Page 118 - Revista da Armada
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A Esquadra em Exercícios
A Esquadra em Exercícios
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ealizou-se, entre os passados que quer, mas aqueles de que necessita para a Marinha não dispõe de um porta-aviões é
dias…”, é a forma normalmente cumprir as missões que lhe são confiadas. porque se trata de um meio dispendioso. Na
“Rseguida para iniciar os artigos que E se aqueles meios materializam um deter- realidade, será mais correcto admitir que tal
descrevem exercícios em que participam os minado conjunto de valências, face às suas acontece porque, sendo um meio de carac-
navios da Marinha. Desta vez, porém, pro- características de robustez, sustentação, sis- terísticas marcadamente ofensivas, ele não
ponho ao leitor uma abordagem diferente: temas de armas e sensores, etc., as linhas de se insere dentro da nossa postura estratégi-
convido-o a seguir a metodologia que está acção que seguimos são ditadas pela forma ca (sirva o exemplo para ilustrar a lógica a
por detrás do desenho do que aludo, sem prejuízo de
próprio exercício. Pretendo outros juízos que se possam
sobretudo contribuir para fazer em torno do caso parti-
que exista uma maior com- cular dos porta-aviões).
preensão sobre as razões de Na sequência da dedu-
seguirmos determinadas li- ção anterior, à qual acres-
nhas de acção, responden- ce um todo de variáveis que
do a questões que, porven- não cabe aqui enumerar,
tura, já terá colocado a si chega-se à configuração do
próprio: sistema de forças da Mari-
- Porque nos mantemos fo- nha, ou seja, ao conjunto de
cados em acções que se ins- meios de que vamos dispor.
crevem em empenhamentos Mas para que um exercício
fora do nosso espaço de res- possa ser consequente, pre-
ponsabilidade (entendendo- parando as unidades para
-o como o que se circunscre- aquilo que se espera que a
ve ao espaço inter-territorial Marinha, no plano das ope-
e às águas sob responsabilidade e jurisdição como exploramos tais capacidades para se rações, consiga realizar, importa saber:
nacional); maximizarem os resultados que pretende- - “o que defender”, porque se trata de um
- Qual é a lógica de continuarmos a trei- mos alcançar. vector fundamental para enquadrar e definir
nar as disciplinas tradicionais da guerra no Se pensarmos que as capacidades dos nos- as diferentes missões;
mar (anti-submarina, anti-superfície e anti- sos navios são limitadas, uma vez que na sua - “onde defender”, porque nos permite ca-
-aérea); maioria se destinam à defesa própria (possi- racterizar os teatros de operações e identificar
- Qual é a utilidade de navios com as (redu- bilitando, nalguns casos pontuais, também a as características dos meios a empregar;
zidas) capacidades das corvetas (e, por ana- defesa das unidades em companhia), quando - “como defender”, porque nos possibilita
logia, dos futuros Navios de Patrulha Oceâ- existem alternativas que conferem a determi- reconhecer a forma de empregar e de articu-
nica - NPO) para missões de natureza militar nadas unidades uma capacidade mais ofen- lar os meios, e de melhor explorar as respec-
como as que treinamos nos exercícios das siva (por exemplo os mísseis Tomahawk que tivas capacidades.
séries INSTREX e CONTEX. permitem realizar ataques contra alvos em Relativamente à primeira interrogação, e
terra a grande distância), teremos de aceitar fazendo uso de uma linguagem simplista,
O ENQUADRAMENTO que tal opção se insere numa qualquer lógi- poderemos afirmar que outrora se defendiam
ca. De facto, mais do que uma razão de na- territórios, sistemas políticos, etc. Hoje, fala-
Não querendo elaborar em profundidade tureza financeira, ela assenta num conceito e mos mais da defesa de interesses, dos valo-
sobre matérias de natureza estratégica, é, no numa postura estratégica de cariz defensivo, res universais, da segurança de espaços co-
entanto, importante compreender que o pla- a qual se constitui como uma das pedras ba- muns… (esqueçamos por agora, por nada
neamento militar é condicionado, e nortea- silares da nossa acção no plano militar. E o acrescentar ao propósito do artigo, a questão
do, por grandes linhas condutoras que são tipo de navios de que a Marinha dispõe terá religiosa ou a civilizacional, ora tão em voga
estabelecidas ao mais alto nível. Podemos de ser coerente com tal raciocínio. Ou seja, quando se discutem estes assuntos. Também
assim dizer que a Marinha não tem os meios não é linear concluir que a razão pela qual não me debruço sobre a “salvaguarda da vida
8 ABRIL 2009 U REVISTA DA ARMADA