Page 99 - Revista da Armada
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simpaticamente, conse- S. Julião da Barra I S. Julião da Barra II Com a ajuda de cola-
guiu desencantar a verba boradores de excepção,
em falta no fundo dum Francisco Alves vai de-
baú. Nunca poderei es- sencantando objectos
quecer aquele seu gesto. que foram pertença dos
E, assim, entraram dois navios ali afundados.
astrolábios mais no Mu- Palamenta, porcelanas
seu de Marinha: o Atocha e outras coisas mais e,
III e o Atocha IV. o que é curioso, ainda
Em 1994, arqueólogos alguma pimenta que,
exploravam um sítio na teimosamente, perma-
Ria de Aveiro, onde se neceu, durante séculos,
detectara vestígios dum em recipientes que resis-
navio do nosso passado tiram à fúria das ondas.
glorioso. Nas proximi- Certo dia – recordo-
dades desse local, um me bem –, Francisco Al-
mergulhador amador ves telefona-me dizendo
encontra um astrolábio que tinha sido encontra-
náutico. Guarda-o orgu- do um astrolábio. Dis-
lhosamente. Todavia, alguém lhe diz que deve S. Julião da Barra III se-lhe, por graça: “Continue, estão lá mais!” E
dar conhecimento do achado à Capitania do estavam! De facto aparece um segundo e, por
Porto – como manda a lei -- o que ele faz. O as- fim, – será o último? – um terceiro. Este, datado
trolábio é avaliado e o Estado Português adqui- de 1605, exibe a letra G, o que, possivelmente,
re-o. O achador recebe a devida recompensa. identificará um dos mais famosos fabricantes
Uma marca, constituída por cinco pequenos portugueses da época – de seu nome Agosti-
círculos em cruz, atesta que o astrolábio é de nho Góis Raposo.
fabrico português. Mas, ainda há mais: o as- Portanto, temos agora o S. Julião da Barra 1, o
trolábio exibe a data de 1575, o que faz dele o S. Julião da Barra 2 e o S. Julião da Barra 3.
mais antigo existente no nosso país. Além disso, Francisco Alves, depois de ter deixado o
apesar de ter mais do que quatro séculos, por Museu de Arqueologia, prossegue a louvável
ter permanecido num local de águas paradas, missão de descobrir o passado tendo criado,
encontra-se em perfeito estado de conservação. para o efeito, o Centro Nacional de Arqueolo-
Até parece que acabou de sair das mãos do artí- gia Náutica, a que pertencem estes três astro-
fice que o fabricou. lábios. Astrolábios que, gentilmente, o Centro
Demos-lhe o nome de Aveiro. mantém depositados numa vitrina do Museu
A Exposição Universal, que decorreu em Lis- Marinha, em companhia de outros objectos e,
boa no ano de 1998, teve como tema específico até, de grãos de pimenta, que ajudam a recor-
“Os Oceanos. Um Património para o Futuro”. dar a nossa epopeia gloriosa.
Na preparação do evento, tudo se fez para honrar o propósito da Com estes três astrolábios, são 9 os que podem ser apreciados nesse
EXPO-98. Simoneta Luz Afonso, Comissária do Pavilhão de Portugal, belo Museu que habita no Mosteiro dos Jerónimos, o que constitui a
consegue verba para executar um programa de exploração do fundo maior colecção jamais reunida em continuidade.
do mar. Francisco Alves, na altura director do Museu Nacional de Ar- No Observatório Astronómico de Coimbra, existe ainda um outro as-
queologia, elege o sítio de São Julião, que assinala a entrada da Barra trolábio, já tardio, mas que tem a particularidade de possuir uma escala
de Lisboa, para essa pesquisa subaquática. Poucas vezes, na História – chamada diagonal – que antecedeu o famoso nónio de Pedro Nunes
da Arqueologia, se escolheu tão judiciosamente um local para fazer re- e que permite ler as subdivisões da mais pequena divisão duma escala.
nascer o passado distante. De facto, naquela ponta traiçoeira, onde se Este astrolábio, tem ido sido classificado de náutico, mas, devido às suas
construiu tão bela fortaleza, muitos navios pereceram devido a mau dimensões e peso, não parece que tenha alguma vez embarcado.
tempo. Dum dos navios conhece-se bem a história. Tinha o nome de E aqui deixo o meu paciente leitor, esperando ter conseguido provar
Nossa Senhora dos Mártires. Vinha carregado de pimenta e entre os inú- que a pesquisa histórico-científica depende, muitas vezes, da força do
meros afogados e os pedaços do casco desfeito, que foram aparecendo acaso e, às vezes, dum simples cocktail party.
após o naufrágio, o espectáculo com mais impacto, na memória dos Z
contemporâneos, foi um mar repleto de grãos de pimenta, esse pro- António Estácio dos Reis
duto que, na época, era tão desejado. CMG
Brinde aos Assinantes
“OS FARÓIS DE PORTUGAL NA REVISTA DA ARMADA”
OS FARÓIS DE PORTUGAL
NA e Agosto de 2003 a Julho de 2006 a Revista sos obrigou a fazê-las de novo.
REVISTA DA ARMADA Dda Armada publicou nas suas contracapas No pequeno resumo histórico apresentado, da responsabilidade da Direcção de
fotografias dos principais faróis de Portugal, Faróis, foram utilizados relatórios e estudos que estiveram na base da implanta-
aproveitando simultaneamente para no verso da ção dos Faróis, designadamente a partir da metade do séc. XIX. No centro destes
respectiva contracapa apresentar um pequeno resumos foram inseridas algumas fotos com pormenores interessantes.
resumo do seu historial, desde a sua instalação No ano em que comemora o seu 35º aniversário, e indo ao encontro do desejo
às técnicas utilizadas e indicando as suas carac- manifestado por inúmeros leitores, a Revista da Armada, reuniu nesta pequena
terísticas principais. brochura, os Faróis de Portugal, nela publicados durante quase três anos.
No que diz respeito às fotografias, foram E, é com prazer redobrado, que a Revista da Armada vai oferecer a obra “Os Faróis
utilizadas, de preferência, aquelas em que os de Portugal na Revista da Armada” aos seus assinantes, de que muitos se orgulham
faróis eram observados do lado do mar, como de o ser desde o primeiro número.
os marinheiros os vêem, o que em alguns ca- O Director
REVISTA DA ARMADA U MARÇO 2007 25