Page 270 - Revista da Armada
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turado no Atlântico,   de mau tempo, para manter a popa perpendicular à
                                                             tão longe como até   vaga, evitando que a embarcação atravesse quando se
                                                             ao sul de Inglaterra e   navega com o mar na popa.
                                                                                 11
                                                                                   Recordamos que no território egípcio escasse-
                                                                          32
                                                             às ilhas Canárias . A   avam as árvores. A madeira importada da Núbia, no
                                                             hegemonia naval fe-  actual Sudão, era essencialmente utilizada na manu-
                                                             nícia só foi quebrada   factura de utensílios e mobiliário fúnebre.
                                                                                 12
                                                                                   Cabo de laborar que permite, se conveniente-
                                                             em 332 a. C., quan-  mente caçado, que a vela apresente ao vento, de for-
                                                             do os homens de   ma correcta, toda a sua superfície.
                                                             Alexandre o Grande   13  Lado inferior de uma vela.
                                                             conquistaram o por-  14  O equivalente a uma marcação de 140º.
                                                             to e a cidade de Tiro.   15  Lado superior de uma vela redonda ou de uma
                                                             A partir de então a   vela latina quadrangular.
                                                                                 16
                                                                                   Lados verticais de uma vela redonda.
                                                             sua área de navega-  17  Estamos cientes do anacronismo, mas na época,
        Museu Naval de Madrid – Foto CTEN António Gonçalves
                                                             ção por excelência   a prática e a experiência, ainda que desconhecido o
                                                             ficou confinada à ba-  conceito, terão constituído razões suficientes que leva-
                                                             cia ocidental do Me-  ram a optar pela solução por nós enunciada.
                                                                                 18
                                                                                   Cabos que aguentam os mastros para a borda.
                                                             diterrâneo, passando   19  Na realidade este conjunto de cabos, encapela-
                                                             a sua actividade co-  dos na parte superior do mastro, diziam para ré e para
         Navios fenícios.
                                                             mercial e militar a ser   ambos os bordos. Eram ainda utilizados na manobra de
         vista à diminuição do efeito de adornamento  decidida a partir da cidade de Cartago .  içar e arriar o próprio mastro. Para além destes, existia
                                                                         33
         e abatimento do próprio navio.       Fazendo fé nos elementos obtidos através da   ainda um estai que aguentava o mastro para vante.
                                                                                 20
                                                                                   Acto de orientar o pano em relação ao vento, ten-
           Certezas quanto a estes avanços na navega-  arqueologia experimental, que recriou alguns   do em conta o rumo a que se pretende navegar.
         ção à vela, só se nos deparam pouco depois  destes navios de raiz com base nos vestígios   21  Cabos que fazem arreigada nos laises das vergas
         desta época, quando os Fenícios se tornaram  descobertos, a sua velocidade média, à vela,   do pano redondo, cujo propósito é dar-lhes movimento
         a potência naval dominante no Mediterrâneo.  dificilmente ultrapassaria os 3 ou 4 nós.  horizontal e aguentar as vergas para ré.
                                                                                 22
                                                                                   Cabos que se encontram aos pares, um em cada
         Nos trabalhos arqueológicos foram encon-                           Z  bordo, encapelados nas vergas e fazem retorno à ca-
         trados navios dispondo de uma quilha corri-     António Manuel Gonçalves  beça do mastro, descendo depois ao convés. Permi-
                            25
                                   26
         da, balizas, roda de proa , cadaste , borda                     CTEN  tem ajustar a verga de forma que esta se mantenha
         falsa  ou balaustrada, contemplando alguns            am.sailing@hotmail.com  horizontal, levando em linha de conta o adornamen-
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         exemplares mais do que um pavimento. A   Bibliografia sumária:         to do navio. Possibilitam ainda o movimento da verga
                                                                               no sentido vertical. Pelo que depreendemos das nos-
                                              CASSON, Lionel, Ships and Seamanship in the Ancient
         existência de uma quilha, com as caracterís-  World, Nova Jersey, Princeton University Press, 1973.  sas leituras, uma vez que os cabos faziam retorno em
         ticas referidas constitui uma prova necessária,   LANDSTRÖM, Bjorn, Ships Of the Pharaohs, 4000   orifícios no topo do mastro, e não em roldanas, dado
         ainda que insuficiente, evidenciando a prática   Years of Egyptian Shipbuilding, Nova Iorque, Doubleday   que estas não eram ainda conhecidas, o elevado atrito
         da navegação à vela com vento até ao través,   & Company, 1970.       tornaria inviável a existência de apenas uma adriça,
                                                                               tal como é prática no navio-escola Sagres, quando se
                                              The Earliest Ships – The evolution of boats into ships, co-
         ou mais de 8 quartas .             ord. Arne Emil Christensen, Londres, Conway, 2004.  pretendem içar as gáveas altas, os joanetes e os sobres.
                        28
           Foi também este povo quem introduziu                                Desta forma o esforço era repartido por vários cabos,
         portas para os remadores abertas no costa-  Notas                     minimizando o atrito e respectivo desgaste.
         do. Este facto veio demonstrar que as via-  1  Mau grado a nossa incondicional admiração pela   23  Parte central de uma verga.
                                                                                 24
                                                                                   Vento real, que não tem em conta o movimen-
         gens se haviam tornado muito mais longas,   língua de Camões, elegemos uma expressão inglesa   to do navio.
