Page 278 - Revista da Armada
P. 278

“PRINCE WILLIAM” NOS AÇORES
                      “PRINCE WILLIAM” NOS AÇORES

         Entre os dias 11 e 17 de Maio, meia                                         de segurança. E começando por mos-
         centena de escuteiros de sete ilhas                                         trar à tripulação o seu próprio rabo de
         dos Açores (S. Miguel, Terceira,                                            cavalo, recomendou aos jovens que
         Faial, Pico, S. Jorge, Santa Maria                                          mantivessem sempre o cabelo preso,
         e Graciosa), rapazes e raparigas,                                           que não usassem anéis, pulseiras ou
         com idades compreendidas entre                                              colares – «já vi um homem ficar sem
                                                                                     um dedo preso a um cabo por um
         os 16 e os 49 anos, participaram                                            anel» –, nem relógios caros no pulso.
         num cruzeiro de vela oceânica a                                             Luvas para puxar cabos, só das que
         bordo de um navio-escola inglês                                             não têm dedos; e sapatos com solas
         da Tall Ships Youth Trust.                                                  de borracha que não escorreguem em
                                                                                     pisos molhados.
               um veleiro com o porte do                                               A formação em segurança foi tão
               “Prince William”, todas as                                            completa que incluiu um ensaio dos
         Nmãos não são de mais para                                                  alarmes de fogo e de abandono do na-
         carregar o pano em menos de uma                                             vio, com demonstração do uso de co-
         hora. Tudo à força de braços, pois                                          letes de salvação e um exercício práti-
         neste navio-escola não existem meios                                        co de “homem ao mar” no canal entre
         mecânicos para puxar pelas adriças e                                        as ilhas do Pico e de S. Jorge. Em caso
         içar a vela grande e as gáveas baixa e                                      de necessidade, o “Prince William”
         alta. E, para soltar esta última, há que                                    dispõe de oito salva-vidas insufláveis,
         içar a própria verga!                                                       cada um com mantimentos e capaci-
           Na ponte de comando, o Capitão                                            dade para acolher 25 pessoas, duas
         Bob Stephenson, de 55 anos e Oficial                                         barcas a remos e dois semi-rígidos que
         de Marinha há mais de 30 anos (20 dos                                       se lançam rapidamente à água.
         quais nos veleiros da Tall Ships) sorriu
         perante a perspectiva de proporcionar uma  de proa, das três velas de entre-mastros e da  VISITAS A BORDO
         boa tarde de vela à sua jovem tripulação de  vela de carangueja, à retaguarda. O “Prince
         escuteiros marítimos e terrestres. Deu ordem  William” navegava, agora, com todo o velame   Da Graciosa, o “Prince William” seguiu
         ao Imediato, Mike Lovegrove, para içar velas  aberto, bom vento e um mar pouco agitado.  para a ilha do Pico, passando ao largo de
         e este tratou de mobilizar o contramestre (“bo-  «É quando olho para ele assim, que eu amo  S. Jorge com o Faial à vista. Em missão de paz
         sun”), Ben Wheatley e os três “watch leaders”  o meu navio», confessa o contramestre.  é costume os veleiros chegarem ao porto com
         (chefes dos quartos de serviço) – Rob Whyatt,   O “Prince William” é um brigue de dois  os homens pendurados nas vergas dos mas-
         Barbara Boon e Brendan Hanvey – para pre-  mastros, 493 toneladas e 60 metros de com-  tros, sinal de que não estão prontos a disparar
         parem os seus homens para a tarefa.  primento construído em 2001 nos estaleiros  os canhões. E assim foi na Graciosa e no Pico,
           «Todos aos seus postos (“bracing sta-  britânicos de Devon, tomando como modelo  com metade da tripulação a cantar canções
         tions”)!» gritam os altifalantes a bordo, pro-  um veleiro do séc. XVIII. Deve o seu nome ao  escutistas e o hino da actividade no mastro da
         vocando uma certa azáfama nos marinheiros.  filho de Carlos e Diana, embora este nunca te-  frente: «navegar, navegar, até à exaustão, par-
         No convés, os tripulantes de serviço já tinham  nha estado a bordo, nem no dia do baptismo.  tilhando experiências e criando união».
         o arnês de segurança e estavam prontos a su-  Além das suas 18 velas com uma área total de   No dia seguinte, já atracado na marina da
         bir aos mastros e às vergas para soltar as velas.  1050 metros quadrados, o navio está dotado de  Horta, no Faial, o Capitão Bob Stephenson re-
         «Two, six… heave; two, six… heave», o grito  dois potentes motores Mercedes de 330 cavalos  cebeu a bordo Genuíno Madruga, o pescador
         tradicional dos que içam as velas nos veleiros  cada, que lhe permitem navegar mesmo quan-  açoriano que se tornou num herói nacional ao
         ingleses remonta ao tempo em que os dois ma-  do o vento teima em não soprar. Apesar do seu  completar, em 2002, uma volta ao mundo de
         rinheiros mais fortes (o 2 e o 6) eram chamados  aspecto rústico, dispõe no seu interior de cama-  19 meses em solitário no seu pequeno veleiro
         a levantar os canhões depois do disparo e vol-  rotes e beliches dignos de um iate, bem como  “Hemingway”; Jaime Alexandre, chefe dos
         tar a colocá-los em posição de tiro.   de uma messe e uma cozinha equipadas com  escuteiros do Faial durante mais de 40 anos
           Aproveitando ao máximo a brisa que so-  tudo o que é necessário para levar uma vida  e figura emblemática da ilha; e José Henrique
         prava de noroeste, o Comandante mandou  normal a bordo. Ar condicionado e um sistema  Azevedo, filho do famoso Peter (José Azeve-
         içar as velas de sobre e o joanete nos dois mas-  de dessalinização para produzir água potável,  do), fundador do mítico Café Sport da Horta.
         tros. Pouco depois, seria a vez das quatro velas  bem como os mais modernos equipamentos   No último dia, à chegada a S. Miguel, esti-
                                                           de radar, sonar, GPS e co-  veram igualmente a bordo o Director Regional
                                                           municações na ponte de  da Juventude, Emprego e Formação Profissio-
                                                           comando, completam o  nal, Rui Bettencourt; a Presidente da Câmara
                                                           seu apetrecho.      Municipal de Ponta Delgada, Berta Cabral; o
                                                             A segurança a bordo  Comandante da Zona Marítima dos Açores,
                                                           de um veleiro de grande  CALM Rodrigues Cabral; o Capitão do Porto
                                                           porte é imprescindível.  de Ponta Delgada, CMG Gonçalves Vaz; o Co-
                                                           «Uma mão para o navio  mandante do N.R.P. “General Pereira d’Eça”,
                                                           e outra para si próprio»,  CTEN Rodrigues Rato; o seu Imediato, 1TEN
                                                           assim o define Ben Whea-  Pedro Vinhas; e o Chefe Regional dos escuteiros
                                                           tley, ao explicar a técnica  do CNE (Corpo Nacional de Escutas), Manuel
                                                           de subida aos mastros e  Pires Luís, para quem esta iniciativa intitula-
                                                           às vergas, sempre de ar-  da “O Mar que Nos Une”, «representou uma
                                                           nês posto e devidamen-  oportunidade para juntar os escuteiros das
                                                           te amarrado aos cabos  várias ilhas, criando um espírito de região. É

         24  AGOSTO 2005 U REVISTA DA ARMADA
   273   274   275   276   277   278   279   280   281   282   283