Page 280 - Revista da Armada
P. 280

Para esta condição de carga do navio  casco convencional) é uma sinusóide de  ponde a uma aproximação credível do va-
         (1350 ton e GM=1,015m) e estas condições  amplitude sucessivamente decrescente.  lor real do navio, para a condição de carga
         de mar (T=8s) a ressonância (frequência de   A determinação da altura metacêntrica  na altura.
         excitação = frequência natural de oscilação  transversal GM de um navio revela-se de   Com o acesso a determinados dados sobre
         do navio) ocorre quando o ângulo entre na-  grande importância como medida da es-  cada classe de navios, como por exemplo,
         vio e ondas = 110° ou 250°, para uma velo-  tabilidade estática, pois é um factor que  informação sobre as curvas hidrostáticas e
         cidade do navio de 10 nós, ou seja, o navio  mede a resposta do navio quando sujeito a  as curvas de estabilidade iniciais de projec-
         oscilará com amplitudes cerca de 3,8 vezes  cargas dinâmicas. Quando o navio está no  to para diversas condições de carga, com
         maiores do que oscilaria em condições nor-  mar, ele é sujeito à acção das ondas marí-  e sem acção do vento, informação sobre a
         mais sem ressonância.              timas, assim como do vento, que causam  compartimentação, e dos critérios de esta-
                                            movimentos de adornamento, arfagem e ca-  bilidade para o tipo de navios em estudo, é
         CONCLUSÕES                         beceio, ou uma combinação infinita destes  possível, com este processo, redesenhar as
           As vibrações e oscilações em navios ocor-  movimentos, em que o movimento resultan-  curvas de estabilidade (adornamento vs bra-
         rem sempre que existam forças dinâmicas,  te pode ser bastante severo.  ço endireitante), determinar as condições em
         isto é, forças que variam ao longo do tempo   Como resultado, a medição dinâmica da  que ocorre o fenómeno da ressonância, de-
         e que actuam no casco do navio e respectivos  altura metacêntrica transversal GM, atra-  terminar a reserva de estabilidade transversal
         apêndices ou em determinados elementos es-  vés da leitura do período de adornamento  disponível e efectuar a comparação com os
         truturais. A resposta da estrutura do navio irá  T, bem como do adornamento do navio,  critérios de estabilidade para cada categoria
         depender da intensidade das forças de excita-  torna-se útil para a avaliação, em tempo  de navio (auxiliar ou combatente).
         ção e das características da sua estrutura.  real, da segurança do navio, das pessoas e               Z
           O movimento livre de um sistema sub-  da carga a bordo.                                 M. José Américo
         -amortecido (caso dos navios com mono-  Ou seja, o valor calculado de GM corres-                 CFR EMQ