                                            como título principal para os nossos próximos artigos.
         obrigando à protecção dos marinheiros. Em   De facto, a sua abrangência é tal que, sem equívocos,   25  Peça vertical, ou inclinada, no prolongamento da
         todo o caso, este abrigo terá igualmente sido   traduz o propósito dos temas que nos propomos abor-  quilha, que serve de fecho ao casco à proa.
         aproveitado para fins militares, durante os   dar, bem como a nossa condição de Marinheiros: lar-  26  Peça vertical, ou inclinada, no prolongamento da
         combates com navios inimigos. Prova desta   gar, caçar pano, velejar, navegar.  quilha, que serve de fecho ao casco à popa.
                                                                                 27
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                                                                                   Prolongamento do costado acima do convés, ou
                                               Neste intervalo de tempo, longe de reunir consen-
         actividade bélica é a introdução, igualmente   so entre os historiadores, optámos por apresentar como   do pavimento principal.
         pelos Fenícios, de um esporão no prolonga-  início o ano mais recuado – adopção do Cristianismo   28  A quarta é uma antiga unidade angular, equiva-
         mento da quilha dos seus navios que visava   como religião oficial do império Romano –, e, como   lente a 11º 15’. Metade do quarto da circunferência,
         causar danos nos opositores, levando ao seu   fim o mais tardio, coincidente com o descobrimento   ou seja 45º, contém quatro quartas. Era também em
         afundamento.                       da América por Cristóvão Colombo.  quartas que se encontravam graduadas as antigas agu-
                                              3
                                                                               lhas de marear, bem como os rumos nas cartas náuti-
                                               Paus que devidamente aparelhados substituem os
           O mastro dos navios fenícios era aguentado   mastros desarvorados, onde se larga uma vela deno-  cas, num total de 32 intervalos. Ainda hoje a bordo do
         para a borda por brandais sendo a sua afinação   minada bandola, ou guindola. A expressão «navio em   navio-escola Sagres se recorre a esta medida quando
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         feita através de bigotas , uma peça de polea-  guindolas» significa que este, desarvorado e sem leme,   se pretende bracear as respectivas vergas, ou colocar
         me ainda em uso nos nossos dias em muitos   navega com leme de fortuna e aparelho improvisado.  a retranca na posição adequada.
                                                                                 29
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                                               A ausência de provas mais antigas não nos permi-
         veleiros, com a mesma finalidade.   te, de todo, concluir pela sua inexistência.  ros dispostos sob a forma de triângulo equilátero, uti-
           Os Fenícios inovaram também ao desen-  5  Acção provocada pelo vento, ou pelo efeito do   lizada nos colhedores das enxárcias com a finalidade
         volver navios de dois mastros, sendo apenas   leme, que leva o navio a afastar a proa do vento.  de atracar e tesar os respectivos óvens.
         o maior, próximo de meio-navio, aguentado   6  Até referência em contrário, nesta época a nave-  30  Acção provocada pelo vento, ou pelo efeito do
         por brandais. O mastro mais pequeno, deno-  gação à vela será sempre proporcionada por uma vela   leme, que leva o navio a aproximar a proa do vento.
                                                                                 31
                                                                                   Como se sabe, a manobra do leme tem um efei-
                                            redonda. Por definição, e não pela forma, trata-se de
         minado aremon, encontrava-se mais a vante   uma vela que enverga e trabalha no sentido bombor-  to negativo, ou de travão, na velocidade ou segui-
         e envergava uma pequena vela redonda na   do-estibordo.               mento do navio.
         respectiva verga. A sua posição permitia uma   7  A marcação é o ângulo entre a direcção do vento   32  Recordamos que as ilhas Canárias já eram habi-
         melhor correcção da tendência natural do   e a linha proa-popa, expressa em graus, ou quartas,   tadas quando foram «descobertas» em 1341. Tanto os
                                                                               primeiros exploradores, entre os quais se encontravam
                             30
         navio para arribar ou orçar , induzida pela   contado a partir da proa. O seu valor encontra-se, por   portugueses, como mais tarde durante a ocupação cas-
                                            isso, compreendido entre os 0º e os 180º, bombordo
         vela grande, minorando, desta maneira, a   ou estibordo.              telhana, todos referem o carácter aguerrido do povo
         intensiva utilização do remo preso à popa,   8  Embora o vale do Nilo seja relativamente espraia-  autóctone, os Guanches.
         usado como leme . De acordo com as fontes   do, o vento tem tendência a encanar e a sua direcção   33  Apesar de constituírem o mesmo povo muitos
                      31
         históricas, os seus navios terão navegado por   acompanha o trajecto do rio.  livros de história apelidam-nos de Cartagineses, a
                                              9
                                               Descrição ou estudo de imagens, nomeadamente
         todo o Mediterrâneo, no Mar Vermelho e no   escultura, pintura, desenho, fotografia, etc.  partir desta época. Da cidade de Cartago, fundada c.
                                                                               750 a. C., restam hoje apenas imensas ruínas. Situa-
         Oceano Índico, existindo fortes indícios que   10  Também conhecido como âncora flutuante, é   -se junto ao mar a poucos quilómetros de Tunis, ca-
         apontam no sentido de estes se terem aven-  composto por um saco de lona e utilizado, em caso   pital da Tunísia.
         16  AGOSTO 2005 U REVISTA DA ARMADA
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