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VALORES, IDENTIDADE E MEMÓRIA 10
Medicina Naval
Um importante pilar da prontidão da Marinha
ara cumprimento das suas missões soal. Para lá de conhecimento científico só-
a Marinha necessita não só de ade- lido, exige-se-lhes que tenham uma atitude
Pquados meios, mas também, e so- aberta e capaz de o aplicar neste ambiente
bretudo, do seu recurso mais importante, especial que é o mar.
as pessoas. As especificidades da Medicina Naval
Determinados, disciplinados, dedica- não se limitam à problemática da compo-
dos, tecnicamente bem preparados e sau- nente operacional, ocupacional e ambien-
dáveis, os marinheiros portugueses enfren- tal, atrás referidas, vão muito para lá delas.
tam melhor as dificuldades que a condição A Medicina Naval tem áreas especiais de
militar lhes coloca. A saúde constitui, pois, intervenção, nomeadamente, a Medicina
uma das forças multiplicadoras essenciais Subaquática e Hiperbárica, a Medicina do
ao adequado desempenho do cumprimen- Exercício Físico e o apoio médico NBQR,
to das missões da Marinha. em que lidera, ou ocupa posição de rele-
Ambientes extremos e adversos, condi- vo, no panorama da Medicina Nacional
ções de habitabilidade específicas, riscos e Europeia.
operacionais elevados e sempre presen- Este conjunto de competências descri-
tes, stress continuado com frequentes pi- tas, faz dos profissionais que integram a
cos e longos afastamentos familiares, são Saúde Naval, pessoal com apetência para
apenas algumas das imposições com que a intervenção médica em situações de ca-
o mar e a vida militar naval presenteiam tástrofe.
o seu pessoal. À imagem da Marinha também a Me-
A promoção, prevenção, conservação e dicina Naval se rege pelo paradigma do
recuperação rápida são indispensáveis à duplo uso.
aptidão para a vida militar naval. Desenvolvida para apoiar os marinhei-
Todo o dispositivo de apoio à saúde dos ros do activo da Armada onde quer que
marinheiros tem de considerar as especi- seja necessário, prepara-se, cada dia mais
ficidades da vida militar naval, no mar ou afincadamente, para com flexibilidade e
em terra. Necessita não só de ser eficaz e adaptabilidade se projectar e ser eficaz e
eficiente, mas também, flexível, adaptável eficiente. Utiliza, ainda, as suas capacida-
e projectável, acompanhando os marinhei- des no tempo entre missões, para cuidar
ros onde eles estiverem e actuarem. de modo diferenciado e a nível hospitalar
A Saúde Naval tem, por isso, que actuar dos seus doentes e, procura fazê-lo com
muitas vezes fora do ambiente sofisticado, competência e prontidão. A sua capaci-
diferenciado e protector do hospital. Ne- dade sobrante de cuidados primários de
cessita, pois, de especial atenção à promo- saúde ou da medicina hospitalar coloca-a
ção da saúde, fazendo a predicção e edu- ao serviço, não só dos marinheiros reser-
cando para os riscos de comportamentos vistas e reformados e da família naval,
e atitudes desadequados, decidindo sobre mas também de toda a população por-
a aptidão para determinadas tarefas e mis- tuguesa. Recebe, avalia e trata todos os
sões, avaliando e facilitando a adaptação a que necessitam da Medicina Subaquáti-
adversidades, riscos e exigências da activi- ca e Hiperbárica e colabora, através de
dade operacional. Quando actua no teatro protocolos, não só com o SNS, recebendo
operacional, fá-lo em condições distintas acompanhando e tratando doentes, mes-
daquelas que existem habitualmente nas mo em internamento, mas também, com
estruturas de saúde. Actua, muitas vezes, estruturas públicas e privadas de ensino,
com menos meios logísticos e sempre com participando na formação pré e pós gra-
menor recurso a intervenções multidisci- duada de muitos portugueses e na inves-
plinares. Previne, trata e inicia a recupera- tigação científica nacional.
ção pós lesão, exigindo-se-lhe uma visão Criada, desenvolvida e orientada para
globalizante e pragmática. Cabe-lhe ainda o apoio na saúde e na doença aos mari-
motivar ou, simplesmente, favorecer a ma- nheiros da Armada Portuguesa, a Medi-
nutenção do equilíbrio psicológico que a cina Naval estendeu as suas actividades
adversidade do meio tende a romper. com inegável espírito de serviço público,
O médico ou o enfermeiro em missão como pólo complementar da saúde e da
operacional têm de ser marinheiros de educação nacionais. Fez e faz o seu traba-
corpo inteiro, solidários, cúmplices e em- lho de modo competente, rigoroso e dedi-
penhados. Colocam ao serviço do grupo os seus conhecimentos na cado. Procura a excelência e quer continuar a ser um importante pilar
manutenção e na recuperação da saúde, participando, desse modo, na da prontidão da Marinha.
segurança e protecção individual que favorecerão a prontidão do pes- Z
6 FEVEREIRO 2007 U REVISTA DA ARMADA