Page 263 - Revista da Armada
P. 263
O Sistema Integrado de Controlo de Comunicações
O Sistema Integrado de Controlo de Comunicações
Uma história de sucesso 1ª Parte
INTRODUÇÃO
A
complexidade crescente da envolvente
operacional implica a necessidade de
dotar os navios com instrumentos efi-
cazes de gestão dos recursos disponíveis, que
permitam uma reacção imediata a qualquer
alteração, inesperada e global, do cenário das
comunicações. Para tal requerem-se elevados
níveis de automação, que, simultaneamente,
permitam a redução do número de operado-
res especializados em comunicações e uma
maior eficiência e eficácia do serviço de co-
municações.
Atenta a esta necessidade e ao papel deter-
minante que as comunicações navais desempe-
nham no teatro de operações e no desenrolar de
quaisquer tipo de operações navais, a Marinha
Portuguesa, no início da década de 80, decidiu
dar um passo de gigante, na altura, e avançar
com a especificação técnica que serviu de base
à concepção, desenvolvimento e produção do O NRP “Comandante Roberto Ivens”, primeiro navio a ser equipado com o SICC - 1ª Geração.
primeiro Sistema Integrado de Controlo de Co- HISTORIAL do-se a maior parte ainda em funcionamento. O
municações (SICC). Foi determinante neste pro- sucesso alcançado com este programa abriu ca-
cesso o espírito empreendedor e visão de futuro Nos anos 70, quando o núcleo da actual minho para novos projectos: o desenvolvimento
1
de um grupo de oficiais da nossa Marinha que EID era o departamento de Investigação & De- de receptores VLF-HF e dos Sistemas Integrados
acreditou e acarinhou este projecto. senvolvimento de uma empresa portuguesa de de Controlo de Comunicações (SICC).
O SICC, tanto na sua versão original, como telecomunicações, a Centrel, a Marinha adju- Dá-se assim início, em 1981, à actividade no
2
nas sucessivas evoluções que sofreu ao longo dicou a três empresas nacionais um contrato domínio das comunicações navais com a cele-
do tempo, foi concebido e desenvolvido de for- para o desenvolvimento conjunto de transmis- bração de um contrato, com a então Centrel,
ma a responder, a cada momento, aos para o desenvolvimento de um sistema
novos desafios, tanto na área operacional que proporcionasse o comando e con-
como na tecnológica, proporcionando trolo das comunicações dos navios da
ferramentas e funcionalidades adequadas Marinha Portuguesa.
para garantir a gestão eficiente dos meios
de comunicação internos e externos dos 1.ª GERAÇÃO
navios. O desempenho dos vários navios
equipados com o sistema, no âmbito de O primeiro sistema foi instalado em
exercícios NATO e missões de carácter 1983, no NRP “Comandante Roberto
internacional, têm evidenciado um ob- Ivens”. Este foi, há mais de vinte anos, um
jectivo plenamente atingido. dos primeiros navios da STANAVFOR-
De realçar a capacidade de controlo LANT a ser equipado com um sistema
centralizado que o sistema oferece, atra- completo de comunicações integradas,
vés de uma interface Homem-Máqui- incluindo circuitos de comutação, equi-
na simples e intuitiva, integrando tam- pamento de controlo remoto e tratamento
bém capacidades de processamento de de mensagens, possuindo as ferramentas
mensagens. Deste modo, obtém-se uma SICC - 2.ª Geração instalado nas Fragatas Classe “Vasco da Gama”. necessárias para assegurar uma gestão fle-
gestão eficiente dos recursos de comuni- xível e eficiente, e o controlo de todas as
cações existentes a bordo, com um míni- comunicações dos navios. Ultrapassado
mo de pessoal especializado. O mesmo o impacte causado pela mudança drás-
princípio se aplica aos Terminais de Voz, tica de ambiente operacional, a guarni-
cuja operação é extremamente simples e ção aderiu entusiasticamente ao novo
intuitiva, facilita o treino dos elementos sistema, factor que contribuiu para o su-
da guarnição com a sua utilização, inde- cesso da mudança. O papel que aquele
pendentemente do grau de conhecimen- AOR “Patiño”, equipado com o SICC - 3.ª Geração (Marinha Espanhola). navio desempenhou, na altura, foi de tal
to dos procedimentos de comunicações, modo relevante que, quando incorpo-
permitindo o acesso a canais de comunicação sores HF solid-state de 1KW. Foi um desafio im- rada nas forças da NATO, era designado para
em fonia, tanto internos como externos. portante, dado que, na altura, os amplificadores assumir a função de suporte às comunicações
Actualmente em funcionamento em fragatas, solid-state envolviam uma tecnologia completa- nas operações.
corvetas e navios de apoio de Marinhas NATO mente nova. Fruto desse sucesso, em pouco tempo a Ma-
e não só, o SICC pode ser adaptado para os re- Era a primeira vez que um projecto desta natu- rinha Portuguesa decidiu alargar a instalação do
quisitos específicos de qualquer tipo de navio reza era desenvolvido em Portugal, mas o resul- SICC às restantes fragatas da classe “Comandan-
de guerra, desde navios patrulha e submarinos tado superou todas as expectativas: mais de uma te João Belo”, às corvetas da classe “Baptista de
a porta-aviões. centena de unidades foram instaladas, encontran- Andrade” e ao N.R.P. “João Coutinho”.
REVISTA DA ARMADA U AGOSTO 2006 9