagem de 2005: 24 professores e instrutores
bra das famosas ostagas, bem como
o bracear das vergas. Z
O piso das cobertas é em madeira António Manuel Gonçalves
e os cadetes embarcados dormem em CTEN
macas, que são devidamente enrola- Notas
1 navio-escola.
das pela manhã. As mesas suspensas, 2
Tombadilho. Ver «A Sagres e os seus irmãos – 3. Mircea», Re-
existentes nestes espaços, constituem vista da Armada, nº 374, Abril de 2004, pp. 17.
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