Page 49 - Revista da Armada

cadeias e agrupamentos mais complexos de O PICO DE HUBBERT OU e actualmente é da ordem dos 8 milhões de
átomos de hidrogénio e de carbono. DE PRODUÇÃO barris por dia. Em 1970 a procura nos EUA
A matéria orgânica que desencadeou o pro- equiparou-se à produção total, terminan-
cesso de formação do petróleo compunha-se Para se chegar a estes cálculos usam-se mo- do assim a capacidade de produzir mais do
de algas que terão «florido» nas águas pouco delos matemáticos dos quais o mais famoso que necessário, tendo Hubbert previsto este
profundas de lagos e oceanos pré-históricos, é o Pico de Hubbert. M. King Hubbert, um facto em 1956.
durante períodos longos e propícios de aque- geofísico, que criou um modelo matemático Em 1956, Hubbert, com o seu modelo
cimento global, entre os 300 milhões e os 30 da extracção do petróleo que previu que a matemático previu correctamente o pico da
milhões de anos atrás. Essa acumulação visco- quantidade total de petróleo extraída ao lon- produção de petróleo nos EUA com 15 anos
sa de plantas mortas, chamada querogénio, in- go do tempo seguiria uma curva logística em de antecedência. Embora controverso, este
corporou-se em sedimentos subaquáticos que forma de sino (curva de Hubbert), seja num modelo tem-se mostrado a cada ano que pas-
vieram a ser empurrados para baixo ou dobra- campo individual ou no planeta como um sa mais eficaz em modelar correctamente a
dos por movimentos ocorridos na crosta terres- todo. Na parte ascendente da curva os cus- exploração de petróleo. Ultimamente tem
tre. As forças tectónicas enterraram-nos a uma tos de produção são significativamente mais vindo a ganhar influência junto dos deciso-
profundidade entre os 2200 e os 4500 metros. baixos do que na parte descendente, quando res políticos dos governos e da indústria do
A «janela do petróleo» petróleo. Actualmen-
situa-se entre os 2200 e te, raramente se de-
os 4500m de profundi- bate se haverá ou não
dade. Só nesta «janela», um pico, mas quando
tendo em considera- ocorrerá e qual a se-
ção que a temperatura veridade dos efeitos
aumenta cerca de 14º posteriores. Mesmo os
Fahrenheit de 300 em mais generosos relató-
300m e também au- rios corporativos esti-
menta a pressão, os an- mam que as reservas
tigos sedimentos con- de petróleo não durem
tendo querogénio são mais que 100 anos.
transformados em ro- A pouco e pou-
cha sedimentar satura- co vamos-nos apro-
da de hidrocarbonetos. ximando do que se
A profundidades abaixo chama o pico de pro-
dos 4500m, as pressões dução de petróleo
e a temperatura são tão convencional, que se
elevadas que as molé- prevê que ocorrerá
culas de hidrocarbone- Ilustração da depleção do petróleo segundo Colin Campbell (http://www.peakoil.net/uhdsg/Default. antes de 2010, po-
htm). US-48 = 48 estados continentais dos EUA. NGL – Natural Gás Liquids.
to se decompõem no dendo já ter sido. O
composto mais simples, o gás metano, grande é necessário um maior esforço (despesa) para pico corresponde ao consumo de metade
parte do qual se vai escapando pelas camadas extrair petróleo de poços que estão a ficar va- do petróleo convencional que havia para
de rocha, ao longo do tempo. Embora a «ja- zios. Assim, o petróleo é abundante e barato consumir. Quer dizer que teremos ainda
nela do petróleo» se situe entre os 2200 e os na curva ascendente, escasso e caro na curva outra metade para consumir, mas agora não
4500m é muitas vezes descoberto mais perto descendente. O pico da curva coincide com há capacidade para continuar a responder
da superfície, como aconteceu na Pensilvâ- o ponto em que as reservas mundiais de pe- apenas com petróleo convencional, à pro-
nia. Estas infiltrações devem-se ao aumento tróleo estão consumidas em 50%. “Peak Oil” cura que entretanto, essa sim, não pára de
de pressão subterrânea. (pico do petróleo) é o termo da indústria para crescer.
Há vários tipos de petróleo, o mais abun- o topo da curva. Uma vez passado o pico, a Não são só as economias desenvolvidas
dante e comum é o chamado ”petróleo con- produção de petróleo começa a decair en- que se mostram sempre mais vorazes para o
vencional”, de extracção mais fácil e barata, quanto os custos começam a subir. petróleo, mas também as economias em vias
e todo o restante é o “não convencional”, Em termos práticos e bastante simplifica- de desenvolvimento, sobretudo os gigantes
que inclui o que está a grandes profundi- dos isto significa que se no ano 2006 ocor- como a China e a Índia.
dades sob o leito dos oceanos, o que se reu o pico do petróleo, a produção mundial Este aumento de procura e falta de elas-
apresenta misturado com areias (chamado de petróleo no ano 2026 será a mesma de ticidade na resposta, tem como consequên-
petróleo pesado) e o das regiões polares. 1986. Contudo, a população mundial em cia uma subida de preço que fará com que
O primeiro, o convencional, corresponde 2026 será muito maior (aproximadamente o restante petróleo, não convencional, que
a cerca de 95% do petróleo extraído e é o o dobro) e muito mais industrializada do tem custos de extracção mais elevados e ex-
mais abundante. que era em 1986. Consequentemente, a terioridades maiores, se torne mais e mais
procura mundial de petróleo ultrapassará a competitivo e venha a ser cada vez mais
QUE PETRÓLEO HÁ? sua produção por uma margem significati- produzido.
va. Quanto mais a procura exceder a pro- Matthew Simmons, presidente da Sim-
Segundo Colin Campbell, que foi geólo- dução, mais alto será o preço. Em última mons & Co. International, uma firma de
go-chefe da Amoco, director-geral da Fina e análise, a questão não é “Quando acabará Houston especializada em investimentos
trabalhou para a BP, Texaco, Shell, Chevron o petróleo?”, mas sim “Quando acabará o bancários no sector da energia, perito reco-
Texaco e Exxon numa dezena de países, “até petróleo barato?” nhecido na área da energia, disse no encon-
2005 foram extraídos cerca de 944 biliões O pico de produção de petróleo nos EUA tro de 26OUT06 da Association for the Stu-
de barris, sobram 764 biliões a extrair dos deu-se em 1970, embora só se tenha tido dy of Peak Oil and Gas (ASPO), em Boston,
campos conhecidos ou em reservas e 142 essa noção uns três anos mais tarde. Em que a produção mundial de crude diminuiu
biliões de reservas a descobrir, isto é, de lo- 1970, a produção máxima foi de 11,3 mi- de 84.35 milhões de barris por dia (mbd)
cais onde se espera encontrar crude. Se isto lhões de barris por dia, o valor mais alto re- para 83.98 mbd entre o final de 2005 e me-
for verdade, então o pico de produção será gistado. Em meados dos anos 80 a produção ados de 2006. Segundo ele, se a tendência
atingido muito em breve”. era da ordem dos 9 milhões de barris por dia se mantiver durante mais uns 10 meses po-
REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2007 11