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A Esquadra em Exercícios
                           A Esquadra em Exercícios

                                                INSTREX 0109

                 ealizou-se, entre os passados  que quer, mas aqueles de que necessita para  a Marinha não dispõe de um porta-aviões é
                 dias…”, é a forma normalmente  cumprir as missões que lhe são confiadas.  porque se trata de um meio dispendioso. Na
         “Rseguida para iniciar os artigos que  E se aqueles meios materializam um deter-  realidade, será mais correcto admitir que tal
         descrevem exercícios em que participam os  minado conjunto de valências, face às suas  acontece porque, sendo um meio de carac-
         navios da Marinha. Desta vez, porém, pro-  características de robustez, sustentação, sis-  terísticas marcadamente ofensivas, ele não
         ponho ao leitor uma abordagem diferente:  temas de armas e sensores, etc., as linhas de  se insere dentro da nossa postura estratégi-
         convido-o a seguir a metodologia que está  acção que seguimos são ditadas pela forma  ca (sirva o exemplo para ilustrar a lógica a
         por detrás do desenho do                                                          que aludo, sem prejuízo de
         próprio exercício. Pretendo                                                       outros juízos que se possam
         sobretudo contribuir para                                                         fazer em torno do caso parti-
         que exista uma maior com-                                                         cular dos porta-aviões).
         preensão sobre as razões de                                                           Na sequência da dedu-
         seguirmos determinadas li-                                                        ção anterior, à qual acres-
         nhas de acção, responden-                                                         ce um todo de variáveis que
         do a questões que, porven-                                                        não cabe aqui enumerar,
         tura, já terá colocado a si                                                       chega-se à configuração do
         próprio:                                                                          sistema de forças da Mari-
           - Porque nos mantemos fo-                                                       nha, ou seja, ao conjunto de
         cados em acções que se ins-                                                       meios de que vamos dispor.
         crevem em empenhamentos                                                           Mas para que um exercício
         fora do nosso espaço de res-                                                      possa ser consequente, pre-
         ponsabilidade (entendendo-                                                        parando as unidades para
         -o como o que se circunscre-                                                      aquilo que se espera que a
         ve ao espaço inter-territorial                                                    Marinha, no plano das ope-
         e às águas sob responsabilidade e jurisdição  como exploramos tais capacidades para se  rações, consiga realizar, importa saber:
         nacional);                         maximizarem os resultados que pretende-  - “o que defender”, porque se trata de um
           - Qual é a lógica de continuarmos a trei-  mos alcançar.            vector fundamental para enquadrar e definir
         nar as disciplinas tradicionais da guerra no   Se pensarmos que as capacidades dos nos-  as diferentes missões;
         mar (anti-submarina, anti-superfície e anti-  sos navios são limitadas, uma vez que na sua   - “onde defender”, porque nos permite ca-
         -aérea);                           maioria se destinam à defesa própria (possi-  racterizar os teatros de operações e identificar
           - Qual é a utilidade de navios com as (redu-  bilitando, nalguns casos pontuais, também a  as características dos meios a empregar;
         zidas) capacidades das corvetas (e, por ana-  defesa das unidades em companhia), quando   - “como defender”, porque nos possibilita
         logia, dos futuros Navios de Patrulha Oceâ-  existem alternativas que conferem a determi-  reconhecer a forma de empregar e de articu-
         nica - NPO) para missões de natureza militar  nadas unidades uma capacidade mais ofen-  lar os meios, e de melhor explorar as respec-
         como as que treinamos nos exercícios das  siva (por exemplo os mísseis Tomahawk que  tivas capacidades.
         séries INSTREX e CONTEX.           permitem realizar ataques contra alvos em   Relativamente à primeira interrogação, e
                                            terra a grande distância), teremos de aceitar  fazendo uso de uma linguagem simplista,
         O ENQUADRAMENTO                    que tal opção se insere numa qualquer lógi-  poderemos afirmar que outrora se defendiam
                                            ca. De facto, mais do que uma razão de na-  territórios, sistemas políticos, etc. Hoje, fala-
           Não querendo elaborar em profundidade  tureza financeira, ela assenta num conceito e  mos mais da defesa de interesses, dos valo-
         sobre matérias de natureza estratégica, é, no  numa postura estratégica de cariz defensivo,  res universais, da segurança de espaços co-
         entanto, importante compreender que o pla-  a qual se constitui como uma das pedras ba-  muns… (esqueçamos por agora, por nada
         neamento militar é condicionado, e nortea-  silares da nossa acção no plano militar. E o  acrescentar ao propósito do artigo, a questão
         do, por grandes linhas condutoras que são  tipo de navios de que a Marinha dispõe terá  religiosa ou a civilizacional, ora tão em voga
         estabelecidas ao mais alto nível. Podemos  de ser coerente com tal raciocínio. Ou seja,  quando se discutem estes assuntos. Também
         assim dizer que a Marinha não tem os meios  não é linear concluir que a razão pela qual  não me debruço sobre a “salvaguarda da vida
























         8  ABRIL 2009 U REVISTA DA ARMADA
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