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40 anos do N.R.P. “Barracuda”
40 anos do N.R.P. “Barracuda”
o dia 4 de Maio de 1968, foi au- havendo previsão para o seu termo. É as- É neste período que se dão alguns episó-
mentado ao efectivo dos navios sim que, em Fevereiro de 1974, é criada a dios tenebrosos, fruto das endémicas difi-
Nda Armada o N.R.P. “Barracuda”. Inspecção de Reparação de Submarinos do culdades de comunicação dos submarinos.
Nessa altura ninguém previa que 40 anos Arsenal do Alfeite (IRS-AA). Este organis- Sendo a discrição um factor fundamental
volvidos ainda continuasse a desbravar as mo veio a ser fundamental na manutenção para o sucesso das suas missões, é com
profundezas do reino de Neptuno. Com dos submarinos, garantindo, entre outros, natural aversão que se cometem indiscri-
efeito, a sua vida útil inicial era de 25 anos, que ao fim de 40 anos o “Barracuda” con- ções, como sejam a transmissão de mensa-
tendo vindo a ser suces- gens. Daí que os subma-
sivamente prolongada de rinos apenas transmitam
forma a evitar um hiato na o mínimo indispensável.
capacidade submarina na- No entanto, em tempo
cional até à entrada ao ser- de paz, por regra devem
viço do primeiro submari- Foto: Arquivo da Esquadrilha de Submarinos ser enviadas mensagens
no da classe “Tridente”, o de segurança de forma a
que o levará até perto dos tranquilizar os comandos
42 anos de idade. superiores. Sucedeu, no
Mas a sua história tem entanto, que por diversos
como primeiro registo motivos, nos quais se po-
o dia 24 de Setembro de dem incluir avarias nos
1964, data em que foi as- transmissores, condições
sinado o contrato de aqui- de propagação adversas,
sição de 4 submarinos e 4 e todo um rol de questões
fragatas a França. Em 19 esotéricas associadas às co-
de Outubro do ano seguin- municações navais, o “Bar-
te foi assente a sua quilha, racuda” se viu impossibi-
sendo lançado à água em litado de fazer chegar ao
24 de Abril de 1967. Após seu comando essas mensa-
a sua entrega à Marinha Lançamento à água. Dubigeon-Normandie, Nantes. gens, levando naturalmen-
Portuguesa permaneceu ainda em águas tinue a navegar em imersão, em seguran- te a que se tocasse a “postos de pânico” e
francesas, para completar o aprestamen- ça, e sem limitações. Também foi responsá- fossem iniciados os procedimentos previs-
to e adestramento da guarnição, largan- vel por, após os atrasos e delongas iniciais, tos para fazer face a um acidente com um
do de terras gaulesas a 9 de Outubro de terminar a primeira GR do “Barracuda” 33 submarino. A bordo, cientes do que se es-
1968 e cruzando-se pela primeira vez com meses após o seu início. taria a passar em terra, o ambiente também
as Tágides a 13 de Outubro desse mesmo Adquiridos os conhecimentos técnicos era de alguma tensão. Nada mais podendo
ano. Iniciou-se assim a longa vida do mais e o domínio da plataforma, iniciou então fazer, iniciou-se a aterragem. Após atracar, o
duradouro e provecto submarino da nos- a sua actividade operacional, em missões comandante dirigiu-se ao Comando Naval
sa Marinha. de patrulha nas águas nacionais e em do Continente (na altura sito no palácio do
Os primeiros tempos foram naturalmen- exercícios nacionais e internacionais, al- Alfeite), encontrando aí o pessoal do Esta-
te passados em acções de do-Maior da Esquadrilha
formação e adestramento. de Submarinos. Como os
Com efeito, os submari- prezados leitores devem
nos da classe “Albacora” calcular, foi com bastante
foram os primeiros navios alívio que a intempestiva
portugueses verdadeira- Foto: Arquivo da Esquadrilha de Submarinos aparição do comandante
mente merecedores desse do “Barracuda” foi acolhi-
título, pois anteriormen- da, pese embora um pri-
te existiam submersíveis, meiro olhar gaseado de
com tudo o que essa evolu- quem julga contemplar um
ção implicou de mudança fantasma vomitado por
de rotinas, procedimentos Neptuno das profundezas
e, sobretudo, doutrina e do Mar Oceano.
mentalidades. Assim sen- Com o início da década
do, a vida do “Barracuda” de 80 do século passado,
foi decorrendo com nor- atingiu-se a maioridade
malidade, até que se viu operacional dos subma-
actor involuntário de um rinos da classe “Albaco-
evento que viria a ter re- “Barracuda” sob comando do CTEN Brites Nunes, vendo-se na torre a silhueta do M/V “Bandim”. ra”, de que dão bem teste-
percussões importantíssimas para os sub- guns dos quais fazem parte do folclore e munho dois eventos marcantes na história
marinos portugueses. Em Maio de 1972 ini- dos episódios míticos dos submarinistas, submarinista, quiçá os seus mais altos mo-
ciou a sua primeira Grande Revisão (GR), de que são exemplo os exercícios das sé- mentos, e nos quais foi portagonista o “Bar-
que seria também a primeira a ser efectuada ries SWORD FISH, TAPON, JMC, JOLLY racuda”, sob o comando do então CTEN
em Portugal. No entanto, uma acção de ma- ROGER, e tantos outros que seria fastidio- Brites Nunes.
nutenção com uma duração inicial prevista so estar a descrever, pois parafraseando O primeiro consistiu no “afundamento”
de 18 meses, ao cabo de 23 meses ainda se o apóstolo João, nem todos os livros da de um porta-aviões norte-americano no de-
encontrava em fase de desmontagens, não terra os poderiam conter. curso de um exercício NATO, facto na altura
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