Page 272 - Revista da Armada
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bastante noticiado na comunicação social, e Em 1991, com a entrada ao serviço das da situação dramática pela qual tinham pas-
com ecos que reverberam nos nossos ouvi- fragatas da classe “Vasco da Gama”, e com sado. Como a aprendizagem se faz também
dos nos dias de hoje. Efectivamente, é co- a participação destas no treino proporcio- com os insucessos, este episódio pemitiu
mum encontrar paisanos que, ao referirem- nado pelo FOST, iniciou-se mais uma das a renovação de alguns procedimentos no
se a histórias de submarinos, trazem logo à emblemáticas missões dos submarinos: a processo de vinda à cota periscópica, mas
baila este episódio. Asso- permitiu sobretudo que se
ciado a este evento surgiu efectuasse uma moderni-
o relato, lendário ou não, zação nos sonares de bor-
sobre o almirante america- do, de forma a minorar
no, comandante do Battle a possibilidade de ocor-
Group a que pertencia o Foto: Arquivo da Esquadrilha de Submarinos rência de acidentes seme-
malogrado vaso de guer- lhantes, mantendo intacta
ra, que, após conhecido a operacionalidade dos
o feliz sucedido para as submarinos portugueses,
cores nacionais, foi devi- numa altura em que se es-
damente substituido nas tava a iniciar o processo
suas funções, encerrando conducente à renovação
assim de forma inglória da capacidade submarina
uma, até então, brilhante nacional. Por vissicitudes
carreira. várias, este processo foi-
O outro foi o primeiro, -se prolongando no tem-
e até ao momento único, po, levando à necessida-
afundamento de um na- de de se abaterem alguns
vio por parte de um sub- Afundamento do M/V Bandim. dos submarinos, de forma
marino português. Em Dezembro de 1982, o colaboração no FOST como forma de con- a manter operacional pelo menos um, per-
M/V “Bandim” encontrava-se parcialmen- trapartida pelo treino dado às fragatas. mitindo assim a manutenção da capacidade
Naturalmente, o “Barracuda” foi chama- submarina nacional, e assegurando a transi-
do, por diversas vezes, às movimentadas ção do manacial de conhecimentos, perícias
Estaleiro construtor: Dubigeon-Norman-
die, Nantes, França águas do Sul de Inglaterra, para colaborar e experiências entre gerações de submarinis-
Assentamento quilha: 19 Outubro 1965 no adestramento (e afundamento sucessi- tas. Coube assim ao “Barracuda” a honra
Lançamento à água: 24 Abril 1967 vo, virtual mas muito real aos olhos das de servir de ponte entre um passado inicia-
Aumento ao efectivo: 4 Maio 1968 equipas de avaliação) dos camaradas da do em 1913 e um futuro cuja concretização
Guarnição: superfície, portugueses e de outras nacio- efectiva está prevista para 2010. Para o efeito
Oficiais: 7, Sargentos: 15, Praças: 32, nalidades, que cruzaram o caminho do ti- tornou-se necessária fazer ainda mais uma
Total: 54 gre dos mares. GR, a adicionar às 5 anteriormente feitas.
Dados estatísticos (até Maio de 2008): Em 1994, no decurso de uma destas mis- Verificou-se também um envelhecimento
Milhas percorridas: 279 816 sões, deu-se o mais triste dos momentos progressivo dos seus equipamentos de es-
Horas de Navegação: 46 636 da sua longa carreira. No final de mais um cuta, correndo-se o risco de imobilização do
Horas de Imersão: 32 879 exercício, no sempre delicado momento de navio por problemas de obsolescência téc-
regresso à cota periscópica, o “Barracuda” nica e logística nesta àrea vital para a ope-
embateu num navio mercante. Graças ao ração do submarino, em virtude de, como
te afundado, 120 milhas a sudoeste de Lis- elevado nível de treino e à pronta reacção já se mencionou anteriormente, nunca ter
boa, constituindo perigo para a navegação. da guarnição, apenas se registaram danos sido feita uma modernização digna desse
Não tendo sido possível nome. Assim com o início
afundá-lo a tiros de peça, do último ciclo operacio-
foi ordenado ao “Barracu- nal da sua vida, em 2004,
da” que o afundasse com Foto: CTEN Farinha Alves procedeu-se progressi-
um torpedo. No dia 15 vamente à substituição
de Dezembro foi lançado do interceptador-anali-
um torpedo que atingiu o sador sonar e do sonar
“Bandim”, causando-lhe passivo. Paralelamente
o seu afundamento defi- foi o “Barracuda” equi-
nitivo em 15 minutos, fac- pado com comunicações
to confirmado com uma satélite, W(SUB)-ECDIS
pesquisa sonar feita pelo e AIS. Desta forma não
“Barracuda” a várias pro- só se garantiu a sua ope-
fundidades. racionalidade até 2010,
Com o passar do tem- mas também, em virtude
po começaram a surgir do salto tecnológico pro-
os primeiros sintomas porcionado pelos novos
de obsoloscência técnica equipamentos, se iniciou
e logística, que levaram, o processo de aculturação
no final da década de 80 a novas metodologias de
e início da década de 90, Almoço de antigos comandantes. manutenção, a novos mé-
à substituição do baticelerímetro, do inter- materiais, sem outras consequências que todos de operação e a novas facilidades pro-
ceptador-analisador sonar e do radar, para as directamente resultantes do embate. De porcionadas pela tecnologia introduzida, e
além de outras pequenas modificações, sem registar que o navio regressou ao porto pe- também se conseguiu melhorar o produto
no entanto ser alvo de uma modernização los próprios meios, com a guarnição devi- operacional, nomeadamente em acções de
profunda. damente formada e em boa ordem, apesar vigilância discreta.
18 AGOSTO 2008 U REVISTA DA ARMADA