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Da Revolução de 1820 à Convenção de Évora-Monte e Morte de D. Pedro IV
ão querendo repetir a biografia do autor, General Pereira refere-o constantemente e, a determinado passo, designa-o simples-
Bastos, pormenorizadamente apresentada no livro pelo seu mente como “o reorganizador do Exército, Promotor das Escolas
Nneto, embaixador Dr. João Perei- de Repetição, e Comandante do Campo
ra Bastos, que teve a gentileza de ceder Entricheirado” (p.243).
à Academia de Marinha o manuscrito, O livro agora editado, é uma crono-
salienta-se que foi um militar de grande logia muito particular e de grande in-
valor, com uma vida muito interventiva teresse. Para além da simples datação
e diversificada, mas sempre dedicada ao sequencial de eventos, explica-os resu-
Exército. midamente e, mais importante, frequen-
Recordem-se, no entanto, e muito resu- temente os comenta com grande objecti-
midamente, alguns aspectos da vida do vidade e muita clareza. A Academia de
distinto militar: Tendo iniciado a carreira Marinha não pode deixar de notar ainda
na Arma de Cavalaria, João Pereira Bastos que contém perto de 22 referências à pre-
foi, no posto de capitão e como oficial do sença ou à participação naval em circuns-
Estado-Maior, responsabilizado por al- tâncias diversas deste perío-
guns dos estudos para a organização do do conturbado de 14 anos da
Exército, em consequência do decreto do nossa História.
Ministério de José Luciano de Castro, de Sobre esta obra e o seu au-
7 de Setembro de 1899. Salienta-se este tor, usou então da palavra o
aspecto pelo facto de, mais tarde, o Ge- Embaixador Dr. João Pereira
neral Pereira Bastos se ter notabilizado Bastos que se referiu ao ma-
na reorganização do Exército. nuscrito, como que equiva-
Após o Regicídio, foi responsável pela lente a um singelo “carnet de
organização do plano de segurança dos bord” sobre a complexa situa-
palácios reais; mas, na proclamação da República, no próprio dia ção político-militar atravessa-
5 de Outubro de 1910, ainda capitão, foi nomeado chefe do Esta- da, naquela altura, pelo nosso
do-Maior da 1ª Divisão em Lisboa comandada pelo general Antó- País. Abordou também a im-
nio Carvalhal; foi Ministro da Guerra no governo de Afonso Cos- portância da contribuição dos
ta (1913-1914), governador do Campo Entrincheirado de Lisboa meios navais, portugueses e
e terminou a sua brilhante carreira como Chefe do Estado-Maior estrangeiros, que intervieram
do Exército. nas lutas travadas, seja em
Vitorino Magalhães Godinho, na importante obra “Vitorino Hen- missões de combate “batalha naval do Cabo S.Vicente – 5 JUL 1833),
riques Godinho – Pátria e República” (Colecção Parlamento, 2005), seja em operações de transporte ou de assistência.
o âmbito da programação cultural da Academia de Marinha, e dos navios holandeses que, sucessivamente, foram aparecendo no
teve lugar no auditório desta instituição no passado dia 3 de Índico e na zona das Molucas, em 1599-1600, bem como da nossa re-
NOutubro de 2006, uma comunicação do Membro Emérito acção naval a tais intromissões e provocações, comparando os navios
desta Academia Comandante Armando Saturnino Monteiro acerca portugueses e os holandeses, em que estes últimos ”eram francamen-
de “A Batalha Naval do Estreito de Malaca de te, superiores aos portugueses por serem mais
1606 e as operações subsequentes – um rosário rápidos, bolinarem mais e terem maior número
de interrogações”. de bocas de fogo”, citando ainda o facto de os
A Presidente da mesa, Vice-Presidente da Aca- portugueses utilizarem “os galeões preferencial-
demia Profª. Doutora Raquel Soeiro de Brito em mente como navios de guerra e as naus como
representação do Presidente, fez uma breve apre- navios mercantes.”
sentação do orador, cujos contributos profissio- Na última parte da sua comunicação o orador
nais são bem conhecidos desde longa data. entrou, com algum pormenor, nas operações na-
O orador, após agradecer as palavras amigas vais de 1606 no Sueste Asiático, iniciando as suas
da Profª. Raquel Soeiro de Brito, esclareceu o fac- considerações com o cerco de Malaca (Abril 1606)
to de no ano corrente ocorrer o 4º centenário da e como foi apressadamente levantado pelos na-
batalha naval do Estreito de Malaca (1606) contra vios holandeses, face à chegada de navios por-
os holandeses que, em sua opinião, foi a maior tugueses da Índia.
batalha naval da nossa História e salientando Após isto, referiu-se à Armada do Vice-Rei,
pretender suscitar a atenção dos académicos e D. Martim Afonso de Castro e a sua passagem
dos historiadores em geral para uma batalha naval quase praticamen- pelo Achém, bem como à batalha naval do estreito de Malaca que teve
te ignorada que “envolve problemas de muito interesse” no campo da fases de resultados ambíguos; daqui o rosário de interrogações que é
história naval, da estratégia, da táctica e até da construção naval. legítimo levantar acerca do acervo das decisões do Vice-Rei quanto às
Principiou por discutir o enquadramento histórico da actividade missões das duas partes em que armada portuguesa foi dividida.
comercial no Oriente e das vicissitudes políticas nacionais (1594) que Finalmente, sucedeu-se um largo período de perguntas e respostas
provocaram a necessidade da Holanda ir com os seus próprios navios entre o orador e a assistência em que, com a bibliografia exposta pelo
e esquadras às fontes das especiarias e das consequências funestas que orador, foram ainda esclarecidos pormenores relacionados com a ma-
resultaram para o nosso comércio marítimo naquela parte do globo, téria discutida oralmente e através de diversos quadros e esquemas
principalmente após a formação pelos holandeses da famosa “Com- das batalhas.
panhias Reunidas das Índias Orientais”. Z
Especificou a composição das forças navais portuguesas na Índia (Colaboração da Academia de Marinha)
REVISTA DA ARMADA U MARÇO 2007 27