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ACADEMIA DE MARINHA


               a Academia de Marinha realizou-se                               de C. Colombo, concluindo a sua comunica-
               no passado dia 22 de Março uma                                  ção exprimindo a sua estranheza pelo facto do
         Nsessão cultural sobre o tema “A                                      nosso país se ter alheado das “oportunidades que
         questão Cristóvão Colombo e a sua actua-                              nos poderiam ser úteis” quanto às comemorações
         lidade para Portugal” em que o orador con-                            dos 500 anos da chegada de Colombo ao novo
         vidado foi o TEN Coronel PILAV João José                              mundo, de também não nos termos feito repre-
         Brandão Ferreira.                                                     sentar “ na comissão que organizou em 1992, a ex-
           O Presidente da A. M., VALM Ferraz Sac-                             posição sobre os Descobrimentos que teve lugar em
         chetti fez uma síntese da actividade cultural de-                     Washington e presidida por Daniel J. Boorstin”.
         senvolvida pelo orador e do seu interesse pelos                         Além disso, voltou ainda a exprimir a sua
         assuntos nacionais ligados à especificidade por-                       consternação pelo pouco interesse manifesta-
         tuguesa no contexto europeu e mundial.                                do pelas entidades oficiais quanto à “Come-
           O orador iniciou a sua intervenção referindo-                       moração dos 500 anos da passagem do Cabo da
         -se aos diversos investigadores nacionais e es-                       Boa Esperança por Bartolomeu Dias, em 1487”
         trangeiros que se dedicaram ao estudo da vida                         e, ainda, “para ninguém ter dado conta, dos 500
         e obra de Cristóvão Colombo e das vicissitudes  Menendez Pidal, considerado o mais eminente  anos do Tratado de Tordesilhas” e “ sobre a chega-
         diversas que tais estudos implicavam, por ve-  dos filósofos espanhóis contemporâneos” que en-  da de Vasco da Gama à Índia”.
         zes, em consonância com outros interesses.  tre outras coisas acerca de C. Colombo afirma   Citou uma série de eventos históricos que
           Foi ainda explicado o ambiente político-  que “ os extensíssimos escritos espanhóis de  nunca foram comemorados, quando o de-
         -religioso europeu e peninsular da época e o  Colón, onde as confusões se produzem, in-  viam ter sido, atendendo à circunstância de
         princípio de D. João II “conter Castela em terra  troduzindo frases e vozes portuguesas, não  serem suficientemente singulares e contribuí-
         e batê-la no mar”.                 italianas”, parecendo com isto e, segundo  rem para relembrar o nosso esforço na cons-
           O orador integrou “o fenómeno” C. Colom-  o orador, que “a nacionalidade portuguesa  trução do mundo, o que admitiu, talvez nos
         bo nas actividades de pirataria e do corso, do  do grande navegador aparece cada vez com  viesse a acarretar “incompreensões, vitúperios e
         surgimento dos estados-nação com o fim do  maior força, por direito próprio e não por ex-  quiçá alguns problemas internacionais”.
         feudalismo e a entrada no Humanismo e no  clusão de partes.”            Por fim, o orador termina a sua interven-
         Renascimento e, ainda, o aparecimento do “ins-  Foram feitas referências várias às quatro  ção afirmando que apesar de todas estas fa-
         trumento revolucionário chamado imprensa”.  viagens efectuadas pelo navegador à Améri-  lhas “há que persistir na esperança de que melho-
           Sobre a nacionalidade de C. Colombo re-  ca Central e ao estranho auxilio que ele levou  res dias virão”.
         feriu as teses catalã, galega, italiana e portu-  “a Arzila, tendo apenas 4 navios e 140 homens, a   O Presidente da Academia agradeceu ao
         guesa, além de outras por demais fantasiosas  fim de socorrer os portugueses que estavam cerca-  orador a sua exposição sobre Colombo e no
         com os respectivos defensores e consequentes  dos pelos mouros”.      período que se seguiu foram trocados vivos
         incongruências e impregnações.       O orador prolongou ainda os seus comentá-  comentários sobre aspectos diversos aborda-
           Foi apresentada a afirmação de “Ramon  rios sobre aspectos pouco esclarecidos da vida  dos pelo orador.  Z


                               “QUEM VAI PRÓ MAR…”
                               “QUEM VAI PRÓ MAR…”

              erante numerosa assistência da                                         os seus livros já editados pela Comis-
              qual se destacava o Coman-                                             são Cultural: “A Força do Vento” e
         Pdante Naval, VALM Silva da                                                 “Um Pequeno Herói” e reportando -se
         Fonseca e antigos comandantes de                                            ao “Quem vai pró Mar…” afirmou:
         navios bacalhoeiros, foi apresentado                                        Neste trabalho continuo a descrição das
         a bordo do NTM “Creoula”, em 30                                             tarefas dos marinheiros pescadores, mas
         de Junho passado, o livro “Quem vai                                         desta vez durante as estadias de Inverno
         pró Mar…”, editado pela Comissão                                            em Portugal, quando tinham as seu cargo
         Cultural da Marinha e da autoria do                                         a preparação e conservação dos seus velei-
         Capitão da Marinha Mercante Antó-                                               ros. Intitulei estas recordações de:
         nio Marques da Silva.                                                           - “Quem vai pró Mar…”, pois en-
           O Presidente da Comissão Cultural,                                            tendi que aos assuntos versados, se
         CALM Leiria Pinto, iniciou a cerimó-                                            aplica bem o adágio que recomenda o
         nia tendo testemunhado a sua satisfa-                                           bom aparelhamento em terra àqueles
         ção por, à semelhança do sucedido em 2003  minar as suas palavras disse:        que vão navegar. A descrição destas
         e 2004, estar no “Creoula” a apresentar mais  Considero imprescindivel para o   tarefas, algumas tão especificas, foi
         um livro, do mesmo autor, relacionado com a  conhecimento dos mais jovens e     assunto que me prendeu e até como-
         pesca do bacalhau. Referindo-se à biografia do  das gerações vindouras que aque-  veu, quando agora a esta distância as
         Capitão Marques da Silva sublinhou os seus  les que viveram e participaram      recordei e procurei contar, através
         31 anos contínuos de serviço no mar nos quais  em epopeias, como foram as cam-  das palavras e dos desenhos que fui
         se incluem 21 campanhas do bacalhau na Ter-  panhas do bacalhau, passem a es-   fazendo, o melhor que sou capaz.
         ra Nova e Gronelândia e a sua actividade na  crito as suas experiências pois caso   Depois foi o autografar do li-
         àrea cultural de que se destacam o modelismo  isso não suceda, a História fica mais pobre ou pode  vro pelo autor e o convivio entre aqueles que
         naval, os trabalhos de Marinharia e os escritos  mesmo ser deturpada. Felicito pois o Comandante  participaram nas inesqueciveis campanhas do
         sobre a pesca do bacahlhau.        Marques da Silva pela sua obra.    bacalhau e que o estar a bordo do “Creoula” as
           O Presidente da Comissão Cultural ao ter-  Seguidamente o autor da obra mencionou  fazem recordar mais intensamente.   Z

         22  AGOSTO 2005 U REVISTA DA ARMADA
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