                                   O “e” copulativo
                                    O “e” copulativo

              cabei a minha carreira militar, em  são, eu disse já não sei o quê e o Avelino  sem dúvida, o meu caso. A tal regra é co-
              Paris, exercendo as funções de  disparou: “Escreva isso!” E eu respondi:  meçar pela consulta de uma enciclopédia
         AAdido Naval. Além do privilégio  “Escrever o quê?” “ O que acaba de di-  onde, por vezes, encontramos uma pista
         de viver numa bela capital europeia, tive  zer!” E foi assim que, bem ou mal, nunca  aceitável. Foi o que fiz e, caro leitor, veja-
         a oportunidade de fazer amizade com  mais parei de escrever.          -se o que nos diz a “Luso-Brasileira”:
         François Bellec, que tinha acabado de   Dentro desta minha actividade, em que   A conjunção copulativa usa-se em prin-
         ser nomeado director do Museu de Mari-  tenho tentado divulgar alguns aspectos da  cípio de frase, assim como: “E, pronto! E,
         nha. Bellec, além de oficial de Marinha,  contribuição portuguesa para a Descober-  acabou-se!”
         era pintor de mérito e estudioso da Histó-  ta do Mundo, em especial no que respeita   Adivinha o leitor quem assim escreve?
         ria da Navegação, sobre a qual tem vasta  a instrumentos de navegação, participei  O padre António Vieira, num dos seus
         obra publicada.                    em numerosos encontros, em Portugal e  Sermões. Mas há mais: Camilo Castelo
           Uma das preocupações de Bellec era  no estrangeiro. Num deles, que se reali-  Branco, em Lágrimas abençoadas, segue
         valorizar, naquele belo Museu, a impor-  zou numa bela cidade do Brasil aconte-  nas mesmas águas e diz:
         tância que a navegação teve na Descober-  ceu algo de insólito que gostaria de parti-  “E alta noite fui acordado em sobressal-
         ta do Mundo. Passámos longas horas con-  lhar com os leitores desta Revista.  to pelo meu hóspede.”
         versando sobre este apaixonante assunto,   Essa reunião desenrolou-se numa das   Fiquei, então, a saber que não sou só
         muitas vezes na sua residência de função  Universidades, da referida cidade, be-  eu quem escreve em mau português. Te-
         que era – não se acredita – por cima do  lamente organizada pelo professor John  nho boa companhia. E, como achei que
         próprio Museu que está instalado numa  Smith, mas tenho de confessar que não é  poderia fazer algo para melhorar o nosso
         das alas do Palácio de Chaillot, exacta-  este o seu nome e, por isso, lamento o fac-  pobre idioma, enviei ao meu amigo Smi-
         mente, no coração de Paris.        to de o ter esquecido. Smith tinha nascido  th, uma simpática carta em que prometia
           Quando regressei a Lisboa – estáva-  nos Estados Unidos mas desembaraçava-  não tornar a usar o “e” copulativo no prin-
         mos no ano de 1980 – o Almirante Ricou,  -se bem em português.        cípio de frase. Pedia-lhe, no entanto, en-
         com quem tinha passado largos anos nos   Algum tempo depois de ter regressado  carecidamente, que me ajudasse a pedir,
         draga-minas,  desafiou-me para ir para o  a Lisboa, mandei a minha comunicação  aos responsáveis pelas próximas edições
         Museu de Marinha, onde fui ocupar um  escrita, para efeitos de publicação, ten-  de Vieira e de Camilo, que arrancassem
         lugar inventado, o de adjunto de director,  do recebido de Smith, dois reparos. Um  aquela conjunção quando em tão desa-
         para não retirar o Comandante António  deles resolvi-o facilmente mas, quan-  gradável situação.”
         Cardoso das suas funções de sub-director.   to ao outro, fiquei perplexo. De facto,   Smith respondeu-me de pronto e foi
         Infelizmente, um deplorável acidente de  John, depois de, simpaticamente, elogiar  simpático. Afirmou-me que continuava a
         viação não permitiu que tornasse a ver o  o meu texto, dizia-me que achava incor-  não concordar com o uso do “e” em tais
         velho amigo Emmanuel.              recto o uso do pronome “e” no princípio  condições mas, generosamente, prontifi-
           Entre as actividades que tive no Museu  das frases. E, por isso, não fez cerimónia:  cou-se a aceitar o meu texto inicial se eu,
         fiz parte da Comissão Técnica Consultiva,  rapou-os todos.             assim, o desejasse. Todavia, no que dizia
         que se debruçava sobre os mais variados    Além de perplexo fiquei, também, de-  respeito à minha sugestão de procurar eli-
         assuntos e onde eu tinha como compa-  solado. Será que escrevo assim, tão mal, a  minar tão amargos erros em futuras edi-
         nheiros, já infelizmente desaparecidos, o  língua portuguesa que até um estrangeiro,  ções de Vieira e de Camilo… ainda não
         Lixa Filgueiras, o Quirino da Fonseca e o  me emenda? Que fazer?      me respondeu. Vá lá perceber porquê.
         Avelino Teixeira da Mota. Muito aprendi   Lembrei-me de uma regra seguida por                         Z
         com eles. Mas quero especialmente referir  aqueles que têm de investigar um tema    António Estácio dos Reis
         que, numa das reuniões daquela comis-  acerca do qual pouco ou nada sabem. Era,                     CMG

         26  AGOSTO 2008 U REVISTA DA ARMADA
   275   276   277   278   279   280   281   282   283   284   285